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Entrevista do ex Interventor General João Punaro Bley (1930-1943) – Parte V

João Punaro Bley

REVISTA: General, falando em desbravamento, o senhor teve que enfrentar o problema de limite do Espírito Santo com Minas e com a Bahia.

BLEY: A questão do limite do Espírito Santo com a Bahia é a coisa mais estúpida que existe. Desde o tempo do Brasil Colônia, o limite do Espírito Santo com a Bahia era o Rio Mucury. Não sei por que cargas d’água, o governo do estado da época aceitou as ponderações do Estado da Bahia que dizia ser o limite 8 km para dentro do Espírito Santo. Então, em lugar de termos o limite natural, pelo rio, nós temos marcos de postes de cimento armado marcando a divisa.

REVISTA: E com Minas Gerais?

BLEY: O Espírito Santo teve duas questões de limite com o governo de Minas Gerais. Uma ao sul do Rio Doce, em 1914, quando o Espírito Santo perdeu dois municípios. A outra, ao norte, ficou em legítimo durante algum tempo pois a mata era virgem. A demarcação, conforme constituição, deveria ser pela Serra dos Aimorés, preenchida sua continuidade por linhas retas. Em nossas negociações de 1938, apesar de todos os esforços, não foi possível se chegar a uma solução conciliatória, pois a comissão de Minas negava a existência da Serra dos Aimorés. Foi então nomeada uma comissão do Serviço Geográfico do Exército para resolver a questão. Essa iniciou seus trabalhos em Novembro de 1941, percorrendo minuciosamente a zona limite, a fim de determinar a posição da Serra dos Aimorés, reconhecendo finalmente que o Espírito Santo tinha direito sobre a zona contestada, com exceção feita a dois pequenos trechos, representando 5% da área total. Infelizmente, a política não deixou que o Espírito Santo ganhasse. Dr. Getúlio Vargas, com quem discuti este assunto minuciosamente duas vezes, virou-se para mim e disse: "Eu não vou decidir isto, o porque não quero ser juiz entre vocês e o Valadares". Então eu respondi "Bom Presidente, o senhor pode fazer o que quiser. Pode até dizer que os limites de Minas Gerais são as dunas da costa do Espírito Santo no Município de Conceição da Barra. Pode dizer que a Serra dos Aimorés são as dunas das praias de Conceição da Barra. Mas eu não retiro nenhum destacamento do Espírito Santo. Enquanto eu for interventor do estado, o destaca-mento fica na zona que eu considero que é nossa".

REVISTA: No governo de Francisco Lacerda de Aguiar, em 1963, o Espírito Santo fez um acordo com o governo de Minas Gerais que era o Magalhães Pinto.

BLEY: E o Espírito Santo perdeu uma boa parte desse território, justamente a região mais rica. 

 

Fonte: Espírito Santo: História, realização: Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), ano 2016
Coleção Renato Pacheco nº 4
Autor: João Eurípedes Franklin Leal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2017

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