Altair – 1956 - Por Fernando Achiamé
Já ouvi triste voz de adeus nos apitos de um navio.
Não do Holandês Voador, Fliegender Hollander lendário,
Mas de um holandês navegador,
Simples casco negro igual a outros vários
Da companhia Van Nievelt Goudriaan Co’s
Stoomvaart Maastschappij N. V. (Rotterdam Zuid Amerika
Lijn).
Comandante dos países Baixos, Holandês Errante,
Errou feio – manobrar na entrada da baía de Vitória
(logo onde, a baía de Vitória) sem prático ou prática.
Rápido chocou-se com o cabeço do Baixio Pequeno;
Passava um pouco das treze horas do dia
15 de abril de 1956.
Segundos, uns poucos segundos,
Para montar nas pedras.
Minutos, um punhado deles, para o encalhe.
Inúteis as manobras para safar.
E a perfuração do casco
Inundou em pouco tempo a sala de máquinas.
Horas e horas apitou longo lamento
A intervalos regulares
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
Capitão arrependido em cada POOOOOOMMM,
Último a abandonar seu navio
Bem depois dos ratos
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
POOOOOOMMM POOOOOOMMM
No dia 19 o casco estava adernado para bombordo
Apenas de fora parte da casaria e as pontas dos mastros.
Dias e dias depois algo da carga deu nas praias:
Tecidos, plásticos, cantis, sei lá o que mais.
Nos porões mergulhadores resgataram isto e aquilo,
Garrafas de vermute, o que você pensar,
E caixas com botões de madrepérola –
Conchas de novo banhadas pelo mar
E de novo do mar retiradas.
Sobrou casco bivalve pousado nas lajes do fundo.
Meses e meses as pontas dos mastros visíveis,
Férreos esqueletos em forma de cruz.
Só para vê-las, toda a cidade em romaria
Subiu ao campinho do Convento da Penha.
Depois dinamitaram os destroços,
Que não atrapalhassem a navegação.
Anos e anos demorou a companhia holandesa
Pra mandar outro navio a Vitória.
Décadas e décadas mais tarde relembro:
Quando criança, ouvi um navio se despedir
Vi um navio agonizar
Vivi um navio morrer.
Séculos e séculos provarão que forcei esta linha
Para marcar o poema com alguma coisa minha?
Milênios e milênios alcançarão estes versos?
Manterão a lembrança do navio?
Farão outra poesia?
Fonte: Livro Novíssimo – poemas, 2011
Autor: Fernando Achiamé
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2012
O Centro da Capital (Cidade alta). Atrações: - a Catedral Arquidiocesana com o seu rendilhado gótico
Ver ArtigoNa Guanabara consolidou o prestigio de compositor com a marcha-rancho “Depois do Carnaval”. Chico Lessa figura hoje como uma das grandes figuras da música popular brasileira
Ver ArtigoConstituído de uma pequena gleba de terras de um pouco mais de três alqueires e meio (173.400,00 m²), fica localizado às margens do Rio da Costa
Ver ArtigoAs 10 mais espirituosas Frase de Caminhão do Espírito Santo, 1971
Ver ArtigoEm 24 de abril de 1949, o jornalista Waldyr Menezes escreveu em A Tribuna uma reportagem sob o título: "Jardim América, um milagre residencial para Vitória".
Ver Artigo