Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

História do Exército em Vila Velha

Exército com o Forte de Piratininga ao fundo

Primeira parte  – a origem

A história do Exército em Vila Velha, ES, às vezes é confusa por conta do nome que levou esse batalhão no passado, e nos cabe contribuir para elucidar.

A história do exército nacional tem início nas lutas da libertação do nordeste brasileiro do jugo dos holandeses, depois se destacou no tempo da transmigração da família real, a partir de 1808, se consolidando na época da Independência, chegando até o tempo de Caxias e da Guerra do Paraguai.

A Marinha do Brasil é a arma mais antiga, vindo depois o exército, e por último a aeronáutica já no século XX por conta principalmente da invenção do avião.

No Espírito Santo passou existir no tempo da Colônia o Forte de Piratininga em Vila Velha, que tem toda uma história, bem como os fortes de São João, e outros em Vitória.

Já no tempo do Império, quando o Espírito Santo era uma Província passou existir a Polícia Militar, que convivia com uma corporação mais honorífica que era a Guarda Nacional.

Quando o Brasil esteve em Guerra com a Alemanha na Primeira Guerra Mundial, autoridades federais viram que entre a Bahia e o Rio de Janeiro, havia um enorme espaço desguarnecido de unidades do Exército Nacional, e por conta disso transferiram um Batalhão da Bahia para cá.

A figura da transferência é de suma importância, tanto de militares, para terem sentimento nacional, e não criarem estrutura de poder onde ficassem por muito tempo, bem como para facilitar a fiscalização interna da disciplina, e desenvolvimento da corporação.

Outra transferência é de unidades inteiras, para suprirem deficiência em algum setor já que o exército tem que ter presença nacional.

No governo do Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, transferiram uma unidade inteira do Rio Grande do Sul para Roraima, e lá no Norte, aos poucos o exército vai tendo participação de muitos elementos locais, bem como de outras regiões do país, e assim por diante. Aqui em nossa unidade militar a mesma coisa ocorre, tanto recebe oficiais de outros Estados e Unidades, como os daqui são transferidos, mesmo que voltem mais tarde em geral quando estão perto de aposentarem-se.

Alguns historiados por falta de fontes históricas, muitas vezes repetiam que a origem do 38º BI tinha sido da transferência de um meio Batalhão da Bahia, sem maiores detalhes. Então essa questão do meio batalhão tem que ser melhor elucidada.

Tudo começou porque no nascedouro foi um meio batalhão mesmo, criado e organizado em Salvador na Bahia, com o efetivo de 4 companhias, pelo Decreto Imperial de nº 782 de 19.4.1851. Então 19 de abril coincidindo com o dia do índio e do aniversário de Vargas, é a data comemorativa da fundação do Batalhão iniciado pela metade e, mesmo assim, sucessivamente veio chegar ao nosso 38º BI.

Já em 6.10.1860, pelo Decreto nº 2.662 tomou a denominação de Batalhão de Caçadores da Guarnição da Bahia, mantendo as 4 companhias e acrescentando mais uma de pedestre da Província da Bahia, chegando a atingir 8 companhias.

Em 9.12.1865 , foi transformado pelo Decreto nº 3.555 no 16º Batalhão de Caçadores

Em 12.8.1870, foi transformado pelo Decreto nº 4.572 no 16º Batalhão de Infantaria, e com essa denominação atuou na Guerra do Paraguai. Ao retornar para a Bahia, fica com a denominação simplificada para apenas 16º Batalhão.

Em 10.8.1888 volta a ser denominado 16º Batalhão de Infantaria.

Desse, em 4.6.1908, três companhias foram destacadas e passaram a compor o 50º Batalhão de Caçadores, permanecendo assim em Salvador até ser transferido para o ES, mas com sua sede ficando ainda na Bahia em 15.12.1917.


Segunda parte – a questão do meio batalhão

Então o que veio não foi um meio batalhão, foi um inteiro ainda que o comando ficasse por certo tempo ainda para trás.

Pelo Aviso nº 159 em 2.4.1918 a sede enfim foi transferida para o ES, e por dificuldades de conseguir acomodações adequadas em Vitória, seu comando alugou imóveis em Vila Velha na Prainha, antes mesmo de ir para o Forte de Piratininga.

É bom registrar que antes mesmo, oficiais de exército já haviam estado em Vila Velha e pensaram em transformar o Convento numa fortaleza, datada de canhões de longo alcance para a defesa da barra do porto de Vitória!

Tal vinda de Vitória para Vila Velha, dos militares vindo da Bahia, deve-se a estímulo de lideranças locais como a do Antônio Queiroz, comerciante aqui estabelecido, e do Eng° Antonio Francisco Athayde, que veio ser Prefeito Municipal.

Ia-se da Prainha até o Forte passando por trilha para pedestre e a cavalo, à meia encosta do morro do Convento, partindo de abertura voltada para a mata no muro à esquerda logo para quem entra na Ladeira da Penitência pelo portão antigo. A passagem hoje está fechada, mas é visível pelo lado da mata. Por ali é que passavam os artilheiros da Fortaleza e os alunos da Escola de Marinheiros que lá havia funcionado.

Na planta de Antônio Athayde, de 1894 registra a trilha saindo justamente por ali.

Nessa época o Convento que era dono da campina de Piratininga onde tinha pastagens, como também da Ilha do Boi.

Como esse mosteiro estava nas mãos da Mitra Diocesana de Vitória, houve doação da Ilha do Boi e da gleba do campo de Piratininga para o então para o Ministério da Guerra (antigo nome do Ministério do Exército), onde iniciou a construção dos pavilhões que lá estão, sem antes abrir acesso rodoviário na administração do então Governador (Presidente) Bernardino Monteiro, que é a ladeira Soldado Edmilson Soares. Os veículos motorizados estavam começando a existir no Espírito Santo, antes mesmo da construção da Ponte Florentino Avidos (inaugurada em 1928).

Com o acesso rodoviário de terra batida, onde se podia passar caminhões e carroças, o exército foi então para o Forte em 10.12.1919, que passou da administração do Ministério da Marinha para o do Exército.

Já no dia seguinte, em 11.12.1919, o Batalhão tomou o nome de 3º Batalhão de Caçadores, assim permanecendo e no mesmo local.

A linha de bonde que tinha ponto final (na inauguração em 1912) na Prainha atrás da Matriz do Rosário, em frente do Bar Piratininga e do armazém do Antônio Ferreira de Queiroz (que seria depois de  Eugênio Pacheco de Queiroz e de Antônio Quintais ), levou o exercito a conseguir com o Governo do Estado estender a linha até o forte de Piratininga, quando houve o célebre episódio de Padre José de Lidwin reitor do Convento que não deixou  que se demolissem a gruta de Frei Pedro. A linha ali passou contornando o oratório fazendo um “esse”. Arrimos de alvenaria de pedra tiveram de ser construídos, à esquerda para quem sobe, e à direita para quem desce já passando a Guarita, na garganta com o morro da Ucharia, para conter o acesso à meia encosta.

- em 7.7.1924 foi deslocado para o Rio de Janeiro e daí para o Norte do país, para manter a ordem interna, no Governo Arthur Bernardes, tendo participação na rendição de revoltosos em 27 de agosto em Óbidos, quando sob o comando do Coronel Jeremias, um destacamento lá permaneceu até 14 de setembro quando retornaram ao ES.

- em março a julho de 1925 esteve no Paraná combatendo a Coluna Prestes, no Governo Arthur Bernardes

- em fevereiro a julho de 1926, esteve no destacamento do General Mariante em combate também à Coluna Prestes, no Governo Arthur Bernardes

- em 19.10.1930 aderiu à Revolução da Aliança Liberal, sob o comando do General Juarez Távora, na deposição do Presidente Washington Luis, quando veio para Vitória o Capitão João Punaro Bley da liderança revolucionária

- em 1932 no dia 10 de julho seguiu para São Paulo para combater a revolução constitucionalista, sob o comando do Coronel Heitor Augusto Borges, tendo atuado nas cidades de Bananal, Sertãozinho, Queluz, Barra Mansa, Ouro Fino, Mogi-Mirim,Piteiros, Arthur Nogueira e Limeira, no vale do Paraíba, retornando para o ES em 23 de outubro do mesmo ano.

Na Segunda Guerra Mundial, alguns de seus integrantes participaram da Força Expedicionária Brasileira, tendo vários falecidos em campo de batalha na Itália, entre eles o vilavelhense Cabo Aylson Simões.

Em 11 de maio de 1964, recebeu o nome fantasia de Batalhão Tibúrcio, homenageando assim oficial que destacada atuação na história militar brasileira.

Participou em 1967 em atuação conjunta com unidades da 4ª Região Militar de Juiz de Fora – MG e com a PM ES, no desmantelamento do foco guerrilheiro que surgira na Serra do Caparaó na divisa com Minas Gerais. 

Atuou em policiamento em diversas eleições no ES, e na área social, principalmente em Vila Velha socorreu população atingida por enchentes, a partir de meados dos anos 50 até a primeira década do século XIX, dado ser crônica essa questão local.

Desenvolveu várias operações ACISO (Ação Cívica Social ) em bairros carentes da Grande Vitória, para minorar sofrimento de imensa parcela da população em situação de crescente miséria.

Em 7.11.1972 por Portaria Ministerial nº 93 recebeu denominação de 38º Batalhão de Infantaria, conservando o nome fantasia Batalhão Tibúrcio.

Chegou-se planejar transformar o Batalhão de Infantaria para Infantaria Motorizado.

Em 1997 sob o Comando Coronel Edson Admiral, inaugura-se a instalação do pavilhão nacional no topo do Morro da Ucharia.

 

Autor: Roberto Brochado Abreu – membro da Casa da Memória de Vila Velha, 28.10.11
Nota do Autor:  a essa história cabe ainda recebimento de contribuições e corrigendas a quem interessar colaborar, o que será bem vindo



GALERIA:

📷
📷


Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Natal e seus festejos

NATAL, festa máxima da cristandade! Como hoje, também a Vila Velha antiga se preparava para este grande dia na residência do Desembargador Ferreira Coelho 

Ver Artigo
Vila Velha, a Cidade, sua História – Por Seu Dedê

O geólogo canadense Charles Frederick Hart, visitou Vila Velha no ano de 1865

Ver Artigo
A Prainha do meu tempo – Por Seu Dedê

Não existia o uso do termo Prainha por quem residisse onde hoje diziam ser a Prainha

Ver Artigo
A História da Marinha em Vila Velha

Você sabia que a Marinha é mais antiga do que o Exército em Vila Velha?

Ver Artigo
Festa da Penha – Por Edward Athayde D’Alcântara

A dispersão do povo residente em Vitória ou ao longo da linha de bondes ia até a madrugada; o bonde funcionava 24h

Ver Artigo