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História Loja Maçônica União e Progresso de 1914 até 1929

Construção da fachada da Loja Maçônica União e Progresso - Vitória, ES -1913

Os anos iniciais desse período foram tempos difíceis na história da nossa Loja. A diretoria empossada a 27 de junho de 1914 era assim composta: Arnaldo Fernandes Magalhães, venerável; Alfredo de Siqueira Melo, primeiro vigilante; Francisco de Paula Pacheco, segundo vigilante; César Augusto Mendes Veloso, orador; Augusto Guilherme de Carvalho, secretário; e Augusto Arens, tesoureiro. Logo no mês seguinte, a Loja se vê afrontada pelo assassinato por motivos políticos do irmão César Veloso, seu orador. A instituição fica de luto por sete dias e uma romaria dos seus membros ao túmulo do irmão assassinado marca o primeiro mês do infausto acontecimento. A Loja designou uma comissão para solicitar ao Dr. José Francisco Monjardim, irmão do Quadro e advogado, que “não patrocinasse os assassinos”. Interessante notar que o irmão assassinado, que foi iniciado em 1898 quando era estudante, chegou à venerança da Loja em junho de 1911, mas renunciou ao cargo em março de 1912: “estava magoado porque nenhum irmão lhe fora visitar em virtude da agressão que sofrera em praça pública”.

E os problemas da Loja se agravam. A 23 de abril de 1915 é eleito para venerável justamente o irmão José Francisco Monjardim. Além de advogado brilhante, foi político influente – exerceu os mandatos de senador e de deputado federal ao tempo da Primeira República – e dirigiu por muitos anos a Escola de Aprendizes Artífices, antecessora da Escola Técnica, depois CEFETES, atual IFES. Por sinal, este estabelecimento federal de ensino foi inaugurado em Vitória pelo maçom e presidente da República Nilo Peçanha no ano de 1910. O irmão José Francisco, que já presidira a Loja em 1898 e 1899, era filho do primeiro casamento do barão de Monjardim que também pertenceu ao Quadro da União e Progresso.

De 23 de abril de 1915 até 13 de dezembro de 1917, mais de dois anos e meio, a Loja fica em recesso, sem nenhuma atividade ou reunião. Nessa última data é escolhida uma diretoria provisória para funcionar até as eleições do ano seguinte. As causas da decadência da Loja União e Progresso foram na época apontadas como sendo a desunião e dispersão dos irmãos do Quadro e as dívidas contraídas para a construção do templo inaugurado em 1913, e que colocaram a entidade em situação de insolvência. O declínio da União e Progresso entre 1915 e 1918 tem certamente motivos diversos. Alguns de natureza política, já que ocorre o assassinato do irmão orador da diretoria de 1915 por questões dessa ordem, como citado antes. Não pode ser descartada a influência desagregadora entre os irmãos da Loja de episódios traumáticos envolvendo a sucessão estadual de 1916 em que ao presidente Marcondes Alves de Souza sucedeu Bernardino Monteiro. O mais emblemático deles ocorreu naquele ano, em que um grupo político liderado entre outros por Alexandre Calmon, o Xandoca, contesta a eleição de Bernardino e instala um governo dissidente em Colatina que dura cerca de um mês, evento conhecido como Revolta do Xandoca. Também não devem ser ignoradas as questões de ordem econômico-financeira que então afetavam o mundo, o país e nosso estado – vivia-se o auge da I Guerra Mundial, com os mercados internacionais estacionados ou fechados, inclusive o de café, a principal mercadoria que gerava riqueza para o Brasil.

Na reunião de 13 de dezembro de 1917, o venerável José Francisco Monjardim “declara que o fim principal daquela sessão era mostrar, ao vivo, o estado de abandono a que chegou entre nós a Maçonaria”, e anuncia aos irmãos – de forma a incentivá-los para retomar os trabalhos em loja – que o Grande Oriente do Brasil concedera um empréstimo de trinta contos de réis à União e Progresso como forma de evitar que ela abatesse colunas, ou seja, se extinguisse.

Christiano Woelffel Fraga, referindo-se ao recesso da Loja por um período tão grande, nos informa que o protetor a zelar por seu destino foi o venerável José Francisco: “tem-se a impressão de que, enquanto a Loja dormia, o Dr. José Francisco Monjardim, qual um anjo da guarda, secundado por um ou outro irmão, velava para que a União e Progresso permanecesse viva”. Realmente, sua figura se sobressai nessa quadra da história da União e Progresso, por garantir a continuidade da existência da nossa Oficina. É certo que por volta de 1922 a escola que a Loja manteve para proporcionar educação a crianças necessitadas não estava funcionando. O Livro Maçônico do Centenário, organizado pelos irmãos Octaviano Bastos, Optato Carajurú e Everardo Dias, e publicado no Rio de Janeiro em 1922 para comemorar os cem anos da Independência, ao registrar as escolas mantidas por entidades maçônicas no país, refere-se ao nosso estado nos seguintes termos: “No Espírito Santo existe apenas a escola da Loja Fraternidade e Luz, ao Oriente de Cachoeiro de Itapemirim”.

 

Superada essa má fase na vida da Loja, sucessivas diretorias se esforçaram para manter os seus trabalhos em condições mínimas, e mesmo procuraram dinamizá-los em benefício dos mais humildes e necessitados. Nessa época, não custa lembrar, as eleições para escolha de diretoria eram anuais. Nove veneranças, que se substituem com regularidade a partir de 1918, vão reunindo condições para que a Loja retome a realização dos seus ideais mais caros – a beneficência e a educação do povo. Em 1926, na administração do venerável Amenófis Eulálio de Assis, é instalada no térreo do templo a Escola União e Progresso, destinada a proporcionar o ensino das primeiras letras às crianças de famílias pobres. À cerimônia de inauguração compareceu Florentino Avidos, então presidente do estado, cargo que equivale atualmente ao de governador.

Esses anos finais da década de 1920 foram mais tranquilos para a entidade. O café estava em alta e nosso estado era o terceiro maior produtor do país. Mesmo vindo bem depois de São Paulo e de Minas Gerais, o Espírito Santo atingiu pela primeira vez na história a marca de colocar no mercado mais de um milhão de sacas de café. O produto era de qualidade inferior se comparado com o dos outros estados, mas sempre encontrava compradores, seja no exterior para formar blends com cafés superiores, seja para consumo em outros estados da Federação brasileira. Ora, não foi por mera coincidência que a essa pujança no mercado cafeeiro correspondeu um ânimo maior entre os irmãos da União e Progresso. Não somente porque alguns dos seus membros atuavam diretamente no comércio de exportação de tal produto, mas também pelo fato de a maior movimentação no comércio cafeeiro, do qual dependia a economia vitoriense, criava condições para que as ações de beneficência e de auxílio mútuo promovidas pelos irmãos da União e Progresso se desenvolvessem com mais facilidade. Entre os seus membros existiam figuras que estavam ligadas tanto ao comércio exterior do café (exportadores) quanto à sua produção (fazendeiros), ou seja, essas duas parcelas da classe dirigente estadual nelas estavam bem representadas, Também deve ser levado em conta que os maiores entraves financeiros para o desenvolvimento dos trabalhos da Loja já tinham sido equacionados em 1918 com o empréstimo intermediado pelo Grande Oriente do Brasil, como antes referido.

Mais uma grande dissidência na Maçonaria brasileira, ocorrida em 1927, deu origem a outra potência, algum tempo depois denominada Grandes Lojas maçônicas. Marco Morel e Françoise Jean Souza correlacionam essa falta de unidade interna na Ordem maçônica durante a Primeira República com os acontecimentos políticos no mundo profano:

 

“É interessante observar que a dificuldade da maçonaria brasileira em manter uma obediência nacional forte e coesa assemelha-se bastante às dificuldades verificadas no mundo profano, onde todas as tentativas de se organizar um partido republicano nacional foram fracassadas. A república que concretizou interesses regionais via partidos republicanos estaduais também consolidou as diferenças maçônicas por meio dos Grandes Orientes estaduais. Tais “coincidências” entre o mundo profano e o mundo maçônico foram, aliás, constantes em toda a história da ordem no Brasil.”

 

Essa dissidência não teve maiores reflexos na União e Progresso de vez que a única Oficina da Sublime Ordem existente em Vitória se manteve alinhada com os preceitos do Grande Oriente do Brasil. Mesmo assim, a Loja nomeou uma “comissão composta [pelos irmãos] José Francisco Monjardim, José Espíndula Batalha Ribeiro e Artur Lourenço de Araújo Primo para estudar e interpretar a delicada situação”.

 

Foram veneráveis da Loja União e Progresso nos anos de 1914 a 1929 os seguintes irmãos:

1914 – Arnaldo Fernandes Magalhães

1915 – José Francisco Monjardim

1916 e 1917 – Recesso.

1918 – José Francisco Monjardim

1919 – José Espíndula Batalha Ribeiro

1920 – José Francisco da Silva

1921 – Alfredo de Siqueira Melo

1922 – Ernesto Bastos

1923 – Genuíno Agnedo de Andrade

1924 – Ernesto Bastos

1925 – Genuíno Agnedo de Andrade, que faleceu no exercício do cargo e foi substituído por Domingos Pescadinha

1926 – Amenófis Eulálio de Assis

1927 – Antonio Auñon Sierra

1928 – Alfredo de Siqueira Melo

1929 – Antonio Auñon Sierra

 

Alguns desses veneráveis se revezaram na presidência da Loja, como pode ser facilmente constatado. Além deles, tiveram influência na vida da União e Progresso nesses anos os irmãos João Luiz de Albuquerque Tovar, Afonso Correia Lírio, Vicente Peixoto de Melo e Mário Jugurta Couto, dentre outros.

Em resumo podemos afirmar que o que caracteriza esse período de 1914 a 1929 na história da Loja são os esforços para mantê-la viva e atuante, e a retomada das ações de benemerência, especialmente na área da educação a menores carentes.

 

Fonte: Esquadro e Compasso em Vitória – Álbum da Loja Maçônica União e Progresso, 2010
Autor: Fernando Achiamé
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2012 



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