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De bonde com Grijó - A esta altura, o bonde está parado no ponto, em frente ao Café Avenida

Teatro Glória - Foto: Otávio Paes, 1936

A esta altura, o bonde está parado no ponto, em frente ao Café Avenida. Porém tenho que retornar ao Mercado da Capixaba, para assinalar a existência do Armazém do SAPS — Serviço de Abastecimento e Pensão Social foi um Serviço criado pelo Dr. Getúlio Vargas, com a finalidade de servir alimentação mais barata ao servidor público. Foi o pioneiro em serviço de bandejão no Brasil. Seu primeiro diretor no país foi o Dr. Edson Pitombo Cavalcante, que tinha como esposa D. Suly. Foi dono da Fazenda Fontelimpa, no Município da Serra. Em frente ao ponto de parada, o último da Avenida Capixaba, no lugar onde existia a firma Theodoro Wille, foi construído o edifício Ouro Verde, e ao seu lado funcionavam os escritórios das máquinas de costurar Pfaff, firma que também será inserida no comentário do quebra-quebra. Depois que a Pfaff desocupou o prédio, este passou a abrigar um salão de jogos de sinuca e na loja uma sorveteria, chamada Pingüim, de propriedade do Sr, Osmundo Pandolpho. Era casa que para a época apresentava uma certa modernidade verificada nos grandes centros. O serviço de sorveteria era excelente. Os salgados e doces eram confeccionados por Dona Elvira, esposa do Sr. Osmundo. Seus filhos Rubens e Carlos eram dois bons jogadores de basquete e voleibol. A frequência da casa era de primeira e tinha um detalhe: não se servia cerveja. Os quibes recheados, tenho até hoje no paladar. Na parte superior estava instalado o salão Ideal, de propriedade do Sr. Antônio Saad, pai de Abdo e Chico. Ficava às vezes aberto até as três da madrugada e nele funcionavam mais de vinte mesas de sinuca. No referido salão passei o maior sufoco de minha vida de rapaz. Eu trabalhava com o Dr. Paulo de Tarso Veloso e o Sr. José Gonçalves, que eram despachantes aduaneiros. Num dia de sábado fui mandado pelo Sr. José para ir apanhar o visto de uma documentação, no Serviço da Economia Rural, pois o navio estava com saída prevista para a parte da tarde. Porém era sábado e o expediente ia até meio-dia. Fui à Economia Rural e resolvi o serviço rápido. Quando ia passando no Café Avenida, sentado na primeira mesa, sozinho, estava o amigo José Beiriz, o Beirizinho, que era bom de sinuca. Tomei um cafezinho pingado com ele e fui desafiado por ele para levar mil pontos. Este jogo dando mil pontos, no caso meu eu só poderia matar a bola vermelha após matar uma numerada. Depois de feito isso eu poderia jogar na vermelha e eliminá-la. Só que entravam todas e as vermelhas, em número de quinze, enquanto ele tinha o trânsito livre. Sendo que a minha bola da vez era a partir da bola dois sucessivamente me dando o direito de arriscar em qualquer uma. Se todavia errasse, os pontos somariam para ele. Topado o desafio, fomos para o salão. Isso já passava das 9h30min. Este tipo de partida durava cerca de uma hora. No entanto, como o Beiriz defendeu muito as bolas, ultrapassou a hora. E eu nem me lembrava dos documentos e que tinha que ir ao Banco do Brasil. Estávamos pelas bolas seis e sete. Nessa altura o Dr. Paulo e o Sr. José me procuravam por tudo quanto era lugar da cidade. Foi quando o garçom Nelson disse: "Ele deve estar no Ideal jogando com Beirizinho". Aí o Zé Gonçalves, que todos chamavam-no carinhosamente de Zé Cabeção e ele pouco ligava para isso, partiu para o Ideal com as "capetas". Nessa altura disputávamos pela sete e eu estava com a fancho (taco grande) para ajudar a matar a sete. Em desvio de olhar deparei-me com aquela cabeça crescendo na escada. Me apavorei em jogar e o taco espirrou. No mais, devo dizer que ele só não me chamou de santo e Jesus Cristo, de resto ele me chamou de tudo e mais algumas coisas. Porém, com as amizades que possuía consegui legalizar os papéis na alfândega e no Banco do Brasil, pois o prazo normal era até às 11 horas. Eram dois homem de bom coração, e depois da bronca me deixaram passar o sábado e domingo sem o vale semanal e que na segunda-feira o meu caso seria resolvido. Resultado: continuei trabalhando, no entanto proibido de passar pela porta do Ideal. Nessa altura eu estava com 18 anos.

Na Gonçalves Dias existia um bar que marcou época. Era o bar Bate-Papo, nome dado por ser frequentado pela maioria do bloco carnavalesco do Saldanha da Gama. Por lá ponteavam alguns dos seus componentes: meus tios Mário e Darcy Grijó, o Garrafa, Orlando Ferrari, Jorge Lopes, Carlos Moreira Lima, Dário Derenizi, Milton Mil e Quatrocentos e outros. Seus proprietários eram Rubens Nunes, Barduil da Burrinha e Alberto Harrigan. Em cima, na esquina com a Jerônimo Monteiro, o consultório dentário de Ataliba Cabral. Depois do bar, o escritório de Duarte & Beiriz, que era na época o Sr. José Beiriz, um dos homens mais ricos do Estado, chegando a possuir uma casa bancária em Iconha: no entanto não soube acompanhar a desvalorização do cruzeiro e ficou sem nada. Em seguida vinha o restaurante do Sr. Pinto, apelidado de "Pinto Sujo". Ali, além de um serviço de bar com aperitivos e batidas, havia um jogo de barulho (sueca e escopa) enquanto se esperava uma vaga para o almoço ou jantar. Apesar do apelido, comia-se bem. Seus filhos, Amadeu e César, ajudavam no dia-a-dia. O Amadeu era radiotécnico, e o César, um excelente remador do Saldanha da Gama, era contador. Sua frequência era boa e variada. No fundo, o escritório do Sr. Plácido Barcellos, onde o mar batia próximo a sua porta. Em frente, o Café do Cícero, que servia o cafezinho e tinha serviço de charutaria e cigarros, além do café Glória. Era um café tão bom que era quase obrigatório quem fosse para fora do Estado levar pacotes dele para presentes (aliás era raro quem viajasse não levar café torrado, banana da terra, a cachaça Cariacica dos irmãos Schwab e bombons Garoto), era forma de agradar a quem nos recebia lá fora. No entanto, ainda havia aqueles que na véspera de sua viagem ou na estação, lhe entregava uma carta ou encomendas das mais diversas, para que fosse entregue a um amigo ou um parente. A pessoa às vezes perdia um dia devido à incumbência "chata" e incômoda, mas irrecusável. O Zé Amigo, que vinha a Vitória quando estudava no Rio de Janeiro, não dizia o dia do retorno para evitar de levar encomendas.

Depois do cafezinho, vinha o Bar Glória, que primeiro foi do Sr. Teixeira, pai do Teixeirão, e depois passou para os senhores Maurício e Elias e tinha como garçons Agenor e Zé Cariacica. Era um bar com cadeiras e mesas de vime pelo lado do mar e mesinhas de mármore na parte interna. Nos fundos, cercado por um biombo, existia um reservado, onde homens como Dr. João Chrisóstomo Beleza, Hélio, Alberto e Jorge Oliveira Santos, Professor Mário Tavares, João Miranda, Pedro Lima do Rosário, Armando Ayres, tratado pela turma de "Mamande", Mário e Primo Pretti, Paulo Velloso e Professor Arildo Lima, a partir das 18 horas, disputavam vaga em duas mesas para a disputa das partidas de biriba e buraco, valendo apenas a gozação, pois nem rodada de aperitivos era disputada. Para quem não conseguia lugar restava o consolo de ocupar uma vaga que sobrasse ou então ficar até às 21 horas "piruando" e levando bronca. Às vezes, quando só estavam em três, os componentes do grupo, na "fome" de jogar, pegavam um mais novo para completar o número necessário; no caso, eu e outros que fazíamos aperitivo na outra parte do bar. No entanto, chegando um na roda, dava-se o lugar ao "titular". Na parte da frente do bar, eu, juntamente com os amigos Francisco Lima, Marcelo e Paulinho Monjardim Cavalcante, Haroldo Brasil, o saudoso Maurício Tristão, o Bombom, e Walmir Wanich, fazíamos aperitivos diariamente após as 18 horas, quando, além de comermos os saborosos pastéis feitos pela esposa do garçom Agenor, ainda tínhamos as esfirras e quibes preparados pela esposa do Sr. Ellias. Tudo isso, acompanhado de uma cerveja gelada, uma purinha ou uma cachaça Síria. No tempo em que o bar era do Sr. Teixeira, aos domingos, quando a garotada saía das matinês do cinema, o maior prazer da turma era sentar-se às mesas e saborear aquele creme tipo manjar com uma ameixa e sua calda, que custava, o copo. CR$ 0,30. Tempo bom...

Ainda pela parte do fundo do Bar Glória, ao lado ficava o Ed. Nicolleti, onde na parte térrea o Alberico Nicolleti tinha o escritório de corretagem de café. Dali para frente era tudo água. O Teatro Glória até hoje faz sua entrada através da avenida Jerônimo Monteiro e a saída pela Gonçalves Dias. Porém, como acessos ao prédio, além da entrada pela avenida, existe também a entrada pela avenida Princesa Isabel. Na parte de cinema, existia uma só sessão, das 20h30min horas, que era um verdadeiro desfile de modas da alta sociedade. As filas eram imensas e a lotação do cinema era total. Para evitar abusos, tais como fumar no recinto, algazarras de jovens e até namoros inconvenientes, três policiais patrulhavam o salão de projeção, que também constava de camarotes e galeria ou balcão na parte superior. Seus nomes eram: Oswaldo, Pedro Aniceto e seu Calazans, que, por ser baixinho, era chamado pela garotada de "Passocada", e quem assim o chamasse poderia preparar-se para um bom "carreiraço". Vou contar um fato que deu trabalho ao cabo Pedro Aniceto. E, devido a posição social e cargos que exerceu o personagem do caso em grandes empresas da cidade, vou omitir seu nome. Em uma sessão de domingo, o cinema já quase cheio e faltando poucos minutos para o início do filme, o nosso amigo (cujas iniciais são L.C.S.G.) tirou de dentro de uma sacola de papel de padaria uma manga-rosa enorme e começou a chupá-la. Alguns vizinhos de sua cadeira procuraram o cabo e lhe comunicaram o que estava acontecendo. O Aniceto dirigiu-se ao nosso amigo e solicitou que ele saísse do cinema. Mas, diante das alegações de L.C.S.G., o cabo concordou que ele jogasse o resto da manga já bem dilacerada fora. Após lavar as mãos retornou, ovacionado por nossa "galera". Eu juro que jamais fiz, mas existia uma turma que ia para o balcão e lá de cima jogava um óleo para cabelo da marca Vertea. A pessoa que fosse atingida com os pingos poderia sair da sessão, pois o cheiro deste óleo, ou do Dyrce, era insuportável. Outra brincadeira de mau gosto eram as bombas-relógios, que consistia no seguinte: a pessoa pegava uma bomba cabaça de negro e em seu pavio colocava meio cigarro Hollywood ou Continental, que queimavam sozinhos, e a escondiam em qualquer parte do cinema. Quando a bomba atingia o pavio vinha o estrondo, assustando todo mundo. Loucuras da juventude da época, que não causavam danos a ninguém. Boas peças teatrais foram ali apresentadas, além dos shows com cantores. Foi palco de grandes solenidades cívicas, com entregas de diplomas de formatura de colégios e universidades, palestras e comícios políticos, tendo até presidentes da República discutido e mostrado suas plataformas de governos. Este teatro até hoje é de propriedade da Empresa Santos & Cia, cujo proprietário era o Dr. Francisco Cerqueira Lima. Também era de sua propriedade o Cine Politeama, localizado na esquina da Av. República com a Cleto Nunes, sendo considerado uma "poeira" de primeira linha. Sua construção era metade alvenaria e metal madeira; a cobertura era de folha de zinco e seu piso em frisos de madeira, com uma inclinação para maior visibilidade da plateia. Sua máquina projetora era uma lástima, sendo comum um filme ter quatro a cinco interrupções devido à quebra da fita. Mas o pior de tudo era quando caía um temporal de surpresa. Aquela área do Parque Moscoso inundava até com "dois copos d'água cheios". A água invadiu o cinema e com isso os ratos e baratas, que só eram vistos durante as sessão com raras passagens, saíam de suas tocas e aí era um Deus nos acuda, principalmente com os gritos histéricos do sexo frágil. Na década de 50 ele foi demolido e deu lugar a um moderno teatro, o Santa Cecília, nome este emprestado à esposa do Dr. Francisco. A empresa ainda detinha o domínio do Teatro Carlos Gomes, na Praça Costa Pereira, através de contrato de arrendamento ao Estado, que durou mais de trinta anos. Durante o governo do Dr. Christiano Dias Lopes, não houve mais renovação do contrato, e o governo procedeu a uma grande reforma e entregou sua administração à Secretaria de Cultura. Mas este cine e teatro proporcionou grandes alegrias, principalmente para a garotada da época, com os filmes do far west, os artistas Buck Jones, Cherle Starret, Tim Mcoy, Calombau, Roy Rorgers, Jonny MacLanne e o Índio Tonto. Os seriados de Flash Gordon Fantasma, Bezouro e Homem Pássaro nos levavam à loucura. Eles eram passados na matinê aos domingos e exibidos nas segundas-feiras em reprise. Assim como Politema, era exibida a famosa sessão colosso também na segunda-feira, com um preço mais barato. E, por falar em preço, no domingo pagava-se CR$ 1,00 na plateia e cadeira e CR$ 0.60 na torrinha ou geral. Impressionante era a garotada quando as luzes do cinema iam se apagando para o início da sessão; era uma coisa de louco e parecia que o prédio ia desabar, tal a euforia da garotada e, por que não dizer, de muitos adultos. Outra curiosidade eram os vendedores de balas. Havia até um ditado que se usava muito em tom de enchova um termo muito usado pelo habitante da Ilha, que significava gozação e dizia: “Aí a luz acendeu e o baleiro gritou: ‘Baleeiro’”. Existia um funcionário muito antigo na empresa que atendia pelo apelido de Capitão. Era de estatura baixa e já com uma idade beirando os 50 e poucos anos. Sua função, além de fazer limpeza do cinema, era também a de porteiro da geral. Depois que a sessão iniciava, era moleza adentrar a geral, pois o cansaço da lida diária acabava causando-lhe grandes cochilos; aí a raça subia em pontas de pé pela escada tipo caracol para a geral. Outro modo de entrar sem pagar era através das portas laterais, que eram divididas ao meio para facilitar a ventilação: então um da turma entrava pagando e se escondia por de trás das cortinas e abria os trincos, e, quando a luz se apagava, a turma ia penetrando pela porta entreaberta: às vezes os guardas flagravam, mas estou narrando tudo isso para me referir à Empresa Santos & Cia.

Até que um esquecimento tem horas que me favorece para um novo assunto. Assim é que na loja do Ed. do Arens Langen, por volta de 1950, foi aberta uma agência do Banco Mineiro da Produção S.A, que funcionou ali até o final da mesma década. Como a agência era ociosa, os administradores da matriz, em Belo Horizonte, resolveram encerrar o seu funcionamento em nossa cidade. Para tal, trouxeram para Vitória o então contador da agência de Theófilo Ottoni (MG), promovendo-o a gerente para executar tal finalidade, ou seja, encerrar as atividades do banco em nossa ilha. A agência funcionava com uns doze funcionários ao todo. Quem passava pela rua mal enxergava o interior do estabelecimento. A primeira medida do Sr. Hélio Baeta de Magalhães Gomes, que iria responder pela agência, foi contratar os serviços da empresa de pintura do Sr. Dionísio Abaurre, mandando executar uma pintura geral. Mudou em seguida o sistema de iluminação, implantando a luz fluorescente. Estas medidas foram de impacto, pois a claridade da luz e o realce da pintura branca chamavam a atenção dos transeuntes, que passaram a perceber que ali era uma agência bancária. Os funcionários passaram a usar camisa creme com gravatas. Uma campanha chamando os comerciantes de diversos tipos de negócios foi feita e propostas de empréstimos e solicitações para aberturas de contas/correntes surtiram efeitos, e o pequeno saldo de conta foi aplicado em empréstimos. Já no primeiro mês, as coisas começavam a se estabilizar e o número de clientes começava a aumentar. E isso animava mais o Sr. Hélio, que continuava a percorrer o comércio indistintamente para angariar mais clientes. No entanto, a matriz continuava irredutível. O Sr. Hélio foi até Belo Horizonte e conseguiu um crédito limitado do presidente do banco, Dr. João Quadros. Com isso ele começou operar (termo usado nos meios bancários) com mais firmeza. Vez por outra a matriz chamava-lhe a atenção por ter ultrapassado o limite de empréstimos. Mas a agência crescia mês a mês. Assim é que novos funcionários foram admitidos. O seu crescimento, após dois anos de gerência do Sr, Hélio, era tão grande que ele conseguiu sair do local primitivo para uma área maior e com acomodações melhores, ocupando as lojas e sobrelojas do Edifício Santa Mônica, na Jerônimo Monteiro. Seu quadro de funcionários foi crescendo: de 18 funcionários foi para 32. Dentre as inovações cite-se o atendimento ao cliente feito pelo elemento feminino, uma novidade no Estado. Foi contratada uma equipe de moças de nossa sociedade e de muita beleza, que marcou uma característica do banco, apresentando o melhor atendimento da Capital. Nessa altura o Benge (que era endereço telegráfico) já era disparado o banco líder da cidade. A agência já não sofria pressões da matriz, e seu crescimento acentuou-se cada vez mais. Uma inovação criada pelo Sr, Hélio foi durante a gestão do governo Francisco Lacerda de Aguiar. O funcionalismo com salários atrasados vivia a maior penúria. Para amenizar a situação o Sr, Hélio criou um tipo de empréstimo chamado de Natal do Funcionário, por meio do qual ele podia adquirir um empréstimo de 50% de seu salário e desconto em 30, 60 e 90 dias depois de preenchidas as exigências do banco. Filas que iam da porta do edifício onde funcionava o banco se estendiam até a Praça Oito de Setembro. Pessoas até levavam marmitas para a fila, pois o banco adotou um sistema todo especial de funcionamento e o funcionário solicitante ia dali para o trabalho. O Banco Mineiro da Produção chegou a um ponto de crescimento que suplantou todas as agências do Banco Crédito e Agrícola do Espírito Santo, hoje Banestes. Diante do progresso alcançado a matriz teve que render-se e elevou a agência que era para ser fechada à categoria de filial, nivelando-se à do Rio de Janeiro, à de São Paulo e à de Minas Gerais. Com as acomodações apertadas para o número de clientes a matriz resolveu construir uma sede própria, sendo o primeiro prédio construído na Esplanada Capixaba e que representou em 1960 um marco importantíssimo para nossa capital, pois as outras agências foram obrigadas a se modernizar para diminuir em relação ao Banco Mineiro da Produção o grau de inferioridade em acomodações e conforto aos clientes. Dessa forma, aquelas lojas escuras, com balcões velhos e até sujos, funcionários ociosos e até intratáveis, modificaram-se, e novas dependências foram construídas. Dessa época em diante, a vida bancária no Estado tomou novo rumo. Em 1962 a nova filial de Vitória passava para o endereço da Avenida Governador Bley e provava a competência de um homem que, saindo de uma contadoria de agência do interior de Minas Gerais, elevou ao ponto mais alto a agência de Vitória, transformando-a em filial de primeiro nível. No dia do assentamento da pedra fundamental, uma caixa de cimento foi enterrada no local da pedra com mensagens, lembranças etc. para a posteridade, onde poderá um dia ser encontrada, caso um dia aquele local seja removido. Em sua história, ainda conta o fato de ter sido o primeiro estabelecimento do ramo a ser assaltado. Este fato teve como protagonista um funcionário que concorreu ao cargo de vereador à Câmara de Vitória. Tendo ele perdido as eleições e ficando em situação financeira comprometedora, planejou o assalto Juntamente com dois comparsas. Planejaram assaltar o caixa-forte quando o Sr. José Tabachi, que era o tesoureiro, fosse nele depositar o dinheiro. Mas na hora de execução o plano falhou, pois os assaltantes, todos calouros, se afobaram, o que contribuiu para que o Sr. Tabacni percebesse a presença dos três. Ele, com sua presença de espírito, saltou para trás e fechou a porta trancafiando os três, que foram presos em flagrante, custando ao nosso ex-colega doze anos de penitenciária. Nesse banco eu tive a honra de trabalhar com o Sr. Hélio Baeta de Magallhães Gomes, que fazia a união dos funcionários promovendo festas em clubes, em sua residência em Camburi, à época que ali só existiam, além da casa dele, as de Cid Dessaune, Aprígio Vieira Gomes, Sr. Rosetti, Edmilson Esteves, José Maria Vivacqua dos Santos e João Avanza. Havia também uma casa de encontros, que pertencia a Aurora Rezende, a "Aurora Gorda", que ficava mais retirada das casas citadas. Nas proximidades de onde hoje se encontra o Restaurante do Ferrinho, ficavam as residências dos irmãos Lourival e Norival Nunes, que eram proprietários de quase toda área até a Ponte de Piranhaen, onde hoje se situa o Porto de Tubarão. Ali na casa do Sr. Hélio, quase todo fim de semana fazíamos churrasco, moquecas e feijoadas, na maioria sob meu comando culinário. A catequese do Sr. Hélio exerceu uma influência tão grande em matéria de trabalho em nossas mentes para conquistarmos novas contas que até dançando nós medíamos na cabeça da garota para que ela fizesse com que o pai dela abrisse uma conta no banco. No dia seguinte recebíamos um telefonema de que o pai dela iria abrir uma conta. Isso tudo fazíamos em reconhecimento do que ele fazia por nós. Voltando aos colegas de serviço, grandes lembranças do Sr. Arlindo das Neves Elias e Dinor Ruas, o Tenório, devido à semelhança física entre ambos; de Kleber Nunes, Gerson Costa, Dona Nali Ferreira Lyra e Elci, que eram as duas mulheres que trabalhavam antes da invasão feminina no banco; de Ivan Brum Lucas, José Tabachi, Ronaldo Moyses, Paulinho e Mário Basílio de Souza, Brasill Washingrton de Araújo, Dídimo Brandão, José Cláudio Grijó de Azevedo, Cassiano Moraes Duarte, Osmar Machado, José Valss Filho, Mirim, Zé Elias, Arnaldo Bandeira, Rosely Campos, Altemar Freitas, José Maria Intra, Itamar Danúzio Figueiredo, Nacip, Jair, José Felisberto da Silva, Wildon Gomes Feitosa, Hermes, Cleber Alcure, Aloir, o "87", Zélio José Malheiros de Gouveia, Conceição, Nalli Ferreira Lyra, Noir, a funcionária mais antiga de nossa agência, Alfredo Pimentel, o Alfredão, Walfrido Queiroz, Edmir da Silva, o China, Aquilau, Tristão, os irmãos Aroldo (meu padrinho de casamento) e Arivaldo e Itamar. Mas o escrete feminino era de matar qualquer um com a beleza das funcionárias, hoje a maioria casada: Angela Aguirre, com Frederico, Maria Benedita, com Raimundo, Marília Antunes, que foi a primeira apresentadora de programa infantil na TV, local e uma das primeiras no Brasil, a Priminha, Abgail Machado, Ruth Léa Bigossi, Leida Mondenese Pereira, Jandira Rocha, Heloísa Esteves e Giselda Cassiari. Na atualidade todas têm seus nomes mudados, devido aos casamentos. Escolhidas por namoro e depois um casamento. Teresinha Firme da Silva casou-se com José Cláudio Grijó de Azevedo, Lúcia Frederico é madame de Ronaldo da Silva Moyses. Outros namores surgiram mas acabaram não dando em nada. Ia esquecendo-me de dona Olindina, encarregada da cantina, e da escriturária Ana Maria. Depois da modernização imposta pelo Benge, outras agências bancárias da cidade, que eram em número reduzido, mas de grandes bancos do país, como Banco da Lavoura, Crédito Real, Nacional Comércio Industrial de São Paulo, Hypotecário e Agrícola de Minas Gerais, Comércio e Indústria de Agrícola Minas Gerais, Banco de Londres, Banco de Crédito e Agrícola do Espírito Santo Ruralbank, hoje Banco do Espírito Santo, o Banestes, além do Banco do Brasil. Mais tarde a Codescred, Companhia de Desenvolvimento e Crédito, foi transformada pelo seu ex-presidente e, após a indicação do Dr. Arthur Carlos G. Santos para governar o Estado, transformou-se em Banco do Estado do Espírito Santo. No meio dessas agências grandes gerentes e funcionários por elas transitaram, como: José Soares, Lívio Leite de Vicenze, Cláudio, que tinha uma semelhança física idêntica à do cantor de emboladas Manezinho Araújo, Sr. Guaracy Carneiro, Lauro Ramos Torres, Tardin, Varela e o Sr. José Vallas. Quem fosse solicitar empréstimo, mesmo com a ficha de cadastro aprovada, passava por outra "sabatina", feita pelo Sr. José Vallas, José Medina, Arlindo das Neves, Elias e, é claro, pelo Sr. Hélio Brêta de Magalhães Gomes. A maioria das agências, ou quase todas, ficava na Jerônimo Monteiro, e foi após o aterro da Esplanada Capixaba que elas foram mudando de lugar (mas este é assunto para depois).

Ainda com relação à Avenida Capixaba, a lembrança de Hilson Batalha, ex-gerente do Banco do Brasil e da Firma Diamantino Barbosa, que explorava o ramo de ferragens e material de construção. Era pai do atleta do Saldanha da Gama, Newton Pandolpho, que trabalhava na firma com seu primo Mário. Depois de trabalhar muito tempo como empregado de meu pai, o Sr. Diamantino saiu e montou sua própria firma, fazendo concorrência. Voltando ao prédio do Glória, ali funcionava a Câmara de Vereadores de Vitória, por muitos anos, que foi levada para lá, por volta de 1945, depois de funcionar muitos anos no prédio da Prefeitura de Vitória, na Rua Sete de Setembro. Outro que foi funcionário do Pan Americano, que pertencia ao meu pai e ao tio Raul, foi o Darcy Brasileiro da Silva, que também fundou uma loja de utilidades em pequenas ferragens, na avenida República. A Câmara de Vereadores mudou-se para o Ed. Glória, no último andar. Ali permaneceu por duas décadas. Depois do Glória, ela transferiu-se para local próximo ao Palácio Attílio Vivacqua, PMV, em Bento Ferreira (abordarei mais tarde a história desse bairro). No Glória funcionavam diversas repartições públicas e algumas moradias de rapazes e senhores solteiros, Um dos moradores era o jornalista, escritor e poeta Edgard Gomes Feitosa, além de Américo Souza, mais conhecido como 'Memeco', que era cria da família Morgado Horta, família tradicionalíssima de Vitória, e coroinha da Igreja de São Gonçalo, como também matraqueiro nas procissões de Nosso Senhor Morto (grande criatura humana). Quanto às repartições, a Receita do Estado funcionou no primeiro andar por muitos anos, até mudar-se o prédio das Repartições Públicas, construído por Jones Santos Neves, quando governou o Estado de 1950 até 1954. Como referi-me à família Morgado Horta, devo lembrar que o Prédio das Repartições veio ocupar o local onde funcionava a Casa Morgado Horta, uma casa de grande porte comercial e tendo o forte comércio de roupas, calçados e material esportivo. Seus proprietários eram: José, Manoel, o Manduca, e Alfredo. O Manduca era pai do atual Secretário de Estado Marcelo, além de Murilo e Marisa. José, mais conhecido como Costinha, e o Alfredo, um representante de boas firmas sendo seu carro-chefe a Armico. Foi um homem que prestou grandes benefícios à juventude capixaba, no tangente a educação e civilidade, sendo suas maiores virtudes ajudar estudantes, custeando ensino superior e tendo conseguido junto ao Ministério da Guerra a implantação do EIM-277 – Escola de Instrução Militar —, conhecida popularmente como Tiro de Guerra, que passou a funcionar nas dependências do Clube de Regatas Saldanha da Gama, que aliás teve a sua sede adquirida através do voto decisório de José, o Costinha, que votou a favor da compra do então prédio do Cassino Trianon, que pertencia ao Sr Geremias Sandoval. Alfredo Morgado Horta era um dos saldanhistas mais ferrenhos que existia na história do clube. Seu ponto de encontro era o popular Café Avenida, e uma coisa que o identificava era a marca do cigarro que ele fumava, o 17. Um tipo de cigarro diferente por ter espessura duas vezes maior que a dos convencionais e era superforte, igualando-se a um charuto. Mas voltemos ao Glória, que era o Departamento de Agronomia e Agricultura. Aliás, esta repartição foi palco de uma passagem triste. Um cidadão de Vitória, doente dos nervos e que já havia tentado suicídio várias vezes, num dia pela manhã, adentrou correndo pelo escritório e em seguida deu um salto para a morte atirando-se pela janela, não dando chance para que alguém o interceptasse. Conseguiu o que não havia conseguido das vezes anteriores. Espatifou-se no meio da Governador Bley. Ainda na Gonçalves Dias funcionava, e funciona até os dias de hoje, uma "bonbonnière", que pertenceu muitos anos ao Rubens da Silva Nunes, o Barduil da Burrinha (gostava de montar uma burrinha de brinquedo nos carnavais). Na Jerônimo Monteiro, apenas o Banco Comércio e Indústria de São Paulo, cuja agência teve como implantadores os senhores Dalmar, gerente, Heros Rodrigues, contador, e Osório Terin, subgerente.

 

Fonte: A Ilha de Vitória que Conheci e com que Convivi, vol. 6 – Coleção José Costa PMV, 2001
Autor: Délio Grijó de Azevedo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2019

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