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Ao findar do Século XVIII – Por Mário Freire

Portal antigo do Convento da Penha

Proibidas, nesta reduzida Capitania, as expedições para o sertão à cata de ouro, escasseiam noticias, na segunda metade do século XVIII, de novas explorações, pelo atual território do Espírito Santo.

Pelo rio Doce ainda desceu, em 1769, uma "bandeira". Chefiava-a Antônio Cardoso de Souza.

No Castelo, as pesquisas cessaram de forma algum tanto épica, no ano de 1771; surpreendidos pelos puris, os mineradores, enquanto as mulheres retiravam-se levando as crianças, opuseram destemerosos tenaz resistência aos temidos indígenas. Por fim, destruídos os canais, antes utilizados no desvio do rio, a ponte e as casas, os colonos desceram o Itapemirim, e foram estabelecer o batistério da antiga paróquia, na barra desse rio. Surgiu destarte a nova freguesia de N. S. do Patrocínio.

Encontra-se numa geografia histórica de Minas Gerais, escrita em 1780, talvez a última notícia do século XVIII, sobre jazidas no Espírito Santo: — "o rio São Mateus excede a todos na riqueza de pedras, segundo declaram os roteiros do Mestre de Campo João da Silva Guimarães".

Expulsos os jesuítas, os árduos trabalhos da catequese e os nobres encargos da instrução pública ressentiram-se, por igual, da falta desses padres, não obstante a reforma do ensino decretada a 28 de julho de 1759.

Os botocudos do rio Santa Maria, alevantados em 1779, faziam a Câmara solicitar à Rainha mandasse contra eles — "expedições a que chamam "bandeiras", de gente armada". A expressão "bandeira" era preferida e usual no sul. Os índios estavam prejudicando a extração regular de tapinhoã, madeira apreciada da Marinha portuguesa, para construções navais, abundante nas matas de Benevente e Nova-Almeida. Desde 1700 fora proibido cortá-la livremente.

Cogitou logo Pombal, no governo, de suprir as deficiências da instrução, graças a um novo tributo, o "subsídio literário". Constituído de um real por libra de carne, e de cem réis sobre cada canada de aguardente, foi instituído em 1772. Desde 1771 fora criada, em Vitória, uma cadeira de Latim. Mandou, depois, a Corte abrir aulas de ensino público em São Mateus, Itapemirim, Benevente, Espírito Santo e Nova Almeida.

Nessa vila, a Câmara pretendeu estabelecer a obrigatoriedade do ensino, determinando em 1793 que, sob pena de prisão, todos os pais levassem os filhos à casa do respectivo escrivão pois este, além da doutrina cristã, era obrigado a ensinar-lhes a ler e escrever. Dois anos depois, determinou ainda, sob a mesma pena, que em toda a Vila só se falasse a língua portuguesa. Parece ter fundamento, à vista dessa resolução, uma notícia veiculada por Saint-Adolphe de que os jesuítas mandavam os noviços, vindos da Europa, aprender o tupi na Residência de Nova Almeida. Nessa primitiva aldeia os jesuítas chegaram a reunir 4.000 índios. Transformada em Vila, os Oficiais da Câmara e o Vigário representaram, em 1782, contra o Ouvidor, porque não zelava pelo interesse e sossego dos índios, vexando-os e oprimindo-os por intermédio do escrivão. Provocara a representação, que foi ter à Bahia, uma tentativa de monopolizar os embarques, para Vitória, de algodão e madeira, com a conivência, dizia-se, do Capitão-mór.

Os jesuítas haviam sido hostilizados, convém lembrar, porque se opunham à exploração dos índios...

Outros religiosos, como os franciscanos, preocupavam-se mais em melhorar e engrandecer as respectivas instalações: o majestoso portão de acesso ao convento da Penha conserva a data de 1774. Nessa época, além de novos melhoramentos no Santuário, ergueram, ao fim de penúltima volta da ladeira, uma capela ao Bom Jesus. Muito antes dessas obras em 1609, transferiram os restos mortais de Pedro Palácios, para o convento de Vitória, cuja torre ainda ostenta a data — 1784, ao lado da que se lê no vetusto frontispício da igreja: 1744.

Data de 1784 a construção do aqueduto pelo qual trouxeram água do morro da Lapa, em Vitória, para o convento; e, daí, até um chafariz junto ao muro da calçada, exatamente em frente à atual Rua Coronel Monjardim, como se vê em antigas fotografias.

Prosseguia a esse tempo, demorada, a reconstrução da Matriz em Vitória; de Nova Almeida vinham as madeiras e a cal.

Interessado no desenvolvimento da colônia, o governo distribuiu em 1785, no Espírito Santo, sementes de linho, cânhamo e de um pinheiro muito apreciado.

Escreveu da Bahia o Vice-rei aconselhando o povoamento e a cultura das terras do rio Doce, iniciados por João Jacinto e outros colonos. Provindo da Capitania ao Sul, o café estendia-se pela parte meridional do Espírito Santo.

Um alvará de 1785 proibiu fábricas e manufaturas no Brasil exceto a do tecido grosseiro de algodão.

No intuito de amparar algumas Câmaras, um alvará de 1795 mandou conceder-lhes novas sesmarias. Foram proibidas, logo depois, à beira dos rios e até 3 léguas deles ou do mar; e essa ordem, interpretada com exagerado rigor, comprometeu profundamente o progresso desta Capitania.

A procura cada vez maior de algodão, graças às grandes encomendas determinadas pelos maquinismos da indústria inglesa, fizera subir o preço desse produto, a partir de 1775.

Sinal da expansão que parece ter havido no último quartel do século, como sucedia em outros pontos, foi a criação de um regimento de infantaria de milícia, com duas companhias agregadas de cavalaria. Veio comandá-la Inácio João Mongiardino, depois Capitão e Governador. Tornou-se logo necessário organizar um hospital militar, instalado em uma dependência do antigo Colégio dos jesuítas. Assim, foi substituído o terço de auxiliares ou ordenanças, instituído em todas as Capitanias, sob o comando de um sargento-mór, consoante a carta régia de 22 de março de 1766.

Para encarecer a importância dessa notícia é preciso notar que o policiamento anterior não ia além de 60 praças, e havia notícias de uma nau e de um brigue franceses, aprisionando embarcações, na barra de Vitória...

Aproximava-se o século XIX.

Em instruções baixadas para o Governador, na Bahia, o Príncipe Regente escrevia o seguinte: "Sendo-me devido um particular cuidado o reanimar a quase extinta Capitania do Espírito Santo, confiada até agora a ignorantes e pouco zelosos Capitães-mores, fui servido nomear para a mesma um Governador particular, que vos fica sempre subalterno, e escolher um nome de conhecidas luzes e préstimo na pessoa do Capitão-de-fragata Antônio Pires da Silva Pontes".

 

Fonte: A Capitania do Espírito Santo, ano 1945
Autor: Mário Aristides Freire
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2015

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