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Década de 1930 – Estudos e projetos de água para o ES

Adutora de Duas Bocas, com diâmetro de 500 mm, 1936 - Foto: Celso Luiz Caus

Ano: 1930. O abastecimento contemplava Vitória e alguns distritos de Vila Velha e Cariacica, como já mencionado. O país passava por transformações com a crise que culminou na Revolução de 30, na era Vargas. No Espírito Santo, em 22 de novembro de 1930, o capitão João Punaro Bley fora nomeado interventor federal. E o abastecimento de água e esgotamento sanitário continuava sendo administrado pela Diretoria de Águas e Esgoto da Secretaria de Agricultura, Terras e Obras.

Quatro anos depois, em 1934, a população beirava 48 mil habitantes e a vazão média de água distribuída era de 67 litros por segundo, com volume de 5.780 metros cúbicos por dia. Grande parte das tubulações estava em estado precário e, como consequência, as perdas do precioso líquido eram elevadas. Se compararmos a vazão distribuída de 1910, de 46 litros por segundo que correspondia a 4 mil metros cúbicos por dia, com o início dos anos 30, a nova vazão de 67 litros por segundo aumentou muito pouco, já que houve crescimento populacional e ampliação do atendimento para mais distritos de outros municípios. Pior: o abastecimento tornou-se insuficiente e a população gritava por falta de água.

Não deu outra: mais uma vez, o Governo do Estado solicitou que a Diretoria de Águas e Esgoto realizasse estudos e projetos para atender a demanda necessária. Foi, então, que o engenheiro Renato Leal, colega de turma do secretário de Agricultura, Terras e Obras, Augusto Seabra Moniz, entrou em ação. Quem comandava a Diretoria de Água e Esgoto era o engenheiro José Alves Braga.

Os estudos concluíram que havia necessidade de captação das águas do Ribeirão Duas Bocas, após a confluência dos córregos Panelas e Pau Amarelo, e a construção de uma grande barragem de acumulação. A vazão de regularização da barragem foi estimada em 444 litros por segundo.

Prevendo uma demanda maior para o futuro, com projeção para 1966, estudou-se outro manancial, o Mangaraí, afluente do Rio Santa Maria da Vitória. O Mangaraí pertence à sub-bacia vizinha de Duas Bocas. Foram realizados os levantamentos topográficos e medições de vazão que apontaram 1.200 litros por segundo em época de estiagem, em 1935. Vencendo o divisor de águas do Mangaraí para Duas Bocas, a água seria distribuída por gravidade por uma segunda adutora de 20 polegadas (500mm), semelhante à primeira. Era o que faltava.

O projeto definitivo previa a desapropriação do restante da área da bacia, a construção de uma barragem de terra com 17 metros de altura, 200 metros de extensão, duas adutoras de 500 mm cada e um reservatório de 4 mil metros cúbicos.

Para a execução dos serviços, em 1935, constituiu-se a Comissão de Obras para o Reforço do Abastecimento de Água de Vitória (Coraav) ligada à Diretoria de Água e Esgotos. A primeira etapa do projeto teve inauguração em 27 de dezembro de 1936, com uma adutora de 20 polegadas (500 mm) de traçado mais curto. O segundo Reservatório de Santa Clara, com 4 mil metros cúbicos, ficaria assentado na cota de 57 metros em área mais elevada que o primeiro reservatório de 1909. A programação de obras previa, na sequência, a construção da grande barragem de Duas Bocas, que somente foi concluída 15 anos depois, isto é, em 1951.

O traçado mais curto da adutora de 20 polegadas (500 mm) pode ser observado no próprio projeto, pois seu traçado era mais retilíneo, parecendo uma tangente. O outro trajeto da adutora de 10 polegadas (250 mm) era mais longo, em curva, formando um “S”.

A nova adutora tinha extensão total prevista de 17.400 metros, sendo os primeiros 1.400 metros em tubos de concreto armado de 600mm de diâmetro até o dispositivo de quebra-pressão, e os restantes 16 mil metros em tubos de aço, de diâmetro de 500 mm até o segundo reservatório de Santa Clara. Do total, quase 1.000 metros foram assentados sobre estacas em região de mangue. Estavam devidamente previstas caixas de passagem, objetivando não cortar a linha piezométrica, bem como retirar o ar da rede e diminuir a pressão estática que, em alguns pontos, chegava a quase 100 metros da coluna d’água.

Mais tarde, em 1973, a Cesan estudou a remoção de 448 metros de trecho assentado em região de mangue, em Porto de Santana, para um desvio de 798 metros, contornando o mangue. A adutora assentada, em 1936, estava em péssimo estado de conservação nesse trecho, oxidada na parte superior e com constantes afloramentos de água. Foram observados reparos na rede, como soldas, tarugos de madeira e abraçadeiras cegas. A quantidade de tarugos de madeira era colocada porque a rede não suportava mais ser soldada. Também estavam em péssimo estado de conservação diversos quadros de concreto para apoio da rede, num total de 43 confeccionados em concreto armado, e alguns escoramentos simples de alvenaria de pedra. As características da adutora, nesse trecho de mangue, eram de tubos de 500 mm, confeccionados em chapa de aço de 5/16 polegadas de espessura, sem costura, em barras de 11 a 12 metros de comprimento, com ponta e bolsa para chumbação, e assentados sobre quadros de concreto.

A adutora, nesse trecho do mangue que passava por área apoiada em pilaretes, acabou caindo devido ao seu péssimo estado de conservação e dos pilaretes de apoio.

Em 2009, a Cesan concluiu a substituição de todo o trecho da adutora de 500 mm na atual área de influência que diminuiu, estando agora restrita da barragem até a região de Cariacica Sede e bairros adjacentes.

Na sequência, estava prevista a construção da barragem e, em 1951, a segunda adutora de 500mm. Na projeção para 1966, previa-se a transposição da bacia do Mangaraí para Duas Bocas. A barragem foi concluída em 1951. As demais previsões não se concretizaram.

 

Fonte:  Das Fontes e Chafarizes às Águas Limpas – Evolução do Saneamento no Espírito Santo – Cesan, 2012
Autor: Celso Luiz Caus
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019



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