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Ano de 1851 – Por Basílio Daemon

Piraém - Fonte: Memória Capixaba, meados do Século XIX

1851. Foi neste ano feita a 8, 9 e 10 de abril a divisão, aviventação de rumo, assentamento de marcos das terras de Piraém, pelo então juiz municipal bacharel José de Melo e Carvalho, sendo escrivão do feito o tabelião Manoel José Noronha, piloto André Gonçalves Espíndula Sodré, procurador por parte do requerente João dos Santos Lisboa, louvados José Francisco da Silva Melo e Cirilo Pinto Homem de Azevedo, e oficial de justiça Bernardino de Santa Leocádia. Compareceram em audiência os confrontantes de Camburi e Jaçapê Joaquim Pinto dos Santos, Manoel Gomes dos Santos, Joaquim José de Santana, Francisco Alves e outros. Principiou-se a divisão do marco do pião, que se acha à beira do córrego Negro, ficando pelos jesuítas com a marca deles(576) em rumo de norte-sul, este-oeste; seguindo a agulha o rumo de norte até encontrar um brejo, que por ele se fez a convenção de ficarem divididas umas e outras terras, em seguimento do dito brejo em rumo de nordeste até a sua cabeceira, que faz à beira da estrada, que vem de Piraém para Jaçapê e Carapina, em cuja cabeceira fincou-se um marco de pedra com duas testemunhas, em distância de 5 palmos, afastadas do marco em direção ao rumo de nordeste até o córrego Seco, que sai no rio da Praia Mole, em cuja cabeceira fincou-se outro marco da mesma maneira e forma do primeiro, ambos com a letra S para a parte das terras de Piraém, marca do proprietário; ficaram por este modo divididas as terras de Piraém, com Camburi e Jaçapê. É aqui ocasião de notar que, na demarcação que fizeram os jesuítas nas terras de Carapina no ano de 1644, não ficaram compreendidas as terras do Piraém (nome dado pelos índios àquele lugar pela abundância que ali há de peixe, e derivado de pirá, peixe, ém, lugar abundante), e por não serem boas aquelas terras para cultura, ficaram por isso devolutas; mas houve quem delas se apossasse como suas, porque nesse tempo pouca gente havia; portanto este dono as possuía pela parte do norte com o rio da Praia Mole, e como senhor foi vendendo a diversos, donde resultou ficar indiviso o tal Piraém: parte destes possuidores passaram a vender seus quinhões ao capitão Gonçalo Pereira Porto Sampaio, a quem só servia aquele sítio em capoeiras para criar gado; por sua morte, em 1797, passou o mesmo sítio a seu herdeiro, o capitão-mor Francisco Pinto Homem de Azevedo, por morte de sua primeira mulher, deu em legítima a uma filha de nome Manoela, e fez um grande cercado em campo com boa casa de vivenda que ainda existe. D. Manoela casou com o tenente Bernardino da Costa Sarmento, e tanto o capitão-mor como o dito tenente viveram sempre em desavença com os seus fronteiros de Camburi e Jaçapê, porque nunca cuidaram em dividirem-se judicialmente, até que o tenente Bernardino Sarmento tentou a divisão destas terras, e requereu ao juiz municipal que então era o bacharel José de Melo e Carvalho (seu concunhado).

Idem. Há neste ano, no dia 26 de maio, uma tentativa de roubo na Tesouraria de Fazenda Geral; deu-se este fato na madrugada desse dia, sendo forçada uma janela que dava para o pátio do Palácio do Governo, tendo os ladrões se introduzido em um corredor, dali puxaram com um gancho um saco de cobre que se achava na saleta do Tesoureiro [e] dele roubaram 15$000, não tendo os ladrões tempo para mais.

Idem. É nomeado por carta imperial de 31 de maio deste ano, para presidente desta província, o bacharel José Bonifácio Nascentes de Azambuja, que prestou juramento e tomou posse do cargo a 9 de julho do mesmo ano,(577) sendo exonerado a 8 de outubro de 1852.

Idem. Assume a administração da província a 3 de junho deste ano, o 2º vice-presidente coronel José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, por ter sido exonerado o presidente Felipe José Pereira Leal. Foi esse ex-presidente enérgico e o demonstrou no julgamento dos réus da insurreição de São José do Queimado.

Idem. Falece a 7 de junho deste ano, de uma hidropisia, o capitão-mor de ordenanças Manoel de Siqueira e Sá, contando 80 anos de vida e 61 de residência no Império, sendo ele o último capitão-mor nomeado para a província. Foi sempre estimado e respeitado por sua honradez e probidade; ocupou muitos cargos de nomeação do governo e eleição popular e possuiu boa fortuna pecuniária. Amigo íntimo do regente padre Feijó, aqui estiveram sempre unidos, passeando juntos quando Feijó para aqui viera deportado com o deputado Vergueiro.

Idem. É assassinado no sábado 30 de agosto, às 7 horas da noite, em sua própria casa à rua do Rosário, José Correia de Amorim Pinto, com um tiro que lhe foi disparado, falecendo pouco depois. Cidadão já bastante idoso, sem inimigos e estimado, ignorou-se o fim de um tal assassinato.

Idem. É mandado pelo governo imperial o inteligente naturalista Dr. Teodoro Descourtilz para o fim de estudar e colecionar os produtos mineralógicos da província; neste mesmo ano remeteu uma coleção de cristais apanhados no rio da Fruteira, no lugar que ele percorreu na fazenda da Pedra Branca, do município do Cachoeiro de Itapemirim. Também remeteu outros produtos metalúrgicos extraídos em lugares deste e outros municípios, como no distrito do Rio Pardo, tendo sido os municípios do Cachoeiro, Itapemirim e Benevente os que primeiro investigou.

Idem. É pelo governo imperial nomeado em 17 de outubro deste ano, para o cargo de alferes ajudante da Companhia de Pedestres da província, em virtude da resolução de 12 de fevereiro deste mesmo ano, o sargento reformado da Companhia de Inválidos Bernardino de Souza Magalhães, que fora ferido nas campanhas do Prata e na de Pernambuco.

Idem. É assassinado barbaramente na freguesia de Itaúnas, do município da Barra de São Mateus, José Ribeiro Tupinambá, moço de qualidades e muito talento, cujo assassinato fora cometido por uma escolta que se dirigira à sua casa em busca de criminosos, tendo ele resistido à mesma.

Idem. São apreendidos em Itapemirim pelo então delegado de Polícia, Dr. Rufino Rodrigues Lapa, cento e tantos africanos boçais, vindos em um barco da Costa da África, sendo em seguida remetidos para a Corte no vapor cruzador Tétis. (578)

Idem. Neste ano são concluídas as obras da ponte de Maruípe ou da Passagem, não só em alvenaria na fatura e consertos de pegões, como em novas linhas, barrotamento e assoalho, a qual fora contratada por 1:400$000 em 23 de agosto deste mesmo ano, com José Correia Maciel.

 

576 No original há o desenho de um círculo preto com cruz branca em seu interior.

577 “Chamado pela confiança imperial ao governo desta província, do qual tomei posse no dia 9 de julho do ano próximo passado...” [Relatório que o Exm. presidente da província do Espírito Santo bacharel José Bonifácio Nascentes d’Azambuja dirigiu..., 24 de maio de 1852, p. 5]

578 “Nesta província foi capturado no dia 1º de maio do ano passado, mediante as diligências executadas pelo delegado de polícia de Itapemirim, o Dr. Rufino Rodrigues Lapa, um carregamento daqueles infelizes que se tentara desembarcar nas margens do rio Itabapoana.” [Relatório que o Exm. presidente da província do Espírito Santo o bacharel José Nascentes d’Azambuja dirigiu..., 24 de maio de 1852, p. 6]

 

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2018

 

 

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