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Fluminensinho, uma lição para a vida - Por Marcelo Bonfim Dessane

Os encontros continuavam na Prefeitura, perto da secular palmeira que enfeitava a praça

Murilo Miranda, Dilson Becacici, Arturo Ferraro Balbi, Romualdo Gianordoli, Deoprete Balbi, Luiz Silva Vianna, Rubens Frigeri Nascimento, Roberto Musiello e outros garotos que em 4 de junho de 1944 fundaram o Fluminensinho, não deviam imaginar que um time de futebol de várzea seria mais tarde uma lição para a vida.

Moradores das imediações das ruas Treze de Maio, Gama Rosa e Coutinho Mascarenhas, os garotos utilizavam a antiga praça da Prefeitura Municipal de Vitória (hoje praça Ubaldo Ramalhete), no centro da cidade, para as tradicionais peladas nos paralelepípedos.

A ideia de todo peladeiro é sempre fundar um clube e com o Fluminensinho não foi diferente. O primeiro jogo de camisa, a bola de couro 4 e a maleta de remédios, foi uma vaquinha entre a turma. Lembra Murilo Miranda, primeiro presidente, que faltavam ainda 20 mil réis e foi justamente o seu Beiriz, vizinho do "campo", que era conhecido pela turma como o "mão de samambaia", quem completou, para alegria de todos, talvez pensando em se livrar das peladas. Para colocar nome na camisa de goleiro, uma mãe se prontificou a fazer em feltro. No dia da estreia as letras começavam nas costas e terminavam na barriga.

Os jogos eram realizados num campo na Avenida Capixaba, hoje Jerônimo Monteiro, onde depois funcionou o Restaurante Universitário, passando mais tarde para o campo do Saldanha da Gama, onde hoje é o Ginásio Wilson Freitas.

Um ano depois, uma briga interna, os aspirantes resolveram formar outro time e passaram para o Esporte Clube Americano (que já marcou época na primeira divisão, hoje esquecido), levando inclusive um jogo de camisa, segundo o pessoal antigo. Os traidores negam a história das camisas.

A primeira equipe titular foi com Olegário Wanguestel (Oleg), Vital Guimarães, Ferrarinho Balbi, Romualdo Gianordoli, Luiz Vianna, Murilo Miranda, Paulo Amaral, Gambá, Manoel das Cabritas, Otavio Bubu e Japu.

Com o caso do Americano, veio então a "era" de Carlos Orlando Silva Vianna (Baianinho). Muito organizado e disciplinador, começou a botar ordem na casa. Fichário dos atletas, talão de contribuição, reunião com ata etc. Com o tempo, o Clube passou a ser respeitado na várzea, celeiro de muitos craques.

Os encontros continuavam na Prefeitura, perto da secular palmeira que enfeitava a praça, no bar do Olímpio, depois no Britz, na Sapataria Musiello, locais tradicionais, mais tarde no Bob's (embaixo do Hotel Império, início da Rua Sete de Setembro).

Disciplina, Dedicação e Lealdade foi o lema escolhido por Baiano. O atleta tinha de ser disciplinado, dedicado em suas obrigações e leal com os seus companheiros. Não só nos campos, mas também no dia-a-dia da vida que iniciava. E as notas escolares? Os colégios tinham uma caderneta de capa dura, onde cada aluno tinha carimbadas a presença ou falta diária, as notas, as observações de comportamento escolar etc. Baiano acompanhava a vida de todos, orientava, chamava atenção pela nota vermelha, e o maior castigo era ser afastado da equipe por problemas no colégio. Ninguém queria ficar de fora.

Diversos prêmios foram criados para homenagear os atletas. Melhor companheiro (escolhido por eleição), melhor aluno (o que passava de ano com a maior média), atleta padrão (o que reunia o lema do clube), seja bem-vindo (quando ingressava no clube), universitário (todo atleta que passava no vestibular) e a mãe tricolor do ano.

Anualmente, no mês de junho, era realizada a sessão solene comemorativa ao aniversário, e o Náutico Brasil (na Vila Rubim) era o preferido. Na mesa principal as autoridades, representantes dos co-irmãos, da imprensa. No salão, com as cadeiras enfileiradas, os atletas, que atentamente ouviam os discursos e aplaudiam as homenagens. Depois, o aperitivo dançante. Pela manhã era celebrada a missa no Colégio do Carmo (hoje Colégio Nacional) ou no São Gonçalo, onde os atletas compareciam com seus familiares e a maioria participava da comunhão.

Fundada a Federação Amadorista Capixaba de Esportes (Face), que controlava todos os esportes amadores, menos o remo que era na F.D.E. (tempo bom do capitão Nicanor Paiva, Jayme Guimarães etc), em 1957 foi realizado o primeiro campeonato oficial de futebol de salão em Vitória, na categoria infantil. Fomos campeões invictos, com Paulo Roberto Siqueira Vianna, Antonio Roldi, João Luiz de Menezes Tovar, Antonio Marins, Marcos Abaurre, Celso Arlindo Rocha Elias, Rafael Musiello, Cristóvão Rogério Silva, Joelson Tristão e Luiz Guilherme Furtado.

Neste ano, saímos em um grupo de outro time, o São Paulo, do final da Rua Graciano Neves, para ajudar no Fluminensinho, que da várzea passou a disputar oficialmente o salonismo contra os chamados grandes, Saldanha da Gama, Álvares Cabral, Praia Tênis, Caxias etc. Iniciei como segundo tesoureiro, cobrando cinquenta centavos do pessoal. A verdade é que o Fluminensinho virava paixão e fiquei até 1981 quando saí para concorrer no Saldanha da Gama, mas antes reuni os amigos para ouvir a opinião de todos. O coração continua vermelho, verde e branco. Amizades eternas. Começamos juntos de calça curta, fizemos ginásio e científico (hoje 1º e 2º graus), ingressamos em faculdades, casamos, nasceram os filhos, netos, e a cada encontro a festa ainda é a mesma. Parece que ainda estamos na Prefeitura.

Em 1957 participamos do infantil e juvenil, depois de todas as categorias. Os jogos eram na quadra do Saldanha (onde hoje tem a piscina social), do Álvares Cabral (na Vila Rubim, hoje tem um posto de gasolina), do Caxias (no Corpo de Bombeiros, no Parque Moscoso), do Praia Tênis (a quadra era de barro). Cada jogo tem uma história. A maior torcida era sempre a nossa. As famílias torciam em peso. Tinha charanga, papel picado, bandeiras.

Em 1961 tínhamos um bom time juvenil e com ele resolvemos entrar na principal. Parada dura, o Saldanha vinha de um tri na inauguração do Ginásio Wilson Freitas. Não deu outra, vencemos as duas categorias com o mesmo pessoal. Marcamos nova era no salonismo e chegamos ao tricampeonato. Iniciamos o intercâmbio com outros Estados e trouxemos equipes do América, Municipal, Imperial, Grajaú, Fluminense, Flamengo, Vasco, Mackenzie (todos do RJ), Olímpio (MG), São Paulo (PR), AABB (BH) e tantas outras. Era ida e volta, visitamos todos. O primeiro título adulto foi decidido no Álvares, contra o Saldanha: vencemos por 5x3. O bi e tri foram no Wilson Freitas, ambos contra o Praia, deu 6x2 e 4x2. Na última, vencíamos por 2x0, o Praia empatou e Grotes fez dois gols iguais do meio da quadra, com Ronaldo Rubim procurando até hoje onde as bolas entraram. O ginásio veio abaixo. Encontramos sempre torcedores daquela época que falam sobre os dribles de Marins, a segurança de Batata, a cobertura de Dutra, os gols decisivos de Grotes, a raça de Abaurre.

Os treinos eram nos Bombeiros, no Sesc (Parque Moscoso), na Polícia Militar (Maruípe), todos cedidos pelos saudosos capitão Marcelino, coronel Jader Rubim e Manoel Novaes, incentivadores do esporte e amigos do clube. Eram às 5 ou 22h, quando estavam desocupadas as quadras. O bonde era a condução que nos levava da Rua Sete de Setembro até o local. O saco de material nas costas e o prazer do esporte sadio.

Quantas cantadas para mudar de clube. Carteira social era oferecida aos montes, com direito aos aperitivos dançantes, às domingueiras, aos banhos de piscina. Aqueles que tinham raízes nunca deixaram o clube, onde compravam o tênis, pagavam as passagens, contribuíam financeiramente, carregavam o material, não tinham sede, não tinham quadra, mas sobrava amizade de infância. Verdadeiro esporte amador.

Trouxemos para conferência o primeiro técnico da seleção brasileira de salão, Rubens Calmon Albuquerque. Inauguramos a quadra do Country Clube de Guarapari, do Náutico Brasil, o Ginásio da Polícia Militar e do Sesc. Éramos convidados para tudo, até na entrega de faixas de bicampeão carioca ao América, em Campos Sales.

Com o sucesso do salão, atletas de voleibol procuraram o clube. Entramos no masculino e no feminino. A mesma luta. Treinos à noite no Sesc. Acabamos sendo tri adulto nos dois.

A turma da Prefeitura era ousada. Disputamos ainda tênis de mesa e natação, onde fomos vice da cidade. Pagávamos por pessoa para treinar na piscina do PTC. Só faltaram o basquete e o remo. Também era querer muito. Fazíamos também filantropia. Ajudamos o Educandário Alzira Bley, na época dirigido por Ilza Ferreira (falecida esposa de Manoel Ferreira), jogando com o América (RJ) no Wilson Freitas, com a renda do Educandário.

Os Diários Associados promoviam o concurso de miss. Fomos procurados por Eleisson de Almeida e Olivio Cabral para participar, alegando que só o nome era sucesso de público. Entramos, lotamos o Sesc e fizemos a Miss Espírito Santo de 1969, Maria Helena Bromenchenkel. Moça humilde, de família simples, morava no Alagoano. Com o título, os convites eram diários para recepção etc., e tivemos de ampará-la. Eu tinha apenas casado e levamos Maria Helena para morar conosco na avenida Rio Branco. Iniciamos a vida com uma "filha" de 18 anos. O amor ao próximo também era ensinamento do Fluminensinho.

Nova geração vinha surgindo. Chegamos novamente ao título máximo no salonismo, depois um bi e, de 1972 a 1975, veio o tetra, que era inédito.

Mesmo disputando os jogos oficiais da Face/FDE (os amadores começaram na Face, passaram para a FDE e depois foram fundadas as federações isoladas), o futebol de campo não parava. Final de semana, encostava o caminhão na Prefeitura, com tábuas de uma lateral a outra da carroceria e Baiano, com a relação dos atletas em mãos, fazia a chamada e determinava o local onde cada um ia sentar. Dois na frente com o motorista, geralmente os mais novos, e os outros na carroceria, dizendo quem ficaria em cada extremidade do banco, colocando os menores no meio.

João Saldanha, jornalista consagrado no Rio de Janeiro, que depois foi técnico da Seleção Brasileira de 70, escreveu Os subterrâneos do futebol, veio a Vitória para uma noite de autógrafos como convidado nosso. Foi na antiga Distribuidora Mercantil (rua Barão de Itapemirim). Dr. Wilson Martins Moreira fez a saudação. Segundo Saldanha, vendeu mais livros em Vitória que em seu bairro no Rio. Um almoço no Restaurante São Pedro, um torneio interno de futebol de salão com seu nome, uma palestra sobre futebol. Visitou a sede (?), viu os inúmeros troféus, os quadros, os jornais falando das vitórias, e voltou ao Rio de Janeiro, enviando mais duzentos exemplares de seu livro, doando a arrecadação ao clube. Logo depois escreveu duas crônicas, em sua coluna diária, "Contra-Ataque", no jornal Última Hora. Em 13 de junho de 1964, "O pequeno gigante", em que contou a história do Adamastor, gigantesco navio esperado na praça Mauá (RJ), que desapontou o público com o seu tamanho pequeno, e o comandante falou: "É ilusão de ótica. O Adamastor é pequeno por fora, mas grande por dentro." Fez então a comparação dizendo: "O Fluminensinho joga salão, mas não tem quadra, joga futebol, mas não tem campo, disputa natação sem ter piscina e vôlei sem ter quadra. Este Fluminensinho parece o chupim, bota ovo no ninho dos outros pássaros e eles que choquem. No fim só nasce chupim mesmo." Terminou assim: "O Fluminensinho é o inverso do Adamastor, pequeno por dentro, mas grande por fora." Em 16 de junho de 1964 voltou com outra crônica: "O Palco de Sienna", onde falou das peladas da Prefeitura, principal celeiro de craques, completando: "Tem três coisas que atrapalham. Uma estátua dignificando o trabalhador, belo bronze, mas que os garotos acham que ficaria melhor localizada na rua do Cais do Porto. Outra coisa é o calçamento da praça, não que o paralelepípedo seja todo ruim, mas se a praça fosse asfaltada seria melhor. A terceira é a iluminação que é fraca. O famoso 'Palco' da corrida de cavalos na praça central de Sienna, que se realiza há séculos, é hoje uma das maiores atrações turísticas da Itália."

O jornalista Mesquita Netto, escreveu em A Gazeta de 10 de junho de 1959, após assistir a uma solenidade do clube: "O Fluminensinho possui aspirações mais altas, além das pugnas do gramado, quais sejam a educação moral, intelectual, o comportamento humano, a conduta dos componentes. É uma organização ímpar, que reúne o útil ao agradável. Num mundo cheio de confusões e incompreensões como é o atual, conforta saber que existe alguma cousa acima das dissoluções e prevenções, como o Fluminensinho."

A primeira sede foi na casa de Dilson Becacici, a segunda na de Baianinho (Rua Sete de Setembro) e a terceira na Rua Gama Rosa 111, hoje a Clínica Papi. Ali nos reuníamos diariamente, eram discutidos os problemas, as participações em competições etc. As taças e troféus eram colocados em armário com porta de vidro, para ficarem sempre à vista. Os uniformes sempre novos, quando chegavam da lavadeira eram dobrados e guardados em armário especial. Quando a equipe entrava em quadra, já vencia na apresentação, na elegância, todos com as meias suspensas, camisa dentro do calção branco, tênis branco (Rainha 1057), etc. O uniforme branco, camisa, calção e meião, ou mesmo o tricolor (em listas), as camisas de manga comprida, todos iguais aos do Fluminense (RJ). Os agasalhos em coco ralado faziam sucesso. Só usávamos material de primeira qualidade, da fábrica Ceppo, que hoje não existe mais. Quando o atleta entrava no vestiário, o uniforme de cada um estava separado, sendo que os meiões ficavam pelo avesso na posição de colocar os pés.

A sala da Gama Rosa era gentilmente cedida por dona Maria Guimarães (viúva do Dr. Eumenes Guimarães). Pensamos em comprar alguma coisa, que fosse o primeiro patrimônio. A Gazeta fez uma incorporação na rua General Osório, onde funcionou o jornal por muitos anos. Em Vitória ainda não tinha loteria esportiva, mas o Rio de Janeiro não ficava tão longe. Entramos na guerra. Conseguimos uma casa lotérica no RJ, que receberia os cartões vendidos aqui. O pessoal todo andava com os cartões no bolso e partiu para vender semanalmente. O ponto de entrega era na garagem de nossa casa, na Rua Graciano Neves 386, onde ficava um grupo conferindo. Na sexta-feira, pelo último comercial da Itapemirim, seguia alguém para marcar no Rio. A comissão em cada cartão não era grande, mas tínhamos um objetivo. No sábado à noite, voltava o portador com os cartões furados, que eram entregues ainda no domingo, para os apostadores acompanharem os jogos e resultados pelas rádios. Na segunda, começava tudo de novo. E quando a Polícia começou a vigiar os ônibus, pois a venda onde ainda a loteria não existia era ilegal. Teve semana que íamos de carro até a Jaqueira (Guarapari), quando o corajoso emissário entrava no ônibus, fugindo assim da ação da Polícia que revistava na Rodoviária (em frente ao Sesc, no Parque Moscoso). Era ilegal, mas tínhamos que pagar a sala. Assim, de trocado em trocado, compramos a sala no Edifício A Gazeta. Tínhamos o primeiro patrimônio, mas não podíamos sair da Prefeitura. Alugamos a sala. Anos depois, vendemos a sala e compramos quatorze lotes na praia de Camburi, na segunda quadra do mar (perto do hoje Hotel Porto do Sol). Fizemos um campo de futebol. Não precisávamos mais alugar para jogar. Mais tarde chegamos à conclusão que não era isto que o grupo desejava. Camburi estava progredindo muito rápido. Casas, apartamentos, sendo construídos em volta do campo, movimento de carros aumentando nas ruas, os atletas que iniciaram em 1957 já não disputavam o salonismo, a maioria já com curso superior e começando a casar. A solução seria um clube campestre. Trocamos os lotes por uma área de 40.140,00 m2 em Laranjeiras, município da Serra. Eram quatro chácaras, em dois planos. Foi outra dureza. Limpar a área, trator para fazer o campo de pelada, a drenagem, a grama etc. No primeiro plano tinha um grande galpão, transformamos na sede, um bar e dois banheiros. Ali poderíamos voltar a reunir o grupo antigo da Prefeitura, a maioria já com família constituída, os primeiros filhos, as responsabilidades eram maiores do que apanhar o bonde na Rua Sete e ir competir. Apesar dos mais novos que chegaram e cresceram tendo como espelho a equipe do tri de 1964 e deram ao clube o tetra, além de outros títulos, sentíamos que a tendência era o Fluminensinho passar para campestre, abandonando as competições oficiais. Foi o que aconteceu. Não poderíamos mais sobreviver sem uma quadra coberta no centro. Os tempos mudaram.

O campo foi iluminado. Às terças-feiras fazíamos reunião, depois uma pelada, aos sábados, o grupo já era maior, as esposas, noivas, namoradas acompanhavam, depois os filhos. Passamos também a explorar o bar. No início era um latão com gelo, com o dinheiro do bar, compramos freezer, fogão, jogos de mesa e cadeiras, fizemos churrasqueira, dois vestiários completos para o campo, mesa de ping-pong, filtro para uma futura piscina. Hoje, a antiga turma, a maioria já "pesada", cabelos grisalhos, não corre mais atrás da bola.

Todos os anos, mês de junho, temos um encontro marcado. Lembranças, lembranças, lembranças. Cada um que chega conta uma história.

Apesar da disciplina imposta, aconteciam fatos que nem sempre chegavam ao conhecimento dos cartolas. É difícil controlar um grupo.

Dr. Ethereldes Queiroz do Valle morava na rua Sete de Setembro (ao lado do Edifício Joana d'Arc) e deixava a janela aberta enquanto tocava violino. A turma não perdoava Batata (seu filho), dizendo que não tinha cordas e o som era da eletrola. Toda hora um olhava para conferir o violino do Dr. Ethereldes.

Alexandre Moscon Filho era torcedor doente. Um jogo no Wilson Freitas acabou em pancadaria. Moscon estava com o mastro e bandeira na torcida, não conversou e na confusão acertou um dirigente e depois ficou escondido na residência de um da turma por três dias. O agredido era do SNI.

Nas viagens de trem para Governador Valadares ou Colatina, Pedro Mucha corria para a janela quando se aproximava de qualquer estação para provocar os vendedores. Certa ocasião um laranjeiro ficou na frente de sua janela e na saída do trem teve o seu chapéu arrancado. Ficou rodando e gesticulando. O coitado era cego e não achava o chapéu.

Afonso Ruy Tanure do Valle não perdia um jogo. Animava a torcida com seus gritos e suas brincadeiras. Fomos jogar contra o América (RJ) e levamos Afonso. O pessoal deu uma saída e, no retorno, Afonso tinha aberto todas as malas e espalhado as roupas no corredor.

Eleisson de Almeida trabalhava na Rádio Capixaba e acompanhou a equipe até Campos (RJ). Na primeira noite, todos no alojamento e ele mudou de roupa para dormir e apareceu de pijama listado. Alguém comentou: "Ele é tão magro que o pijama só tem uma lista vertical". O riso foi geral e o magro quase não transmite os jogos de tanta raiva. Na hora de colocar o pessoal na carroceria do caminhão para jogar na várzea, a preferência na subida era dos mais novos, um de cada vez. Depois vinha a ordem "sobe o resto". O velho Huda (André Bresciane) até hoje não se conforma que era o último e ficava nos fundos do caminhão. Dizia sempre que os peixes iam na frente.

Fomos para Macaé (RJ) em quatro carros. Na volta, Merçon (José Henrique) e Batata (Carlos Roberto T. Valle), colocavam a traseira exposta nos vidros laterais do fusca, quando passava outro carro. No posto rodoviário mais próximo os guardas aguardavam e foram todos para o distrito policial. Só conseguiram seguir viagem quando Merçon lembrou que era tenente da reserva e apresentou os documentos. Mucha, que também era tripulante do fusca, passou boas horas detido e rindo de Batata que ficou apavorado com o pau de arara.

Marcos Abaurre sempre foi artilheiro, muita raça, chutava até a sombra. Estávamos jogando na quadra do Saldanha e, num lance na lateral, sua disposição foi tanta que chutou um poste de iluminação que ficava na divisa da quadra.

Em Salvador (BA), William Vairo aproveitou o descuido de Pedro Mucha e encheu o sapato dele de pasta de dente. À noite quando Pedrinho se preparava para sair (era todo "Mauricinho", só andava na moda) e colocou um pé de sapato, foi uma gozação só. Nunca William correu tanto. Nesta mesma viagem, Alexandre Moscon Filho apareceu enrolado numa toalha e mostrou o "bráulio" envolvido em papel higiênico e disse: "Vocês falam que sou veado, acabei com a camareira." Todos riram muito, pois o velho esqueceu que não estávamos em hotel e sim em alojamento.

Um dirigente do Praia Tênis Clube tinha pavor de jogar contra o Fluminensinho. Num campeonato, desejando nos enfrentar apenas na última rodada para ainda ter chance no título, conseguiu com brilhante ideia. Quando chegamos, a quadra, que era de barro, só tinha lama. Mandou um funcionário molhar para não ter o jogo. Dilson Barroso, grande árbitro da época, teve de transferir a partida, apesar de saber que não tinha chovido. Não adiantou, no final foi outro título conquistado.

Em 1966 fizemos dois jogos de salão e dois de vôlei feminino em Londrina (PR). Fomos em dois carros e uma Kombi. Verdadeira loucura. Sem conhecer a estrada, nos perdemos diversas vezes. Para entrar em São Paulo, esperávamos um ônibus passar e seguíamos. O último ia recolher e paramos na garagem da viação. Tivemos de pegar um táxi como guia. A Kombi furou seis vezes o pneu Em Londrina jogamos numa quadra de asfalto, em que o tênis ficava preso por causa do calor.

Numa seleção universitária, tínhamos que levar Toninho Marins que era o destaque do salonismo. Ele ainda estava no ginásio. A Fuec conseguiu um atestado que era estudante da Escola de Música. Marins participou, mas até hoje não toca instrumento musical.

Numa tarde de sábado, o caminhão para levar a turma para a várzea não apareceu. Dr. Lenildo Lucas, amigo e torcedor, se ofereceu e colocou todos na caçamba. Quando entramos na ponte Florentino Avidos, Lenildo disse para a turma que tinha medo de sua fama de corredor: "Com vocês eu dirijo com uma mão e um olho só". Quando abriu a mão que estava fora do volante, seu olho de vidro estava dentro. O pessoal pedia para voltar e ele colocou o olho no lugar e prosseguiu.

José Carlos Silva (conhecido Toto), antes de ser árbitro, jogava no aspirante do futebol de salão e, às vezes, ficava no banco do principal. Não fazia distinção entre o tamanho do campo e do salão, corria mais que a bola. Tinha então poucas oportunidades. Ficava no banco se esfregando de um lado para o outro, torcendo e esperando o time golear para entrar. Rasgou muitos calções.

Foram presidentes do clube até aquela época: Murilo Miranda, Dilson Becacici, Carlos Orlando Silva Viana, Plínio Gustavo Lourosa, Marcelo Bomfim Dessaune, Orlando Sergio Benezath Furtado e Demilson Guilherme Martins.

 

ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.

Prefeito Municipal - Paulo Hartung

Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar

Diretor do Departamento de Cultura - Rogerio Borges De Oliveira

Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici

Conselho Editorial - Álvaro Jose Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco

Bibliotecárias - Lígia Maria Mello Nagato, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira

Revisão - Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla

Capa - Remadores do barco Oito do Álvares Cabral, comemorando a vitória Baía de Vitória - 1992 Foto: Chico Guedes

Editoração - Eletrônica Edson Malfez Heringer

Impressão - Gráfica Ita

Fonte: Escritos de Vitória, nº 13 – Esportes- Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996

Autor: Marcelo Bonfim Dessane

Nascido em Vitória (ES)

Tabelião, presidente do Clube de Regatas Saldanha da Gama.

Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

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