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Casa de doido – Por Eloy Nogueira da Silva

Sob as ordens de Chiquinho

Como era O DIÁRIO? Confesso que, quando entrei a primeira vez no jornal onde passaria a trabalhar, a pedido do então governador Francisco Lacerda de Aguiar, tomei um grande susto.

Aquilo não era jornal. Era a casa onde um doido chamado Otávio Lisboa fazia, sem dinheiro, alguma coisa impressa que era oferecida aos capixabas. Jornal mesmo, garanto que não era, com base na razoável experiência profissional que eu já possuía. Com mais ou menos 10 anos de jornalismo, já passara por grandes jornais como O Globo, Diário de Notícias, Diretrizes e outros, além da Revista da Semana.

De repente, entro num "jornal" que nem clicheria tinha. E mais: a impressão era feita diretamente na rama. Uma coisa inacreditável. Ainda bem que tinha linotipos. Duas, aliás. Duas que valiam por meia. Nunca poderia imaginar que fosse me apaixonar por "aquilo". Mas a verdade é que O DIÁRIO foi a maior paixão da minha vida. A começar pelas pessoas que conheci. Na oficina conheci um gráfico chamado Jackson com quem logo fiz camaradagem. Ele, às vezes, redigia uma notinha, quase escondido. Fizemo-nos amigos e ele passou a desenvolver atividades na redação, a princípio sem deixar a oficina. Rapidamente foi-se desenvolvendo, a ponto de, em menos de um ano, ser o esteio da redação.

O convite para redigir este pedacinho de memória me dá oportunidade de dizer quem foi Jackson Lima. Ele era dono de uma inteligência furiosa, de uma intuição santificada e de uma vontade selvagem, qualidades que nunca vi reunidas numa só pessoa com tal intensidade. A redação dO DIÁRIO era composta por um batalhão de profissionais: eu o Jackson.

Além de nós tinha um repórter de polícia, que nos dava um trabalho imenso para compreender o que ele tinha começado a redigir. E, o que era pior, para completar o texto. É que já chegava invariavelmente bêbado e o seu grande berço era, sem dúvida, a máquina de escrever. Em cima dela ele se entregava a um Morfeu possivelmente mais embriagado que ele próprio. Geralmente telefonávamos para a polícia, onde todo mundo era amigo e colaborava, para obtermos as informações necessárias para completarmos o texto.

Certa vez, a presença do Jackson foi providencial para evitar o que talvez se tornasse a mais antológica mancada de um jornal brasileiro. Um preposto de Mário Tamborindegui escreveu um editorial que foi publicado com o título impresso em letras garrafais: "Xô urubu". Caso o Jackson não tivesse chegado a tempo, teria saído "Chô Orubú".

Havia também o Barcelos que, se não me engano, nunca chegou a ter salário. Morava em Vila Velha e ia trabalhar todo dia. Adorava o jornal e o jornalismo. Muita gente gostava de colaborar. O deputado Argilano Dario era nosso melhor informante do movimento político. Na verdade, ele era nosso "setorista" na Assembléia Legislativa. E muitos outros ajudavam quando podiam. Chato mesmo só tinha o Acyr Monteiro, representante do Mário Tamborindegui e que também se achava dono do jornal. Era uma peça. Mandava em todo mundo.

Grande parte do jornal era feita com base na imprensa carioca ou com notícias de um velho rádio que tínhamos na redação. Evidentemente havia também a indispensável coluna social.

Mas a verdade é que cada edição era um parto. Eu me dedicava tanto que cheguei a alugar uma casa bem em frente. Era o número 444 da Rua Sete de Setembro. Começava a trabalhar entre 8 e 9 da noite. Quando fazia muito calor ia tirando a roupa, peça por peça. Lá pelas três da madrugada já estava só de cueca. E a edição estava fechada. Jogava tudo nas costas, atravessava a rua deserta e ia dormir. Jackson Lima geralmente ainda ficava vigiando a velha rotoplana até ver a criança nascer. Que saudade!

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.

Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel

Autora: Fernando Jakes Teubner

Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

 

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