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Florentino Avidos faz governo de obras e prosperidade

Florentino Avidos, o homem de estradas e pontes

No período de Florentino Avidos, o Estado se estabilizou economicamente e, com recursos da exportação do café e da madeira, muitas obras públicas foram realizadas. Ele construiu 29 pontes e 35 estradas

Florentino Avidos governou o Espírito Santo de 1924 a 1928. Tinha raízes portuguesas, tendo seu pai, do mesmo nome, emigrado para o Brasil aos 11 anos de idade, radicando-se no Rio de Janeiro. Ali, trabalhou no comércio, junto a uma casa de negócios de um português, embora sua vocação fosse a música. Conheceu Izabel, uma moça de família de classe média alta, que havia se formado em Matemática e Astronomia pela Sorbonne, em Paris, e casou-se com ela.

Apesar de prosperar como comerciante e das condições que a família de D. Izabel poderia oferecer ao jovem casal para se estabelecer na capital do Império, resolveu juntar suas economias às da esposa e adquirir uma propriedade, a Fazenda Graciosa, no interior do Rio de Janeiro. Ali viveram e criaram seus nove filhos. Florentino nasceu em 18 de novembro de 1870, sendo o terceiro filho do casal.

Graças à sua formação acadêmica, D. Izabel, apesar de trabalhar com os filhos na lavoura, não esquecia de instruí-los em casa. Dos filhos, Fiorentino foi quem melhor aproveitou as aulas ministradas pela mãe. Apesar de não ter freqüentado escolas ou cursos preparatórios, deslocou-se para a cidade do Rio de Janeiro e se submeteu a exame de seleção na Escola Politécnica Nacional, onde acabaria recebendo o Grau Pleno em Engenharia. Prestou exame e foi aprovado no Serviço Público, ingressando no Ministério da Agricultura, Viação e Obras Públicas, sendo designado para executar as obras da instalação da Usina da Luz em Cachoeiro do Itapemirim.

Em outubro de 1897, Florentino casou-se com D. Heriqueta, ligando-se assim à família dos Souza Monteiro, que, a partir dos primeiros anos do século XX, se constituiria numa oligarquia que dominaria a política local até a revolução de 30, revezando-se no poder. Desse casamento, nasceram quatro filhos.

Novos e ousados projetos de engenharia foram entregues para execução a Fiorentino Ávidos, como a construção da Estrada de Ferro que liga Vitória ao Rio de Janeiro, e um ramal para Minas Gerais. Nas obras da estrada de ferro, construiu o Viaduto do Soturno, que, apesar das dificuldades de acesso ao local e dos limites tecnológicos da época, foi considerado uma obra-prima da engenharia nacional.

Entre 1914 e 1919, a esposa de Florentino Avidos contraiu tuberculose. Ele alugou uma casa em Belo Horizonte e passou a dividir a sua vida profissional entre a capital mineira e o Espírito Santo. A doença foi incurável e D. Henriqueta veio a falecer. Com isso, ele pensou em se mudar para o Rio de Janeiro. Foi convencido, no entanto, a mudar-se para Vitória.

Na época do governo de Nestor Gomes, chefiou o Setor do Serviço de Melhoramentos de Vitória. Foi indicado para suceder a Nestor Gomes no governo do Estado, resolvendo um grande impasse na convenção do Partido Republicano, que estava dividido quanto à indicação do sucessor. A escolha de Florentino Avidos pegou a todos de surpresa e serviu para unir os Monteiro, evitando uma disputa entre eles para a indicação de um candidato. Em 23 de maio de 1924, assumiu o governo do Estado, aí permanecendo até junho de 1928, quando encerrou seu mandato, fazendo o sucessor. No ano seguinte foi eleito senador da República, indo para o Rio de Janeiro.

Durante o mandato de presidente do Estado (1924-1928), teve um relacionamento com D. Mercedes Leão Soares, dele resultando o nascimento de dois filhos. Com a deposição de Washington Luiz, a instalação do governo provisório e o fechamento do Congresso Nacional, extinguiu-se o seu mandato de senador, acabando-se definitivamente a sua vida política.

Sem espaço com os novos donos de poder, Florentino Avidos ficou isolado e no ostracismo, sem condições até mesmo de desenvolver seus projetos enquanto servidor do Ministério da Agricultura, Viação e Obras Públicas, tendo sido colocado em disponibilidade remunerada.

Com isso, começou a passar por dificuldades financeiras. Transferiu-se para a cidade de Campos, no Rio de Janeiro, onde viveu em um modesto hotel. Passou a receber, de forma velada, ajuda de seus filhos, já adultos. Em Campos, levou uma vida que não o satisfazia. Perdeu os filhos Moacyr, em 1932, e Sílvio, em 1945. Em 1956, morreu no Rio de Janeiro.

O período de seu governo foi um dos mais prósperos para o Estado. Economicamente, o Estado se estabilizou e, com os recursos da exportação do café e madeira, muitas obras públicas puderam ser realizadas. Finanças em ordem, Florentino Ávidos iniciou um trabalho administrativo que deixou marcas no desenvolvimento do Estado, e da capital, em particular. Dedicou-se à construção de pontes e estradas (de rodagem e férreas), e edifícios públicos. Promoveu o saneamento básico (água e esgoto), serviços de telefonia e eletricidade, e melhoramentos na capital.

Construiu 35 estradas. As mais importantes, quer por sua extensão ou por interligarem prósperas regiões econômicas, foram: Vitória a Cariacica, Cariacica a Santa Leopoldina, Santa Teresa a Vitória, Baixo Guandu a Afonso Pena.

Quase todas as regiões do Estado passaram a ter ‘‘comunicação entre si. Concedeu gratuitamente lotes de terras a chefes de família que provassem ser homens de trabalho. Eram concedidos 25 hectares de terras de cultura ou 50 hectares de terras de criação.

Entre as 29 pontes que construiu, as mais importantes foram a interestadual de Bom Jesus do Norte, a ponte sobre o Rio Doce, a de Santa Leopoldina, a de Nova Venécia, a Ponte da Passagem e a que leva seu nome, também conhecida como Cinco Pontes.

A Ponte Florentino Avidos foi considerada na época uma obra gigantesca, pois Vitória era uma pacata cidade, com cerca de 30.000 habitantes. Toda sua estrutura veio da Alemanha, onde foi construída com a fiscalização do diretor da Comissão de Serviços de Melhoramentos de Vitória, seu filho Moacyr Avidos, que residiu durante um ano na Alemanha. Os serviços de montagem da ponte iniciaram-se em 1° de março de 1927 e em 1928 já estavam concluídos.

Preocupou-se também com a construção de estradas de ferro. Algumas delas faziam a ligação entre regiões do interior do Estado, como a de Benevente a Alfredo Chaves e a de ltapemirim. Tinha por projeto ainda construir a Estrada de Ferro do Litoral, que passaria por localidades como Guarapari, Benevente, Piúma. Seria uma linha tronco e serviria para exportar a produção para o sul e oeste do Espírito Santo e parte do Estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Preocupou-se também com a navegação fluvial, tendo adquirido barcos para navegação no Rio Doce, para transportar cargas e passageiros.

A telefonia teve um impulso na sua administração. Existiam as linhas que eram administradas pelo governo e as que eram arrendadas a particulares. Para melhorar esse sistema, fez uma remodelação geral nas linhas, chegando a substituir a fiação de ferro por cobre, e reformou centrais telefônicas que apresentavam-se em mau estado e deficientes.

Não se descuidou dos edifícios públicos, principalmente escolas. Construiu ou reformou prédios como o Colégio Pedro Palácios, em Cachoeiro de Itapemirim, o Grupo Escolar de Santa Teresa, de Alegre, de Afonso Cláudio, de Itapemirim, Grupo Escolar Bernardino Monteiro (Cachoeiro de Itapemirim), Marcondes de Souza (Muqui), Nestor Gomes (Castelo), as Escolas Reunidas de Viana, Baixo Guandu, Santa Leopoldina, Pau Gigante, os ginásios de Colatina e o São Vicente de Paulo (Vitória).

Foi, no entanto, na capital do Estado que seu governo realizou as maiores obras. Alargou e calçou ruas, fez escadarias, corrigiu alinhamentos, deu realce às novas fachadas e construiu edifícios públicos modernos.

Preocupou-se com as vias mais importantes da cidade, como a Avenida Capixaba e a Jerônimo Monteiro. Para isso, desapropriou casas e terrenos, fez escavações, aterros, demolições, passeios, colocou meios-fios, fez drenagem. Alterou a iluminação, substituindo velhos postes por novos e modernos; preocupou-se com os serviços de água e esgoto pluvial; com o sistema de transporte; e remodelou as linhas de bondes.

Realizou obras nas ruas 1° de Março, Duque de Caxias, Rosário, Cleto Nunes, Sete de Setembro, Graciano Neves, Treze de Maio, Coronel Monjardim, Santa Rosa: remodelou a Praça Costa Pereira e construiu os mercados da Capixaba e da Vila Rubim, e o viaduto da Rua Caramuru.

Criou novos bairros, construiu casas para funcionários públicos e operários, sobretudo em Jucutuquara, Ilha de Santa Maria e Santo Antônio. Essas casas eram vendidas a prestações ou permutadas pelas casas demolidas.

O abastecimento de água de Vitória, naquela época, era precário e insuficiente, além de pouco confiável quanto à qualidade. A linha adutora que fora construída em 1911 estava em péssimo estado de conservação, por isso foi construída uma nova linha e feita a captação de água de novos mananciais. Foi reformada e ampliada a rede de esgoto, criando-se inclusive um serviço de inspeção.

A exportação de café e madeira levou seu governo a se empenhar em melhorar as condições portuárias. Investiu na construção de cais, armazéns, no aparelhamento do porto com guindastes e pontes rolantes, embarcações, construção de linhas férreas realizou obras de alargamento do cais e serviços de drenagem e deslocamento submarino.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 18/11/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes e Sebastião Pimentel
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016

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