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Barra do Jucu - Manifestações Culturais

Igreja Nossa Senhora da Glória, Barra do Jucu, 1960 - Acervo: Tuffy Nader, inauguração da energia na Barra

Outras manifestações culturais de destaque acontecem ou aconteceram na Barra:

A Bandeira do Divino, antigamente muito aguardada e concorrida, hoje não existe mais. Perdeu no jogo da mediação, da pressão cultural, no choque com o ideal capitalista “Globalizado” de homogeneização cultural. Era uma turma cantando músicas de inspiração religiosa e da realidade local. Ia uma mulher na frente com um estandarte do Divino – uma pomba branca. Este estandarte era cheio de fitas, que eram distribuídas aos mais devotos. O seu mestre era Chico Dedeco, que ia pedindo esmola e abrigo para o Divino. Ele morava em Jabaeté. Tinha uma caixa que era tocada e umas pessoas iam acompanhando, cantando as músicas.

Dona Darcy relata que uma vez, indo para a praia, Chico Dedeco entregou o Divino para uma menina grávida carregar. Não sendo ela honrada para isso o Divino bateu as asas e voou, dando grande trabalho a Dedeco para apanhá-lo de volta. Isso demonstra o moralismo conservador e caracteriza a sociedade e a cultura local. Porém, o povo é moralista para os outros, mas pessoalmente também faz suas estripulias.

A Marujada, tradição anual, inspirada nas grandes navegações feitas pelos povos que aqui aportavam, representando um momento épico de nossa História. Pelo que me informaram os entrevistados, só se apresentou aqui na Barra uma vez. Chico Dedeco era seu Mestre. O pai de Dona Darcy, Inácio Vieira Machado, era o calafate (quem tapa os buracos das embarcações). A sede da Marujada era lá em Jabaeté, mas ela circulava por toda essa região até Ponta da Fruta. Era um navio “de pau” e o pessoal todo vestido de marinheiro, cantando, tocando e sambando, ao ritmo de músicas que falavam sobre as aventuras dos marinheiros do mar e a vida sofrida que eles levavam. As festas dos santos de junho e julho, São Pedro, São João e Santo Antônio, chamavam atenção pelas grandiosas fogueiras, quando não havia luz, clareavam a noite e propiciavam os encontros sociais. Depois de queimados os paus, as brasas eram espalhadas para os fiéis pagarem as bênçãos recebidas passando descalços por cima delas. Ao seu lado a banda de congo sempre tocava. Depois, havia uma grande quadrilha e queima de fogos.

Hoje em dia, a tradição é mantida com a quadrilha, a fogueira, os fogos e o congo. Mas já temos energia elétrica e ninguém mais passa por cima das brasas.

A Folia de Reis continua existindo hoje, mas visivelmente precisa de uma injeção de ânimo, pois está meio esvaziada, principalmente pela morte ou por doença de alguns componentes mais idosos que não estão podendo participar nas madrugadas.

Essa manifestação, em nome dos Santos Reis, é bem antiga aqui na Barra e acontece todo ano, em dezembro e janeiro. Formada por um grupo de mulheres cantoras, na sua maioria as mesmas participantes do congo. Os homens vão tocando instrumentos: Seu Írio, violão (faleceu em 2005); Seu Chiquinho, banjo, e ainda, mais recentemente, Brandinho, Xaxá, Eduardo Valadares, entre outros.

Os Reis antigos eram acompanhados por muita gente. Os personagens principais, os Três Reis Magos, iam vestidos a caráter, com coroa e tudo, eram os instrumentistas. Juntavam-se a eles um grande coro de mulheres. Iniciava-se a cantoria à meia-noite na casa de um deles; seguiam então pelas ruas cantando e tocando e o povo os acompanhava. Chegando à casa dos anfitriões, previamente avisados, porém, a casa ficava fechada e as escuras, os reis entoavam os versos de entrada.

Depois da longa cantoria com a casa fechada e solicitações em versos, no momento preciso, eram abertas as portas e as luzes acesas, todos eram recepcionados festivamente com comida e bebida. E, assim, de casa em casa a festa atravessava a madrugada.

Hoje, os participantes não são tantos, pois reclamam da bagunça dos mais jovens e da limitação dos idosos com relação ao horário, fazendo então uma apresentação mais reservada, que continua acontecendo todos os anos. Com relação à alimentação cotidiana, não houve muita alteração com o passar dos anos, apesar da diminuição dos recursos alimentares tradicionais provenientes da natureza.

A base alimentar continua sendo arroz, feijão, abóbora, peixe, camarão, sururu, caranguejo e goiamum, feitos na panela de barro. Mas as compras em supermercados vem, a cada dia, tomando mais vulto, pois nem sempre se encontra essa alimentação tradicional, que apesar de tudo continua sendo a preferida.

O conhecimento sobre as ervas medicinais decaiu muito, pois as áreas verdes também declinaram. Mas ainda há muita sabedoria a esse respeito e ainda existem alguns benzedores nessa região. Grande quantidade de pessoas usam estes remédios naturais conhecidos como garrafadas. Caboclo e Seu Honório, antigo mestre da banda de congo, eram os maiores conhecedores destas plantas. Como eles, podemos citar: Vandelino, Chiquinha Paixão, Joaninha Malta, Mãezinha, entre outras pessoas. Muita gente acredita no poder do benzimento, assim como utilizava do trabalho de parteiras: D. Gina e D. Leozina. Hoje em dia, além de Maria Carro, não tenho conhecimento de outras rendeiras em atividade. Com a industrialização das rendas feitas em máquinas, com menor preço, a procura por renda de bilrro caiu muito.

 

Fonte: A História da Barra do Jucu, 2005
Autor: Homero Bonadiman Galvêas
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2013 

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