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As Ilhas de Vitória - Por Délio Grijó

Ilha das Cobras e Baia de Vitória, 1952

Vitória tem hoje cerca de 350 mil habitantes, e ao seu redor quatro municípios (Vila Velha, Serra, Viana e Cariacica) completam com ela a Grande Vitória, que lhe proporciona habitação superior a 1.200 mil de pessoas. Mas voltemos ao arquipélago, composto de 28 ilhas, pedras e rochedos denominados: Fato, Socó, Galhetas de Dentro e de Fora, Frade ou Le Mote, Rochedo das Andorinhas, Boi, Bode, Sururu, Papagaio, Baleia, Caturé, Cobras, Pombas, Fumaça, Rebelo, Monte Belo, Santa Maria, Tendas, Pedra do Ovo, Pedra Branca, Pedra do Mero, Pólvora, Príncipe e Caieiras, além da ilha oceânica no limite das 200 milhas, Trindade.

Foram anexada a Vitória, por força de aterros, as ilhas do Boi, Bode, Sururu, Príncipe, Caieira, Monte Belo e Santa Maria. A Ilha do Rebelo foi desbastada para servir de material de aterro para Bento Ferreira e dar passagem à avenida Marechal Mascarenhas de Morais, a Beira-mar. As Ilhas de Santa Maria e Monte Belo praticamente encostavam na Av. Vitória. A Ilha do Príncipe era uma alternativa para a ligação de Vitória ao continente; além dela, os cinco vãos da Ponte Florentino Avidos, e mais um outro que hoje é chamado de Ponte Seca, próximo ao Mercado da Vila Rubim, completavam a ligação Vila Velha—Vitória. Por volta de 1967, durante o governo do Dr. Christiano Dias Lopes, um aterro anexou as ilhas do Príncipe e Caieiras à Capital. O arquipélago ainda conta com a ilha de formação vulcânica situada nas proximidades das 200 milhas da costa brasileira e que foi anexada na gestão do prefeito Ferdinand de Berredo, que através de documentação provou que a Ilha da Trindade, pelas condições geográficas, localizava-se de fato e de direito dentro das águas territoriais do Espírito Santo e deveria ser inserida na carta geográfica da Capital capixaba.

A história de diversas ilhas do arquipélago pode ser aqui lembrada. Por exemplo: a Ilha do Boi é assim chamada porque na época do Brasil Colonial o gado vacum, quando vinha de outros países, ao imigrar no Estado, fazia uma quarentena forçada, não só para adaptação ao novo clima, mas para verificar possíveis doenças infecto-contagiosas, Desta forma, a ilha ficou conhecida com o nome atual, A Ilha do Socó assim se chama devido ao grande número de aves conhecidas por esse nome e que abrigavam-se fazendo os seus ninhos após os acasalamentos.

A Ilha do Frade já foi Ilha Le Mote, nome emprestado de um francês que a escolheu para sua moradia, e jamais morou, tendo até iniciado a construção de prédio, que até hoje ali existe em ruínas. Contam muitas lendas, mas até hoje nada se tem de concreto. Teve diversos proprietários, dentre eles o Sr. João Percy, homem ligado ao jogo de azar e que sonhou em construir um cassino na ilha. Mais tarde o filho do Sr. Percy, após seu falecimento, vendeu-a ao Dr. José Morais, que, após loteá-la, construiu a ponte que a une ao continente, e hoje esta ilha é um dos melhores lugares para se morar, mesmo "engolindo-se" muito pó de minério de ferro e de carvão.

A Ilha das "Cobras", seus proprietários são os herdeiros do Sr. Alfredo Alcure, industrial de muito conceito em Vitória e que chegou a passar temporadas de verão na ilha. Outro morador foi o Dr. José Rennó Chaves, engenheiro responsável pelo aterro de Bento Ferreira. Morou pouco tempo devido às dificuldades de acesso à ilha. Esta oferece uma visão fabulosa tanto para dentro como fora da barra, principalmente em noite de luar.

A Ilha das Pombas pertence à Alfândega de Vitória e nela mora uma família há mais de 60 anos. Detalhe: nessa ilha não existe água potável; o morador a carrega através de tonéis, transportados em barcos.

A Ilha da Fumaça era propriedade da família Guimarães. Nela existiam trapiches onde se armazenavam combustíveis, como: gasolina, óleos lubrificantes, querosene (o famoso Jacaré). Até hoje existe a ponte que servia de embarque e que serve hoje como atracadouro de uma firma de rebocadores que atracam navios no porto de Vitória e demais portos do Estado. O combustível chegava através de navios, em sua maioria, procedentes aos Estados Unidos e exportado para o Brasil pelas firmas Texaco, Anglo-mexican, Shell e Esso. Depois de depositado na Ilha da Fumaça, era remetido para os revendedores de Vitória, para outras partes do Espírito Santo e para o Estado de Minas Gerais. Primeiramente, ali residiu o Sr. Manoel Pinto das Virgens, o nosso inesquecível "Manoel Donencio", que adotara este cognome devido a frase que seu verdadeiro nome formava. Seu Manoel, fazia o transporte em grandes canoas até ao píer dos armazéns da firma Antenor Guimarães, depois tomando o destino de compra. Logo em frente à Ilha da Fumaça existe uma ilhota, chamada Tendas. Esta ilhota, na década de 40, tornou-se notícia nacional, devido a um acidente que ficou famoso em Vitória e que por pouco não causou uma tragédia para a baía de Vitória. Este fato deveu-se a um "Paquete" (termo na época e que se referia aos navios de luxo, também chamados de navios de passageiros). Os protagonistas foram o "Paquete Itanagé" e o prático da baía de Vitória, o inesquecível remador do Saldanha da Gama, Wilson Freitas, que o retirava da atracação com destino até a boca da barra, tendo uma maré de vazante a seu favor, com ventos sul soprando de ré, mesmo sendo um navio que usava um sistema de leme hidráulico e com duas hélices propulsoras, ao fazer a ligeira curva que é obrigado a fazer todo navio entre as Ilhas do Urubu e Cobras, o sistema de leme não obedeceu e o navio acabou por bater levemente na ilha das Tendas. Embora o prático tivesse usado todos os recursos possíveis, terminou por encalhar, Horas mais tarde houve a remoção para a Enseada da Glória, onde começaram os reparos para conduzi-lo ao Rio de Janeiro. Com a invasão de diversos compartimentos dos porões que armazenavam diversas mercadorias para os portos de escala, a firma armadora resolveu aliviar os porões para melhor fluidez dos trabalhos e passou a vender diversas mercadorias, afetadas pela água salgada. Assim é que cortes de fazendas, como casimira, brim, seda, morim etc., foram vendidos a preço irrisório, sendo que um dos maiores arrematadores foi um indivíduo conhecido como Exu. Era um preto tipo africano com quase dois metros de altura que vendia tecidos vindos do país. O Exu ganhou dinheiro. Algumas lojas do interior e mesmo da Capital arremataram em leilão muitas mercadorias. Mas o mais interessante é que o capixaba, com seu espírito de "enxovador" (termo usado somente pelo capixaba, que significa o que hoje chamamos de gozação e atualmente "mico"), passava por um indivíduo com um termo novo em ato contínuo, molhava o dedo na saliva e passava-o na roupa do indivíduo e dizia, é do "Itanagé"? Depois de reparado o Itanagé seguiu para o estaleiro de Mocanguê RJ, onde foi reformado e voltou a navegar normalmente.

A Ilha do Urubu foi por muito tempo depósito de material usado nas boias de balizamento do canal e da baía de Vitória. Ilha de Santa Maria e Monte Belo eram redutos familiares, de gente mais pobre. Na Ilha de Santa Maria, eram armazenados explosivos. A Pedra do Ovo é uma atração para o povo até hoje, devido ao fato de uma pedra, que mede quase dez metros de altura por uns vinte de circunferência, apoiar-se sobre uma que não mede cinco metros de diâmetro. Coisa que só a natureza constrói.

Outra pedra que merece destaque é a pedra do Mero, que, devido às locas submarinas, abrigava bom número dessa espécie de peixe, sendo que Rezende de Rezende e o doutor Pedro Luiz Silva e mais outros colegas arpoaram em pesca de mergulho, um espécime com aproximadamente 300 quilos. Em matéria de pedras dentro de nossa baía, não posso deixar de narrar a Pedra Branca, que ficava nas imediações do Saldanha da Gama. E que após aterrada para dar passagem à avenida Marechal Mascarenhas de Morais, a Beira-Mar, servia de pedestal para a estátua do índio Araribóia, que o governador Jones dos Santos Neves fez erguer, onde o índio, impondo um arco/flecha, aponta para a boca da barra em sentido de atalaia. A ilha das Caieiras tem esse nome devido ao fabrico de cal, que era explorado pelo Sr. José Miranda, genitor no nosso inesquecível vereador José Manoel de Miranda, "Nenel". Por volta de 1968, no governo do Dr. Christiano Dias Lopes, foi feito um aterro que cobriu toda área a partir do local onde está hoje a Flexbrás, nas imediações da Vila Rubim, passando por Santo Antônio, até a ex-Ilha das Caieiras, onde era uma vila de pescadores, transformando-a em um progressivo bairro no lado oeste da ilha.

Logo na entrada do canal de Vitória, a bombordo, situa-se a Ilha da Baleia, que por muito tempo serviu de ponto de espera dos práticos, de onde partiam para conduzirem os navios até ao porto de Vitória. Com o progresso ela foi desativada e a Corporação Práticos de Vitória vendeu-a para o empresário João Rodrigues. Há meses, notícias não confirmadas diziam que a ilha havia sido vendida para a apresentadora de televisão Xuxa.

Desta forma completo o ciclo de fatos e curiosidades de parte do arquipélago e passarei a narrar a minha convivência com a querida ilha de Vitória “Capitânia do Arquipélago". Um fato interessante era como os sinaleiros que ficavam nos morros Atalaia e Moreno comunicavam a aproximação dos navios que vinham do norte/sul, e adentravam a baía de Vitória, através da praticagem. Em cada morro existia um mastro com uma cruzeta onde eram hasteados os galhardetes em diversas cores e cada um tinha número e, após hasteados, formavam uma centena, que correspondia à numeração do país bem como a empresa a que pertencia o navio. Por exemplo: O Loydd Brasileiro era 365. O sinaleiro, através de luneta de um dos morros, avistava no horizonte a fumaça de um navio. Imediatamente hasteava uma bandeira de navio à vista, Mais tarde ele confirmava se estava de passagem ou o destino era Vitória. Com a aproximação eles iam passando informações pelas bandeiras hasteadas até que chegavam à conclusão se eram estrangeiros ou nacionais. Até que colocavam a numeração definitiva. Sendo que na cruzeta do mastro as bandeiras diziam através do lado em que foram hasteadas as procedências norte/sul. Caso olhássemos de Vitória para Atalaia, que fica em Paul, e víssemos as bandeiras de nosso lado esquerdo, sua procedência era do norte. Dessa forma os práticos partiam para a boca da barra, de onde conduziam o navio para o porto. Os representantes dos Armadores ficavam de prontidão para receberem o navio. Até o final da década de 60 os sinaleiros Roberto Reis no Atalaia e Cabo Reis no Moreno (eram irmãos) funcionaram fornecendo sinais para os práticos e armadores.

 

Fonte: A Ilha de Vitória que Conheci e com que convivi – Coleção José Costa, Volume 6 – 2001
Autor: Délio Grijó de Azevedo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2019

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