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Fonte para a história do Convento da Penha e de Frei Pedro Palácios

Capa do Livro: Fonte para a História do Convento da Penha e de seu Fundador, Frei Pedro Palácios - Autor: Getúlio Marcos Pereira Neves

No ano de 1558 chegava às costas do Espírito Santo o irmão leigo franciscano Frei Pedro Palácios. Era natural de Medina do Rio Seco, muito próximo a Salamanca, em Castela, aonde tomou o hábito da Ordem Franciscana, Aqui realizou trabalhos de evangelização junto à população e principalmente instituiu nestas terras a fé em Nossa Senhora, trazendo consigo um painel que retrata Nossa Senhora dos Prazeres, cultuada, no calendário da Igreja Católica, na segunda-feira depois da Dominga in Albis. Fundando a capela de São Francisco no alto de um monte, à esquerda da entrada da baía, pretendeu iniciar a capela de Nossa Senhora sobre a penha, como a da Senhora da Penha de Sintra. Consta que foi desta localização da capela que surgiu a denominação Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo, como tantas outras Senhoras da Penha há (Penha Longa, Penha de Sintra, no concelho de Sintra); Penha de França (na freguesia de mesmo nome, em Lisboa) – embora alguns autores sugiram outras versões derivando a denominação Penha de Pena, enxergando o motivo das alegrias (ou prazeres) de Nossa Senhora nas dores (ou penas) da vida consagrada.

De qualquer maneira, a repercussão da santidade da vida de Frei Pedro Palácios levou ao desejo pela Ordem Franciscana de postular sua canonização, ainda no século XVII, pelo que foi mandado formar o processo para colher depoimentos acerca de suas obras e seus alegados milagres (o que teve início em 27/06/1616, sendo Custódio Frei Vicente do Salvador). A formação do processo ficou a cargo do então Administrador do Convento de São Francisco de Vitória, Matheus da Costa Amorim. Este processo infelizmente não chegou aos nossos dias, extraviado quando da desocupação do Convento de São Francisco de Vitória, mas serviu de fonte direta para o registro dos três primeiros biógrafos de Frei Pedro Palácios e cronistas dos primórdios do Convento da Penha que se tem notícia: Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, autor do Novo Orbe Seraphico Brasílico, ou Chronica dos Frades Menores da Província do Brasil, editado em Lisboa, ,em 1761, de que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mandou tirar a primeira edição brasileira em 1858; Frei Apolinário da Conceição, autor da Primazia Seraphica na Regiam da America, editado em Lisboa, em 1733 e Frei Antônio da Piedade, autor do Espelho dos Penitentes e Chronica da Província de Santa Maria da Arrábida, editado em Lisboa, em 1728.

Desses, Jaboatão e Piedade tiveram acesso direto aos depoimentos colhidos no processo de canonização de Frei Pedro Palácios, enquanto que Conceição parece ter-se utilizado do texto de Piedade.

 

O presente texto:

 

O texto que ora se apresenta foi extraído do Espelho dos Penitentes e Chronica da Província de Santa Maria da Arrábida, obra em dois volumes, de 19 cms, composta nas Oficinas de José Antônio da Silva, em 1728. Os exemplares encontram-se em bom estado de conservação, acessíveis na Biblioteca Nacional de Lisboa sob a cota H. G. 967 A e H. G. 968 A e sob acesso restrito, no setor de manuscritos, sob a cota F.G. 170.

Trata-se de crônica da Província Franciscana da Arrábida, que tem sua sede na serra portuguesa de mesmo nome, na península de Setúbal, ao sul de Lisboa. Na Biblioteca Lusitana, de 1741, a obra está resenhada como contendo “os princípios da Reforma, os Varões insignes que nela floresceram, as fundações dos Conventos de que se forma e os privilégios e benefícios que recebeu da munifiência dos Reys Portugueses, e sereníssimos Duques de Bragança”.

O autor da crônica, Frei Antônio da Piedade, era natural de Santarém e nasceu a 25/10/1675, tendo tomado o hábito da Ordem Franciscana aos 20 anos de idade, no Convento de Nossa Senhora da Conceição de Alferrara, próximo a Setúbal, em 13/05/1696. Foi Lente de Teologia, Qualificador do Santo Ofício, Visitador da Província de Santo Antônio e evidentemente cronista da sua Província da Arrábida, tendo falecido no Hospital de Lisboa a 20/12/1731, aos 56 anos de idade e 36 de vida religiosa.

Frei Pedro palácios, embora tenha tomado o hábito de frade leigo na então Custódia de São José de Castela, incorporou-se à Província da Arrábida e é venerado na obra de Piedade como um dos mais ilustres filhos, dando conta da repercussão que teve sua vida e sua obra nestas terras do Espírito Santo.

O texto referente a Frei Pedro Palácios e ao Convento da Penha do Espírito Santo encontra-se no primeiro tomo do Espelho dos Penitentes, dos parágrafos 601 a 617, pp. 492 a 503, e cobre dois capítulos: o Capítulo XL trata “Da vida do Servo de Deus Frei Pedro Palácios, com uma breve relação do Estado do Brasil”, onde registra os primeiros religiosos a chegarem ao Brasil, todos franciscanos, tendo sido o primeiro Frei Henrique Soares de Coimbra, posteriormente bispo de Ceuta. Relaciona, ainda, a vida religiosa de Frei Pedro Palácios antes de sua chegada ao Espírito Santo.

No Capítulo XLI “Desembarca o Servo de Deus Frei Pedro na Capitania do Espírito Santo; virtuosas operações até a sua morte; e milagres, que depois dela obrou com o contacto com suas Relíquias”. Da narração de sua vida e hábitos, obras e a opinião que dele tinham, dos parágrafos 608 a 611, segue-se a notícia da fundação da Ermida e da instituição da Festa da Penha, nos parágrafos 612 a 614. O parágrafo 615 faz menção a seu sepultamento, enquanto que o parágrafo 616 narra a sorte da Ermida e Capela após a morte de Frei Pedro Palácios. Por último, o parágrafo 617 dá notícia do traslado das suas Relíquias para o Convento de São Francisco, na então Vila de Vitória, e os prodígios obrados pelo contato delas – a que, aliás, faz menção Frei Vicente do Salvador, em seu História do Brasil.

 

Conclusão:

 

A importância do resgate deste texto reside na possibilidade que oferece de cotejar a versão já anteriormente divulgada dos primórdios do Convento da Penha e da vida de seu fundador – devida a Jaboatão – a esta, mais antiga, publicada anteriormente e também notadamente elaborada através de contato com as fontes primárias – devida a Piedade. Neste texto, ainda, a admiração que despertava a vida e obra de Frei Pedro palácios entre seus irmãos da Província franciscana além-mar de onde era oriundo, um século após sua morte, dando conta do culto de sua memória fora dos limites territoriais da Província brasileira – o que atesta a grandeza de sua obra.

Agradeço aos funcionários da Biblioteca Nacional de Lisboa, sempre gentis no trato com pesquisadores, principalmente estrangeiros, e principalmente brasileiros, e ao Conselho Editorial do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, que me incumbiu da apresentação do texto que ora reproduzimos.

 

Praia da Costa, setembro de 2002.

 

Fonte: Memórias da Ilha de Vitória - Fonte para a História do Convento da Penha e de seu fundador Frei Pedro Palácios, 2002
Autor: Getúlio Marcos Pereira Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2012 



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