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Ano de 1796- Por Basílio Daemon

Igreja de São Tiagi, 1911

1796. Neste ano um fato que compungiu e causou o mais sério terror à população foi o acontecido nesta então vila da Vitória a 28 de setembro, véspera de São Miguel, pelas nove horas da noite, isto é, que se declarou o incêndio nos fundos da Igreja de São Tiago, antigo colégio dos padres da Companhia de Jesus, pelo descuido de uns índios, segundo diz a crônica, que estando em um telheiro que ficava colocado por detrás da capela-mor, deixaram atear fogo num monte de palhas ou cavacos que ali estava depositado.(305) Deu causa essa notícia um grande alvoroço aos moradores da vila, que junto a poucos mascarados que ainda percorriam as ruas e que à tarde haviam trazido o mastro da festividade de São Miguel, muito auxiliaram na extinção daquele horrível incêndio, que clareou com suas labaredas toda a cidade, enquanto parte das mulheres, velhos e crianças corriam para as montanhas da Vigia, e Fonte Grande, e para a ilha das Caleiras e Capixaba com receio de haverem(306) grandes desgraças se fizesse[m] explosão três barris de pólvora que existiam em um salão próximo ao altar-mor, mas que foram a tempo tirados para fora, só tendo feito explosão um que pouca pólvora continha. Naqueles tempos em que os porrões, bilhas e potes eram os depósitos para água, foram os vasilhames utilizados para a extinção do fogo, não ficando algum nas casas de negócio que os vendiam, pois que afinal a água trazida da Fonte Grande, de um poço que existia perto da hoje cadeia e de outros da rua do Egito, era atirada junto com a própria vasilha, e assim pôde-se, trabalhando toda a noite e no dia seguinte, extinguir-se o incêndio, mas ficando carbonizado todo o altar-mor daquela igreja e que era um primor de arquitetura, escultura [e] douramento; como se pode hoje ajuizar pelos dois altares laterais da hoje Capela Nacional. A imagem de São Tiago em ponto grande, quase da altura de um homem, e que era de metal fundido, o orago daquele colégio, desapareceu; a de São Lourenço achou-se queimada, e as de Santo Inácio e São Francisco Xavier, que são de bronze, muitíssimo quentes; a Senhora da Piedade, essa foi salva pelo então capitão de Milícias José Correia Vidigal, que depois foi sargento-mor, e por Manoel Francisco da Silva Leitão, que a conduziram para fora do templo. O fogo durou ainda alguns dias, isto é, fumegando os restos carbonizados, mas sempre trabalhando-se para que novamente não se ateasse. Os prejuízos havidos são incalculáveis, pois que o altar-mor foi todo destruído, assim como toda a parte que fica aos fundos e lados da igreja que teve de ser reedificada no tempo dos governadores Manoel Fernandes da Silveira e Antônio Pires da Silva Pontes Leme. Aqui notamos um fato importante, e é que existiu no altar-mor a imagem de São Tiago e de grande proporções, sendo de metal, a qual desapareceu, procurou-se e não se achou, fez-se o possível de acharem-se os resíduos ou parte da imagem, não foram encontrados, nem tampouco, apesar de todos os esforços e do desentulhamento feito em tempo a fim de salvar-se a imagem, mas nada encontrou-se, nem ao menos a grande porção de metal de que era feita e que devia estar fundida pelo fogo! Reflexões e grandes se suscitam ao pensador à vista disto, e que deixamos a cada um ajuizar como melhor possa a respeito deste incêndio e suas causas. Era ainda nessa ocasião capitão-mor governador Inácio João Monjardino, que morando no antigo colégio teve de mudar os trastes para a casa que estava construindo no largo de Afonso Brás, hoje pertencente a seu filho, o coronel Monjardim. Desse tempo, o do incêndio, ainda existem vivas algumas pessoas, e entre elas nesta hoje capital o Sr. Chagas com 95 anos e a velha Luíza com 94, ambos em completo estado de razão. Nesta data, consta ter ainda aparecido na fazenda de Araçatiba e na Caçaroca dois dos antigos padres jesuítas do colégio da Vitória, o que causou a seus parentes grande medo. É aqui ocasião e vem a tempo o retificarmos um engano e omissão que à página 168 (307) nos escapou, e é que seis e não cinco foram os padres jesuítas embarcados a 7 de dezembro de 1759, quando foi cercado o colégio dos mesmos padres e confiscados os seus bens, e eram eles o reitor padre Rafael Machado, padre Miguel da Silva, padre Fabiano Martins, padre Manoel das Neves, padre Pedro Gonçalo, e padre Antônio Pires.

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879

 

305 “No mês seguinte [setembro], véspera dos folguedos de São Miguel, verificou-se o incêndio na igreja que fora dos jesuítas, em Vitória.” [Freire, Capitania, p. 213]

306 Sic no original; construção comum à época.

307 Do original, correspondendo à p. 223 desta reedição. 

 

Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2019

 

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