Morro do Moreno: Desde 1535
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Ano de 1561 – Por Basílio Daemon

Ruína da casa no Morro do Moreno, onde morou e morreu Vasco Fernandes Coutinho

1561. É concedida neste ano, a 16 de outubro, pelo capitão e governador geral Mem de Sá, a carta de indulto aos desertores da capitania do Espírito Santo, mas com obrigação de servirem na capitania do Rio de Janeiro.

Idem. Falece neste ano, na capitania de São Vicente, o padre coadjutor Mateus Nogueira, que desta capitania seguira com o padre Leonardo Nunes como irmão noviço, e que prestara grandes serviços aqui na defesa contra os indígenas, pois que fora soldado e era ferreiro. Foi um grande catequista e um dos que muito trabalhou no levantamento do Colégio de Piratininga, como já dissemos, sendo sua morte muito sentida pelos padres da Companhia, que lhe memoraram os feitos.

Idem. Por carta régia de 10 de abril deste ano, são convidados os habitantes do Brasil, mormente os da capitania do Espírito Santo, onde foram lançados bandos, para que plantassem gengibre, garantindo-se o gozo, meios e direitos.

Idem. Falece neste ano o donatário desta capitania, Vasco Fernandes Coutinho, não sabendo-se ao certo a data de seu passamento, mas podendo-se afiançar ser antes de outubro, visto a provisão de Mem de Sá ser datada deste mesmo mês. Vasco Fernandes Coutinho morrera vítima de moléstias adquiridas por suas extravagâncias, a que havia-se entregado nos últimos dias de sua vida, talvez devido aos desgostos sofridos nos últimos tempos, sendo enterrado na vila do Espírito Santo, onde residia.(78)

Idem. É confirmada pelo governador Mem de Sá, a 16 de outubro deste ano e datada da Bahia, a nomeação de Belchior de Azeredo Coutinho Velho, como capitão-mor da capitania do Espírito Santo, salvando o direito do filho natural do mesmo donatário, que tinha igual nome, visto já ter falecido o filho legítimo Jorge de Melo, como se evidencia pela dita provisão.(79) Confirmava o governador nesta mesma provisão os direitos e regalias a Belchior de Azeredo, podendo fazer nomeações, notificações e pregões, e recomendando à Câmara e mais autoridades o respeito e obediência a ele devidos.

Idem. Neste ano parte desta capitania como capitão da galé São Tiago, Belchior de Azeredo Coutinho, o Moço, sobrinho do capitão-mor Belchior de Azeredo Coutinho, o Velho, nomes por que ambos eram distinguidos. Belchior, o Moço, seguiu com gente e munições a socorrer, no Rio de Janeiro, ao capitão-mor Estácio de Sá, donde viera a esta capitania a mandado do mesmo Estácio de Sá, comandando o navio Santa Clara, a fim de levar daqui todos os navios de que se pudessem dispor, assim como a gente necessária e dinheiro para coadjuvar e ajudar à fundação da cidade do Rio de Janeiro.(80) Julgamos que em uma destas viagens é que partiu para ali o valente cacique Maracaiá-guaçu, comandando um contingente de índios flecheiros, visto que deste valente e destemido cacique mais dele não falam os cronistas e historiadores, senão como estando no Rio de Janeiro em companhia do governador Mem de Sá e de seu sobrinho Estácio de Sá a ajudá-los na conquista da enseada do Rio de Janeiro e expulsão dos franceses, de quem Maracaiá-guaçu era inimigo irreconciliável.

Idem. Em fins deste ano entram na baía desta capitania duas naus francesas, competentemente armadas e artilhadas, vindo colocar-se em frente à povoação da vila, onde havia poucos moradores em casas cobertas de sapé, os quais ficaram aterrados. Sabedor disto, o capitão-mor Belchior de Azeredo reuniu o povo, índios flecheiros e escravos, dirigiu-se ao Colégio dos Jesuítas e ali na Igreja de São Tiago fizeram todos oração a Deus. Acompanhava-os o padre Brás Lourenço, que ia na frente empunhando o estandarte daquele santo, e dirigiram-se ao lugar em que se achavam os franceses, onde se deu terrível combate disparando-lhes tiros e bestas, sendo animados pelo padre Brás Lourenço, que em toda a parte se o encontrava encorajando os combatentes, pelo que se viram os franceses vencidos, com grande perda dos seus e obrigados a fugir, mas perseguidos sempre pelo capitão-mor, que com a sua gente, portugueses como naturais do país e escravaria, os pôs em debandada, fazendo-os embarcar nas naus que em seguida saíram barra fora.(81) Aqui notamos uma coisa, e esta é o parecer-nos ter sido este combate em Vila Velha, a do Espírito Santo, e que daqui partiram os combatentes para aquela vila, visto não ser possível que, atacados nesta hoje capital, tivessem tempo de se reunir os combatentes, fazer oração e depois seguirem ao combate, e quem bem conhece a posição topográfica desta cidade reconhecerá ser impossível dar-se tanta morosidade sem serem obstados nestes planos e projetos, pelos franceses.

 

Notas

 

78 (a) Serafim Leite informa a data do falecimento do donatário como fevereiro de 1571 [HCJB, I, 224, nota 6], porém Teixeira de Oliveira confirma o ano de 1561, creditando a uma possível falha de revisão a informação de Leite. [HEES, p. 102-3] (b) Carta escrita da Bahia pelo governador Mem de Sá e dirigida a Belchior de Azeredo, 16 de outubro de 1561, informando o falecimento de Vasco Coutinho. [Vasconcelos, Ensaio, p. 16-7

79 “Faço saber a vós ouvidor, provedor, juiz e justiças da capitania do Espírito Santo, como sou informado que Vasco Fernandes Coutinho é falecido, pela qual razão essa capitania fica e pertence a Sua Alteza, o que vos mando que tanto que esta apresentada vos for, vos ajunteis em câmara, e tomeis posse dessa capitania para Sua Alteza, elejais só por capitão dela a Belchior de Azeredo […] e a nenhuma pessoa entregareis, ainda que traga provisão de Sua Alteza, sem levar de mim, ou do governador que suceder, provisão para se entregar; salvo se vier Vasco Fernandes Coutinho, filho do defunto, porque em tal caso lhe entregareis a capitania, ainda que não leve meu recado. […] Dada em o Salvador, aos dezesseis de outubro de 1561. Mem de Sá” [Provisão de nomeação de Belchior de Azeredo, apud Vasconcelos, Ensaio, p. 16-7]

80 Vasconcelos, Ensaio, p. 17

81 Oliveira, HEES, p. 106.

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2019

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