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Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro – Por Levy Rocha

Convento da Penha - Foto: UFES

Só agora chega às minhas mãos o livro de Frei Basílio Rower, em 3.a edição: "O Convento de St.° Antônio do Rio de Janeiro", publicado em 1945, pela Editora Vozes Ltda., de Petrópolis.

Aos historiadores capixabas, mormente à Professora Stella de Novaes e ao Norbertino Bahiense, que se ocuparam da história do Convento da Penha, parece que escapou essa fonte informativa de primeira grandeza. O incansável estudioso mergulhou nos documentos inéditos da biblioteca do convento antoniano, notadamente nos manuscritos organizados sob a epígrafe: "Tombo Geral da Província", que constituem cópia de papéis e documentos esparsos, verdadeiro tesouro daquele mosteiro.

Frei Basílio Rower relata que os primeiros franciscanos desembarcados na Guanabara com o fito de escolherem sítio destinado ao Convento, em 1591: Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas, vinham do Espírito Santo, onde haviam tomado posse do morro com a Ermida e casa de Nossa Senhora da Penha, de acordo com a doação feita por Luiza Grimaldi, governadora da província. Após tomarem posse da Ermida de Sta. Luzia (primitivo local escolhido), Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas, voltaram a Vitória, onde o primeiro faleceu moço, naquele ano, e o segundo, decorridos quatro anos, era investido no cargo de Superior.

No Rio, os dois religiosos haviam recusado o monte que os seus sucessores vieram a preferir, mas não é sobre o Convento de Santo Antônio que pretendo me ocupar nessas elucubrações. Reportar-me-ei aos frades dessa comunidade religiosa que também participaram da vida conventual na capital da província capixaba.

Assim, Frei Tomás do Rosário, português, antes de se tornar guardião no Rio, havia ocupado igual cargo na Vitória, em 1777.

Outro lusitano, em idênticas condições, foi Frei Manuel de S. Tomás Ramos, o qual ocupou a guardiania em Vitória no ano de 1774.

Ainda outro, português, Frei Manuel Luis da Madre de Deus Teixeira foi guardião, em Vitória, no ano de 1787.

Segundo o historiador ao qual nos reportamos, entre os anos de 1818 a 1821, dois capixabas presidiram os destinos do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro: Frei Joaquim de Sta. Catarina Loiola e Frei João Nepomuceno Valadares. O primeiro, nascido em Vitória, tomou o hábito franciscano no Rio, a 7 de setembro de 1799, ordenando-se sacerdote em 1803. Foi guardião: em Vitória (1811); Cabo Frio e São Paulo. Dotado de grande cultura teológica, viu-se nomeado teólogo da Nunciatura, em 1818, e teve os privilégios de Ex-Provincial. Enquanto esteve como guardião, no Rio, procedeu a restaurações num grande salão do Convento, o mesmo onde o pintor Victor Meireles se instalou, em 1871, para cumprir contrato com o Governo Imperial, executando suas mais famosas telas. Aquele atelier, muito provavelmente, teria servido ao artista catarinense, naquele ano, para pintar os dez retábulos (presentemente reduzidos a seis), que existem no Convento da Penha, tema alusivo à história e lendas do vetusto cenóbio. Frei Joaquim serviu vinte e seis anos na ordem, ocupando altos cargos e prestando relevantes serviços. Em 1824, passou a coadjutor da Matriz de Magé e no ano seguinte, secularizou-se. Diz Frei Basílio Rower que "é a primeira vez que temos de noticiar coisa semelhante de um guardião do Convento de Santo Antônio".

O sucessor de Frei Joaquim, seu conterrâneo, igualmente nascido em Vitória, Frei João Nepomuceno Valadares, era parente do Condestável Torquato Martins de Araujo Malta. Narra o historiador que ele tomou o hábito a 23 de junho de 1795, naquele Convento, no Rio, e foi ordenado sacerdote em 1800. Após servir em São Paulo, por seis anos, como lente, foi Secretário da Província em 1811 e no mesmo ano assumiu a guardiania do Convento de Macacu. Em 1814, tornou-se Secretário do Visitador e, no mesmo ano, passou a guardião no Rio. Por pouco tempo, esteve como capelão na Quinta da Boa Vista e no ano de 1821 foi guardião em Taubaté. Em 1834, ocupou a Custódia da Mesa sendo, ao mesmo tempo, Mestre de Moral e Secretário do Visitador. No período compreendido entre 1823 a 1834, ele serviu como capelão curado do Paço e Quinta da Boa Vista. Sabíamos nós, capixabas, segundo documentos existentes no arquivo do Convento da Penha, que Frei Valadares serviu como guardião por mais de uma década, em sua terra natal. Diz o seu biógrafo e irmão de confraria que lhe foram conferidas as honras da guardiania de direito: foi Definidor de jure; Examinador da Mesa da Conciência e Ordens; Deputado da Junta da Bula da Cruzada e Ex-provincial de jure. E acrescenta: "Servindo de Secretário da Província, faleceu aos 17 de dezembro de 1838 ..."

Muito embora Frei Basílio Rower mereça a classificação de maior autoridade nos assuntos históricos da ordem antoniana, no que ele informou sobre Frei Valadares deve ter havido alguns desencontros de datas. Os registros do Convento da Penha assinalam que esse frade foi eleito guardião daquele Convento em 1850. Três anos depois, ele reconstruiu, em alvenaria, as senzalas do Convento; reformou o telhado do mesmo e procedeu a reformas no santuário. A 28 de janeiro de 1860, coube-lhe a honra de receber o Imperador Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, na visita que os dois monarcas fizeram ao Convento da Penha. Decorridos dois anos, o dinâmico franciscano reconstruía o frontispício da Capela do Bom Jesus, naquele Convento. A historiadora Stella de Novaes escreveu que o "operoso guardião faleceu, em Vitória, a 15 de março de 1865, e foi sepultado no Convento de São Francisco. Recebeu a homenagem de um enterro concorridíssimo."

Outro lusitano que, segundo Frei Basílio Rower ocupou a guardiania em Vitória, no ano de 1821, foi Frei José de S. João Crisóstomo.

A glória dos oradores sacros, orgulho da ordem, Frei Francisco do Monte Alverne, antes de ser golpeado pela cegueira, serviu, aos 37 anos, na guardiania em Vitória. O Convento de Santo Antônio conserva como preciosidade histórica, a cadeira de jacarandá, com espaldar e descanso para os braços, que D. Pedro II lhe ofereceu (pondo em dúvida a autenticidade), e que teria sido usada pelo Padre José de Anchieta.

O carioca Frei Francisco de S. Carlos, outro primoroso orador, dotado de grande erudição, também esteve como guardião, no Convento da Penha (1807).

Além dos mencionados elementos históricos que nos fornece o livro de Frei Basílio Rower, encontro, finalmente, esse registro: em 1911, o Governador do Arcebispado, Mons. João Pires de Amorim (outro capixaba), solicitou e obteve a trasladação dos despojos da nossa primeira Imperatriz, D. Leopoldina; de sua filha, D. Paula Mariana e uma filhinha da Princesa Isabel, de um convento português, que fora vendido a um sindicato americano, para o Convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro.

 

Fonte: De Vasco Coutinho aos Contemporâneos
Autor: Levy Rocha,1977
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015

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