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Comunicações e Transportes - Os dias antigos

Zepelim sobrevoando o Convento da Penha - Capa da revista Chanaan de abril de 1936

- Número, faz favor.

- Central 513.

Trim, triim...

Com este número a telefonista da Companhia Central Brasileira de Força Elétrica (CCBFE) ligava para João Batistas Scampini, com oficina à rua Duque de Caxias, 6, especialistas no conserto de máquinas de escrever, calcular, registradoras, armas e vitrolas.

Havia 735 telefones urbanos, nas Estações Central e Praia.

O serviço telefônico intermunicipal era mantido pelo Estado, operava-se no Palácio do Governo e falava da capital com Cariacica, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Colatina, Afonso Cláudio e Itaguaçu, com 300 km de linhas, estando para ser construída a linha para Cachoeiro de Itapemirim, com 120 km de extensão.

Os Correios e Telégrafos eram repartição federal, e incriminados pelo atraso com que era entregue a correspondência.

Quem queria enviar mensagem mais urgente fazia-o pelo cabo submarino da Western Telegraph Co., com escritório na Praia de Santa Helena, no lugar conhecido como Pedra da Western, onde se refugiavam namorados.

As estradas eram estreitas e de chão, esburacadas e de trânsito impossível, na época das chuvas. O senhor Sérgio Peres levou 71 dias numa viagem de São Paulo a Vitória.

Haviam na cidade, 122 caminhões, 207 automóveis, e 23 motocicletas.

O único meio de transporte coletivo do centro para Praia e Santo Antônio, e bairros intermediários, eram as linhas de carris elétricos, os populares bondes que percorriam, sobre trilhos, 26 km. Com o progresso do transporte automotor ficaram deficitários e havia falta de material de reposição, tendo o querido meio de transporte sido extinto, em 1963. Os bondes, para sua operação, envolviam condutores, fiscais e motorneiros, todos uniformizados e pilhados, pela polícia, em constantes brigas.

Como não havia ao final da linha um viradouro, os bondes ali chegando invertiam ruidosamente a posição dos bancos. Suas garagens eram na Praia Comprida e na rua Sete de Setembro, ao lado da convertedora de eletricidade. O serviço era operado pela mesma empresa que monopolizava a eletricidade e os telefones urbanos, a C.C.B.F.E., que o povo glosava para “comprei cachaça, bebi, fiquei embriagado”.

Os condutores, na descrição de Luiz Guilherme Santos Neves, “usavam o estribo do lado direito do veículo, carregando em uma das mãos o troco, moedas e notas, metidos entre os dedos, movimentando-se, às vezes, com extrema dificuldade, nos bondes repletos, espremendo-se contra os pingentes (os que iam nos estribos). Este trabalho tornava-se verdadeira condenação nos dias de chuva, obrigando os cobradores a trabalhar horas literalmente ensopados d’água, subindo e levantando as cortinas de lona que protegiam os passageiros (mal) das chuvas fortes, sentados e em pé, entre os bancos.”

Eram frequentes os acidentes com os bondes, de seus passageiros que caíam do estribo, batiam em postes como o da Catedral e da reta do Romão, ou atropelamento de pedestres. Dos mais antigos registrados pela imprensa, temos Joviniano Alves que foi colhido pelo reboque, em Vila Velha, na avenida Jerônimo Monteiro, em frente à padaria Espírito Santo. Em 23 de novembro de 1931, o bonde 49 colheu em Caratoíra a veneranda senhora D. Francisca Woefel, de 60 anos, matando-a. Era ela mãe de Josino Woelfel, comerciante em Santa Leopoldina. Henrique Woelfel, auxiliar de comércio, e de Emília W. Stange, e avó do professor Alberto Stange Jr.

Em 1943 foi extinto o tradicional bonde circular, que dava a volta ao centro da cidade, subindo e descendo ladeiras, e deslocado o ponto final para a praça Costa Pereira.

Nilton Pimenta, que durante muitos anos chefiou o serviço de bondes, esclarece que havia 26 carros elétricos, inclusive um bagageiro denominado “taioba”, e andavam a 30 a 40 km horários, levando de 65 a 70 passageiros. As linhas eram, na ilha, Praia, Santo Antônio, Cruzamento e Jucutuquara, e no continente Paul a Piratininga, passando por Garrido, Aribiri, Glória e Vila Velha.

Para se atingir da ilha, Paul, no continente, a mesma empresa mantinha as lanchas Elizabeth e Santa Cecília, além dos botes particulares – catraias – operados por catraieiros de cem réis.

As linhas intermunicipais de ônibus mais antigas foram a Vitória-Vila Velha e Vitória-Cariacica. Mais tarde criou-se a linha Vitória-Serra-Nova Almeida e Santa Cruz, operada por José Norbim e com ponto na praça Costa Pereira. A linha para São Mateus só foi criada em outubro de 1938.

Em 1939, tínhamos auto-ônibus para Cariacica, Serra, Vila Velha, Afonso Cláudio, Santa Teresa, Pau Gigante (hoje Ibiraçu), Fundão, São Mateus, Viana, Campinho, com saídas da praça Costa Pereira, praça Oito de Setembro e Cais de São Francisco.

Neste mesmo ano a Prefeitura abriu concorrência, pelo decreto municipal 821 de 13 de dezembro de 1939, para a primeira linha regular de ônibus urbano da Praça Oito até a Praia Comprida, terminando na avenida Saturnino de Brito, esquina com rua Afonso Cláudio.

As ligações com o Rio de Janeiro e Minas Gerais e municípios ao longo das linhas férreas eram feitas pelas Estradas de Ferro Leopoldina Railway e Vitória-a-Minas.

A primeira tinha sua estação em Argolas num feio barracão. Daí saíam, de manhã, o noturno e à tarde o expresso e o misto. Os maus serviços da Leopoldina eram glosados na imprensa: “Diz-se que, no Brasil, as empresas estrangeiras costumam instalar-se à semelhança de um Estado dentro do Estado”, considerando seus serviços com um retrocesso de 20 anos, e citando a bela Estação Pedro Nolasco do outro lado da rua, em Argolas, pertencente à Vitória-a-Minas. A nova estação da Leopoldina, ainda em funcionamento, foi, afinal, inaugurada em 1937.

Por mar também se chegava ao Rio de Janeiro, através da Companhia Nacional de Navegação Costeira, dona do Itagiba, Itaimbé, Itaquera e Itanagé, que naufragou próximo a Vitória: e o Lloyd Brasileiro, que operava o Araçatuba, Aratimbó, Ararangué, Itassucê e Itapurá. Havia também navios americanos, ingleses, alemães e italianos que aportavam a Vitória.

O transporte aéreo a novidade das novidades. Em janeiro de 1931 chegaram a Vitória “destemerosos aviadores” do Exército Brasileiro acompanhados de uma esquadrilha italiana, e as notícias eram acompanhadas com sensação, através de um placar colocado no Café Globo, na Praça Oito.

Depois surgiram linhas regulares do Serviço Aéreo Sindicato Condor, representado por Arens & Langen, à rua General Osório 6 a 10. Havia também a Panair que operava o Douglas DC 8 e o Baby Clipper. Eram hidroaviões e baixavam em Santo Antônio onde foi construído o Cais do Avião. Num desastre do Baby Clipper, pilotado pelo comandante Pearson, é que vieram a falecer, no Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1940, o exportador de café Alberto de Oliveira Santos e sua esposa Lucila Avancini de Oliveira Santos.

Havia também o Campo de Aviação de Goiabeiras, onde aterrisavam pequenos aviões, inclusive da Air France e os famosos zepelins. Em Vitória, o dirigível, representado também por Arens e Langen, fechava a mala para a Europa às quartas-feiras.

O zepelin teve uma forte fixação no imaginário popular, servindo sua foto sobre o Convento da Penha de capa à revista Chanaan de abril de 1936.

O escritor Almeida Cousin lembra que o zepelin passou repetidamente pelos céus de Vitória “sereno projetando a sombra na terra, brilhando ao sol com reflexos de alumínio”.

 

Fonte: Os dias antigos, 1998
Autor: Renato Pacheco
Walter de Aguiar Filho, julho/2012 



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