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Esforço de guerra

Foto: Isauro Rodrigues/ Arquivo Público

Por que subtrair dos futuros cidadãos o direito de conhecerem os viadutos de Paul e do morro do Atalaia e os silos do Cais de Minério e sua importância para a história brasileira? Tais construções nasceram de uma contradição — edificadas no período da ditadura do Estado Novo, participaram do esforço de guerra, fornecendo volumes apreciáveis de minério de ferro e manganês para as democracias ocidentais combaterem... ditaduras. Um capixaba podia fazer com os dedos o famoso V e pronunciar com orgulho o trocadilho evidente: "O minério embarcado em Vitória contribuiu para a Vitória dos Aliados". O Espírito Santo também participou da "Batalha da Produção", numa "cruzada bendita" para lutar "pelos melhores destinos da Humanidade e pela salvaguarda de sua Civilização", como assegurou o estadista Jones dos Santos Neves em 1943, ano da inauguração do Cais. Destruí-lo seria como apagar em outros lugares da Terra os símbolos das lutas pelo Mundo Livre. 

Depoimentos dos que viveram naquela época geralmente comovem. Um deles: embarcações sem nome, bandeira ou outra identificação recebiam o minério e ficavam à espera, fundeadas na baía. Até que um dia ali anoiteciam, mas não amanheciam. De madrugada tinham se juntado ao comboio que passara ao largo da costa capixaba, defendido por belonaves brasileiras e americanas. E lá iam os navios anônimos enfrentando o mar alto, com seus porões repletos da preciosa carga destinada a forjar armas para combater os inimigos nazifascistas. Mas transportavam algo mais. Levavam a esperança dos homens se livrarem da opressão totalitária. Poucos lugares no mundo têm uma história tão bonita como esta para contar. Nós temos.

Muitos indivíduos, no entanto, consideravam o Cais de Minério como fonte de poluição e escoadouro de riquezas não renováveis pagas a preço irrisório. Ou seja, mais outra história para registrar... A frase retórica - "a Vale somente deixou no Espírito Santo a buzina do trem e o pó de minério" - deve ser entendida no contexto que era pronunciada por governantes e pessoas interessadas em reivindicar o Estado a maior quantidade possível benefícios. Mas a CVRD contribuiu para a modernidade às terras capixabas.

No mínimo, pela significativa massa salarial recebida por profissionais de nível superior; técnicos e operários que trabalhavam na administração, no porto, na estrada de ferro e, mais tarde, nas usinas de pelotização, o marco zero do desenvolvimento da indústria moderna no Estado.

Por tudo isso, e muito mais, as estruturas merecem o tombamento como patrimônio histórico e artístico nacional pelo Iphan, por se constituírem em excepcionais exemplos de bens culturais que interessam à arqueologia industrial. As proteções legais nos níveis estadual e municipal também concorrerão para garantir a sobrevivência desse documento em concreto contra o descaso, a incúria, a sanha destrutiva, por ação ou omissão, de certas autoridades.

Recordemos a perda da primitiva Sé de Salvador. Em 1933, demoliram arbitrariamente a suntuosa catedral para se construir no lugar uma estação de bondes. Eles acabaram tempos depois, o espaço virou um vazio urbano, e o histórico templo desapareceu para sempre. Nós capixabas não podemos deixar que as decisões sobre a destinação do complexo construtivo do Cais de Minério fiquem nas mãos de técnicos obtusos, de burocratas de terceiro escalão alheios ao Estado e de alguns empresários, com interesses imediatistas, que muitas vezes nem moram aqui e não têm compromissos com o futuro do Espírito Santo. Depois não adianta lamentar...

 

Fonte: Jornal A Gazeta, História, 31/01/2015
Autor: Fernando Achiamé

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