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A Viagem do Imperador Pedro II à Província do Espírito Santo

D. Pedro II (1861) [Iconográfico] - Autor: Alphonse-Léon Noël

Muito honrado foi que recebi o convite do presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, professor Arno Wehling, e do diretor do Museu Imperial, professor Maurício Vicente Ferreira Júnior, para nesta 8ª sessão itinerante da CEPHAS, dizer algumas breves palavras sobre a visita do Imperador D. Pedro II à província do Espírito Santo, no bojo da viagem que no recesso legislativo de 1859/1860 fez às províncias ao norte do Rio de Janeiro.

Os motivos e as circunstâncias dessa viagem efetuada pelo Imperador já foram mais do que estudados e debatidos — eu diria dissecados — pelos jornais e pela opinião pública contemporâneas aos fatos, por estudiosos e por curiosos, ao longo dos tempos. O mínimo que podemos dizer, para não nos determos, é que D. Pedro II teve o propósito declarado de conhecer de perto as terras do seu Império e as condições de vida de seus súditos. Aos 35 anos de idade, estava ele no auge da vitalidade, que lhe seria muito exigida nos quase quatro meses e meio em que se ausentou da Corte naquele verão de 1859/1860, mais precisamente de 01 de outubro de 1859 a 11 de fevereiro de 1860, na sua segunda viagem às províncias do Império (a primeira se deu, em 1845, às províncias do sul).

De fato, assim anunciava ele a viagem, na fala com que encerrou a sessão legislativa da Assembleia Geral, a 11 de setembro de 1859:

“Para melhor conhecer as províncias do meu Império, cujos melhoramentos morais e materiais são o alvo de meus constantes desejos e dos esforços do meu governo, decidi visitar as que ficam ao Norte da do Rio de Janeiro”

e prosseguia, lamentando que

“a estreiteza do tempo que medeia entre as sessões legislativas me obrigue a percorrer somente as províncias do Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba”

Um relato dessas viagens pelo Brasil se vê no texto Viagens de D. Pedro II, de Rodolfo Garcia, publicado no tomo 98 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1925, no centenário de nascimento do Imperador. A cronologia da viagem é a seguinte: partindo do Rio de Janeiro a 01 de outubro, a 06 estava na Baía, de onde partiu a 19 de novembro, tendo chegado a 22 a Pernambuco. Ali permaneceu até 24 de dezembro, quando partiu para a Paraíba, onde aportou no mesmo dia. No dia 30 zarpou em direção a Alagoas, chegando a Maceió a 31. A 11 de janeiro chegava a Aracaju, onde ficou até 21, tendo chegado a 22 a Valença, na Baía. Aportou em Vitória a 26 de janeiro, e estava de volta à Corte a II de fevereiro.

Foram, portanto, 15 dias em terras capixabas.

Dos preparativos para a viagem — despesas, a composição da esquadra e os comandos de cada embarcação, o pessoal de serviço e acompanhantes dos imperadores e outros detalhes — sabemos pelos Livros da Mordomia. Dos detalhes sobre Os locais visitados, resultados das inspeções nos órgãos e repartições públicas e impressões pessoais de D. Pedro II sabemos por meio de suas anotações, nos Diários e cadernetas onde anotava obsessivamente o que considerava mais relevante. Das recepções por onde chegava, das reações das pessoas, sabemos por meio do relato dos jornais locais e dos correspondentes dos jornais da Corte que acompanharam a viagem, dada a notória discrição do Imperador.

Constituindo, então, essas anotações de próprio punho, registros privilegiados da viagem, convém relembrarmos que se trata de anotações rápidas feitas por D. Pedro II, o mais das vezes sem o conforto de uma mesa para apoio. Organizando o Diário da Viagem ao Norte do Brasil, da Livraria Progresso Editora, de Salvador, publicado em 1959, Lourenço Luiz Lacombe assim aprecia os escritos: "A caligrafia de D. Pedro II não prima pela nitidez de traço. A frase mesmo, nem sempre é perfeita; a expressão é, muitas vezes, repetida; a palavra truncada". Mas, fazendo justiça, esclarece a seguir: "São, aliás, como já disse, simples notas apressadas de um chefe de estado, tomadas ao correr da viagem".

Essas notas de D. Pedro II foram passadas a limpo com relação às províncias de Pernambuco e Bahia. Nesse trabalho, as referências do autor sobre certas pessoas e instituições foram "melhoradas", provavelmente porque o Imperador previsse uma possível publicidade indesejada sobre os escritos. Já as notas referentes ao retorno à Bahia e à ida ao Espírito Santo encontram-se no original, constituem "apontamentos telegráficos", como os tachou o mesmo Lourenço Lacombe; isto é, não foram passados a limpo. Assim, como as demais, também as notas referentes a essa etapa da viagem se devem à transcrição paciente que delas fez Maria Conceição Moniz de Aragão, tendo sido posteriormente publicadas pelo Museu Imperial, juntamente com os demais volumes.

No nosso caso, no caso da estadia no Espírito Santo, sobre elas se debruçou pacientemente o pesquisador Levy Cúrcio da Rocha, associado ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e membro da Academia Espírito-santense de Letras. Levy Rocha é autor do mais completo relato da viagem imperial às terras capixabas, o volume Viagem de D. Pedro II ao Espírito Santo, publicado originalmente em 1960, como separata da Revista do IHGB n.° 246, e de que foi impressa uma terceira edição, em 2008, pelo Governo do Estado do Espírito Santo.

Num breve parêntese, registro que o pesquisador Levy Rocha nasceu em 1916 no município de Muqui, próximo a Cachoeiro do Itapemirim, região sul do Espírito Santo. Farmacêutico, viveu no Rio de Janeiro e em Brasília. Tem outros livros publicados sobre temas espírito-santenses, entre eles o Viajantes estrangeiros no Espírito Santo (1971).

Voltando ao tema central da exposição. Vindos de Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe, o que veriam Suas Majestades Imperiais e comitiva, na província do Espírito Santo?

Vitória em 1860 compunha-se de "trinta e uma ruas, sete ladeiras, oito becos, quatro praças e outros tantos largos, formados pelos trezentos e setenta sobrados e setecentas e tantas casas térreas", descrição de Rocha. Ainda nas palavras do pesquisador:

“Havia uma indústria da pesca desenvolvida, com duas dezenas de lanchas que iam pescar em alto-mar, nos Abrolhos e em Cabo Frio, demorando-se dias para regressar ao porto trazendo os peixes salgados. A carne verde, porém, escasseava, pois as reses sacrificadas nunca satisfaziam o consumo. Havia uma padaria explorada por um cidadão francês, o Sr. Penaud, mas o pão do pobre, o lastro da sua alimentação, era a farinha de mandioca ou o fubá de milho.”

A população do entorno da Capital era de aproximadamente 15.000, mas a da cidade de Vitória, especificamente, andava à volta dos cinco mil habitantes. O Imperador não esteve só na Capital, tendo visitado também Vila Velha, do outro lado da baía de Vitória, e o Convento da Penha, e também as colônias imperiais de Santa Leopoldina e Santa Isabel. A 1º de fevereiro partiu rumo ao norte, à região do Rio Doce, visitando no caminho as povoações de Serra, Nova Almeida, Santa Cruz e Linhares (o antigo forte de Coutins, rebatizado em homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares), onde foi à Lagoa Juparanã, retornando logo depois a Vitória. Rumo ao sul, à localidade de Itapemirim, visitou Guarapari, onde se avistaria com o primo, o Arquiduque Maximiliano da Áustria, prosseguindo ambos para a então Benevente (hoje Anchieta, onde se situa o Santuário Nacional de São José de Anchieta); na Vila do Itapemirim inspecionou ainda a colônia de Rio Novo. De todas as povoações relevantes à época da viagem, só não visitou São Mateus, ao norte. Especula-se se pela premência de tempo ou se por receio da epidemia de varíola que se abatera sobre a cidade no ano anterior, causando muitas mortes. Na apreciação ao texto de Levy Rocha, o historiador Fernando Achiamé refere alguns aspectos que se podem ter em conta do estudo das notas de viagem do Imperador:

“A partir desta visão de Levy Rocha, podemos ter diferentes leituras do Diário de Pedro II, e nos encontrarmos com diversas "personagens" do imperador. Em alguns trechos, é o contido Pedro que expressa seus sentimentos — por exemplo, ao se referir à paisagem do litoral no caminho para o rio Doce: "A praia antes do riacho Sauí que só em maré baixa dá vau, parece-se com a de Itapuca, por causa das pedras, e muitas saudades me fez". O homem Pedro está presente também em outras passagens, como naquela em que registra o nome anhiknhik — dado pelos botocudos a um macaquinho de cara branca e apresentado em Linhares aos componentes da comitiva —, nome com o qual eles de imediato apelidaram o visconde de Sapucaí. De maneira telegráfica, "assim chamaram logo ao Sapucaí", Pedro registrou o clima de gozações e brincadeiras de simples brasileiros adultos que compartilhavam os prazeres e distrações de uma excursão por recantos pitorescos. Em reiteradas ocasiões, no entanto, o Diário nos revela o "professor" Pedro de Alcântara, mestre-escola frustrado, e que sempre se preocupa com o nível e qualidade do ensino ministrado nas escolas do império [...]”

E prossegue:

“Em muitas outras passagens, pode-se testemunhar com nitidez a atuação do "Doutor" Pedro de Alcântara Bragança, de que nos dá mostra a atitude de trocar um passeio ao longo da baía de Vitória [que o presidente da província lhe havia preparado] pelo registro do vocabulário praticado por remanescentes de índios puri, trazidos até a capital capixaba, mas que viviam confinados no Aldeamento Imperial Afonsino, em terras hoje situadas, grosso modo, no município de Conceição do Castelo [distante aproximadamente 140km da Capital].”

Essa apreciação das notas de D. Pedro II põe em relevo alguns aspectos de sua personalidade já conhecidos, mas que ficam aqui devidamente reforçados. Como notou Achiamé, é bem provável que o Imperador tivesse consciência de estar registrando uma realidade social fadada a uma (já a altura) rápida transformação.

Feitas essas breves considerações sobre o conteúdo dos registros do Imperador na viagem ao Espírito Santo, devemos nos perguntar qual a consequência (ou quais as consequências) da viagem, para a província do Espírito Santo e para os espírito-santenses.

É fato que a viagem deu um inédito impulso ao desenvolvimento da província. Não nos detendo, aqui, sobre números e estatísticas, a afirmação fica evidente pelo fato de que, para contornar a situação de indigência dos cofres públicos, houve necessidade de uma convergência de esforços e de fazendas particulares para "arrumar a casa", literalmente falando, para receber condignamente suas Majestades e comitiva no palácio do governo, o hoje Palácio Anchieta. O que se fez pelas grandes lideranças políticas da região de Itapemirim, inobstante a situação política contemporânea - na, palavras do imperador: "as intrigas andam tão acesas aqui..:'

É que, no ofício recebido pelo presidente da província, dr. Pedro Leão Veloso, do Ministério dos Negócios do Império, dando conta da visita, constava recomendação expressa para que eventuais gastos que se fizessem em homenagem a Suas Majestades fossem antes empregados para o bem das localidades:

“É muito provável que visite as Colônias e as povoações mais notáveis dessa Província e porque os seus habitantes podem querer fazer gastos extraordinários para solenizarem tão honrosa visita, é meu dever prevenir a V. Exa. de que conquanto S.M. o Imperador aprecie devidamente todas estas demonstrações, seria muito do Imperial Agrado, que os donativos com que desejarem concorrer para tal fim possam ser aplicados a benefício das localidades, que o mesmo Augusto Senhor visitar.”

O que gerou, da parte do Presidente da Província, o seguinte ofício endereçado às Câmaras Municipais:

“Será de muito agrado de S.S. M.M. I.I. ver que essa Câmara, zelosa dos interesses de seu município, lhe promove benefícios, cuidando principalmente de conservação e melhoramento de suas estradas; cumpre portanto que Vmcês. convocando seus habitantes façam-lhes efetivo o dever que têm de trazerem limpas e melhoradas as que atravessam pelos respectivos terrenos.”

Ao Imperador parecia interessar de maneira especial o exame das condições das colônias, tendo visitado as três então existentes. Talvez para se certificar pessoalmente sobre o seu estado, havendo notícias de que essas condições não eram boas. Como referido, visitou Santa Isabel e Santa Leopoldina, colônias oficiais, na região serrana central, e Rio Novo, colônia particular, na região sul. Coincidentemente ou não, logo após a viagem de D. Pedro II chegou ao Espírito Santo o fotógrafo francês Victor Frond, que fez fotos da Capital e do interior da província, notadamente das colônias, lugares onde o Imperador tinha estado. O jornalista e pesquisador Gilmar Francischetto, diretor do Arquivo Público Estadual do Espírito Santo e responsável por identificar essas fotos no acervo do Arquivo Nacional, diz a respeito:

“É plausível que, após visitar as colônias, o imperador e seus ministros, ao perceberem o progresso ali verificado, a grande quantidade de terrenos disponíveis para a colonização e o avanço que a imigração poderia trazer à Província, tenham resolvido investir em sua divulgação, contratando os serviços fotográficos de Frond. Na época, as colônias do Espírito Santo gozavam de má reputação, devido à total falta de infraestrutura, e encontravam resistências junto aos colonos que tinham um conceito muito negativo sobre a situação das mesmas [...].”

Esse conceito negativo, aliás, seria endossado pelo Barão von Tschudi, que em outubro do mesmo ano de 1860 visitaria as três colônias capixabas, como enviado extraordinário da Confederação Helvética, tendo entrevistado as famílias de suíços nelas estabelecidas. De referir, ainda, a ida do Imperador à região do Rio Doce, que à época marcava o limite norte do povoamento do território do Espírito Santo, daí abstraída a Vila de São Mateus, a que já nos referimos.

A região do Rio Doce tinha forte apelo, no mínimo entre naturalistas, porque na época vagavam pela região os nativos chamados de botocudos. Além disso, às margens do Rio Doce, na região onde hoje se localiza a cidade de Colatina, deu-se em 1857 a primeira experiência particular de colonização no Espírito Santo, a colônia de Fansilvânia, tocada pelo dr. Nicolau Rodrigues dos Santos França Leite. Os 48 colonos que inicialmente lá se assentaram dependiam de provimentos, que vinham pelo rio, e em face do isolamento estavam expostos a ataques indígenas, o que de fato aconteceu. Também daqui cremos ficar patente o interesse do Imperador nos assuntos referentes à colonização naquela região do Império.

Pela região estivera, no ano anterior, o presidente da província, Pedro Leão Veloso, que, alertado pelo ofício de 5 de setembro, no mesmo mês de 1859 percorreu os locais por onde haveria de passar D. Pedro II naquele início de 1860. Visitou a Lagoa Juparanã e esteve na colônia Fransilvânia. Um relato da visita de Veloso foi publicado no jornal Correio da Victória, tratando-se de precioso testemunho sobre as condições contemporâneas e servindo de cotejo às observações registradas pelo Imperador nas suas notas de viagem.

Como aconteceu em outros lugares, em mais de um ponto de suas notas D. Pedro transparece ter-se documentado devidamente para a viagem ao Espírito Santo. Refiro apenas um exemplo: em dada altura, indo para o norte, rumo ao Rio Doce, registra em suas notas lembrança de leitura realizada na Revista do IHGB:

“A respeito do Riacho até Comboios, e deste rio vide memórias do D'Alincourt, Revista trimestral do Instituto tomo 7° 1845, que também são muito curiosas a respeito do rio Doce e de um junto à vila da Serra”

Muito bem. Prosseguindo rumo ao norte, chegando a Linhares, subiu em canoa um trecho do Rio Doce, até a Lagoa Juparanã, onde almoçou numa ilha que ainda hoje recebe a óbvia denominação de Ilha do Imperador. Tendo visitado a região no verão, o rio estava cheio, o seu curso caudaloso, como registrou. Seu interesse pela fauna e a flora ficam patentes das notas que fez nesse ponto da viagem. Atirou em aves, "julgando" ter acertado algumas, e recolheu espécime de uma flor roxa que muito o impressionou, levando-a consigo.

Ali pôde mais uma vez dar vazão à sua curiosidade de naturalista, tirando notas das observações ligeiras que fazia sobre um grupo de indígenas que lhe fora levado à presença:

“O chefe dos índios chamava-se [Kneknám] de 30 anos talvez; não quer dizer nada esse nome como muitos dos deles. Tem ar muito sério. Os índios que se apresentaram são mutuns menos 2 do Sul, um deles rapazinho excelente atirador. Falam muito riem e querem sempre comer. Os do Sul são em geral mais bonitos, havendo 2 índias de olhos azuis muito belas e claras e de cabelo ruivo, uma delas mulher do capitão Francisco. Não quiseram vir com medo por causa do tiro dado num em Cuieté! Os índios mostraram sentir muito calor mesmo dentro de casa, se não era preguiça porque ele está muito suportável. Um velho deitou-se debaixo do canapé onde eu estou assentado. Dançam em círculo passando os braços por cima dos pescoços dos vizinhos com diversas cantigas em toadas mais ou menos monótonas que um começa; não têm instrumentos de música. Festejam assim diversos sucessos, sobretudo caçadas, cujas peripécias referem nas cantigas; os Puris também dançam em circulo. Os meninos dançam à parte. — Os índios assobiam muito — Uma mulher dançava com o filho nas costas o qual suspendera pelas nádegas por uma embira que prende na cabeça. Algumas das  toadas não me desagradaram e soltam às vezes, seu grito ou assobio. As mulheres quando nuas dão um jeito às coxas que cobrem inteiramente as partes genitais, segundo me disse o Rafael Pereira de Carvalho. A rapariga tinha os mamilos demasiadamente grossos. Havia um velho chamado Nahém muito rabugento. Hén é o bicho do caramujo. Os homens têm apenas buço mais ou menos longo. Ficaram muito contentes com os chapéus, e fumo, sobretudo, com o qual água passam três dias sem comer, que se lhes distribuíram de minha parte e em minha presença.”

Sobre a importância dos registros, mesmo em se tratando de ligeiras impressões, despiciendas maiores considerações, até mesmo porque a população autóctone não era de fácil contato, mesmo para os habitantes da província.

Diga-se, aliás, que esse interesse geral pelos nativos que habitavam as margens do Rio Doce não arrefeceu até o seu desaparecimento, já no século XX. Como exemplo refira-se, brevemente, como impõe o tempo, a viagem à mesma região do Baixo Rio Doce realizada pela princesa Tereza da Baviera, em agosto/setembro de 1888, cuja curiosidade foi atiçada por informações a respeito que teve na Corte. Encerro, premido pelo tempo, dizendo que, como podemos imaginar, a visita Imperial ao Espírito Santo trouxe como que um novo alento à província, cuja população, compreensivelmente, encheu-se de júbilo. Abstraídas as consequências imediatas, dentre as quais uma reorganização dos negócios públicos e a paulatina melhora das condições das colônias, com o café justamente por aquela época suplantando o açúcar como carro-chefe da economia capixaba, enxerga-se na viagem um significado simbólico, muito bem sintetizado por Fernando Achiamé, a cujas palavras mais uma vez recorro:

“Nessa última região [Itapemirim] a passagem do imperador guarda até um gesto emblemático — ele não se detém em qualquer fazenda dos antigos produtores de açúcar, devido a brigas locais, mas principalmente para reafirmar que o futuro estava no café e na mão-de-obra imigrante. Esse talvez seja o sentido maior dessa visita imperial e que passa despercebido para muitos pesquisadores da história espírito-santense.”

A ser assim, hoje podemos dizer que, de uma certa maneira, foi D. Pedro II o portador dos novos ares que então traziam novos tempos à província do Espírito Santo. O que é papel de um verdadeiro chefe de Estado.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Vitória-ES - Revista nº 75 – 2018
Autor: Getúlio Marcos Pereira Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019

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