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Marta Wolkart

Igreja da localidade de 25 de Julho

Marta Wolkartt foi uma alemã que aterrorizou o município de Santa Teresa na passagem do século XIX para o XX. Fazendeira e chefe de jagunços da localidade de Vinte e cinco de Julho, ela era a manda-chuva da região. Punia quem infringisse suas leis, aplicando penas que iam de uma simples surra à perda da própria vida. Passados 61 anos de sua morte, sua história ainda está viva na memória dos moradores, bem como em outros vilarejos de Santa Teresa. Ela conviveu ao longo de sua vida com a dupla face do bem e do mal: ao mesmo tempo que era o símbolo de violência nessa tranqüila parte do Espírito Santo, fazia-se também conhecida por seus atos de caridade e pelo hábito de adotar crianças pobres da região. Uma personalidade controvertida, que acabou por se transformar num mito. Hoje, a história de Marta, contada pelos que a conheceram ou souberam de sua existência por terceiros, oscila freqüentemente entre a verdade e a fantasia.

A poderosa Marta Wolkart praticamente tomou o poder em Santa Teresa: era ela quem mandava e desmandava na cidade, aterrorizando a todos com a violência com que impunha a sua vontade. Destruiu a igreja para que todos tivessem de ir à missa em suas terras; tinha em sua casa um porão onde prendia os inimigos ou devedores e mandava matar quem desrespeitava suas ordens

Em sua casa no bairro de Goiabeiras, Vitória, o ex-expedicionário da FEB Vicente Gonring se lembra com detalhes, apesar da distância no tempo, de um episódio vivido por seu avô, Miguel Gonring, dono de uma fazenda em Vinte e cinco de Julho. Como Marta, Miguel havia sido também um desbravador de florestas e era muito conceituado no vilarejo. Um dia, a convite do marido dela, João Sebastião Wolkartt, que era seu compadre, Miguel foi jantar com o casal. Uma cena insólita encerrou a reunião: Marta e o marido travaram uma discussão tão violenta, que pratos começaram a voar sobre a mesa farta. Era a mulher agredindo o marido com sua pontaria certeira. O último prato sobre a mesa era o do convidado. Marta não se fez de rogada e tentou apanhá-lo, mas Miguel a impediu. Por isso, Marta passou a agredi-lo verbalmente e ameaçou atirar o prato contra Miguel, que se retirou imediatamente.

O episódio surge em meio a outras recordações de Vicente que delineiam o caráter extremamente violento de Marta, aliás dona Marta, como foi e ainda hoje é conhecida. Alguns meses após o acontecido, sabendo que .o avô de Vicente possuía boas armas de fogo, inclusive uma Winchester 44, mais conhecida na época como carabina papo amarelo, dona Marta decidiu matá-lo. Mas achou por bem apoderar-se antes da arma, mandando um de seus jagunços fazer-lhe antes uma proposta.

"Era uma arma de estimação e meu avô não queria vendê-la de jeito nenhum", recorda-se Vicente. "Mas diante da insistência do homem, que dizia 'abre o preço, seu Miguel', vovô pediu um preço absurdo, pensando logicamente que o homem não ia concordar. Enganou-se. Ele tirou uma dinheirama do embornal e levou a arma. Dias depois, três jagunços cercaram a casa do vovô, era o primeiro serviço do dia, como se ficou sabendo depois. Mais dois desafetos de dona Marta haviam sido escalados para morrer depois do vovô. Milagrosamente, vovô sobreviveu aos golpes de facão e foice desferidos pelos jagunços. Ele ficou estendido na sala, todo ensangüentado, parecendo morto, e os jagunços foram embora pensando que o haviam liquidado. Mas o vovô ouviu quando eles disseram que iam matar um tal de Vivaldi, em Barracão de Petrópolis (localidade próxima de Vinte e cinco de Julho), e o 'coronel' Augusto Coelho. Vivaldi morreu logo depois, ao encontrar-se com o bando de jagunços de dona Marta. Foi degolado. O 'coronel' foi avisado em Boa Família, hoje Ibiraçu, por um emissário do meu avô."

Augusto coelho era um fazendeiro bom de briga, que tinha uma antiga desavença com dona Marta, por causa de uma dívida, segundo Vicente. Ela havia comprado animais de carga e de montaria de Augusto, mas não os pagara. Um dia, cansado de cobrar a dívida, avisou através de um emissário: ou pagava ou ele mandava soltar um monte de animais nas roças dela. Ela duvidou e alguns dias depois a burrada do "coronel" entrou fazenda adentro, destruindo as plantações. Dona Marta saldou a dívida, mas manteve o coronel na mira de sua vingança. Quando os capangas dela chegaram à fazenda, Augusto coelho já tinha homens bem armados para recebê-los. Foi um tiroteio infernal, muitos morreram e os poucos sobreviventes do bando de dona Marta fugiram através da floresta.

O poder de vida e morte que essa mulher tinha sobre os moradores do vilarejo deixava-os de tal modo intimidados que dona Marta não pensou duas vezes para transferir a sede do distrito de Vinte e Cinco de Julho para sua fazenda. Era pouco, porém. Na sua ousadia sem limites, mandou destruir a igrejinha da vila e construiu outra em sua fazenda. Só manteve intactas as imagens dos santo para entronizá-las na nova igreja. E ela nem era católica. Era uma luterana legítima, como quase todos os imigrantes alemães. Mas resolveu ter sua própria igreja, ainda que fosse católica, e costumava assistir missa ao lado do padre no altar. Sentada numa vistosa cadeira de vime, que seus capangas colocavam antes do culto, ficava todo o tempo da celebração de frente para o público, em lugar de acompanhar o culto.

Entre os moradores de Vinte e Cinco de Julho, quase todos vindos na época da Europa (geralmente da Alemanha, mas havia também italianos e suíços), ela era a maior fazendeira da região. Possuía extensas terras, cultivava lavoura de café, tinha gado e tropas de animais. Mas a sua principal fonte de renda era a comercialização de café. Todos vendiam suas colheitas de café a ela. Ai daquele que não o fizesse. Até o lazer dos moradores da vila era controlado por dona Marta. Os bailes da região eram realizados em sua casa. Ela não participava, mas ficava do seu quarto, por trás de uma porta de vidro, controlando o ambiente. Qualquer deslize ou avanço de sinal do cavalheiro era punido com a expulsão do recinto. Dona Marta pegava o infrator pelo colarinho e jogava porta afora, sempre com a escolta de seus fiéis capangas. Os bailes de dona Marta eram famosos pela elegância de seus freqüentadores, com as damas bem trajadas e os cavalheiros de paletó e gravata. Mas eles também representavam fonte de renda, pois num compartimento anexo funcionava um bar que vendia bebida aos freqüentadores. Que eram, de certa forma, controlados por seus jagunços, posicionados do outro lado da varanda, num cômodo que tinha, na época, a mesma função que têm hoje as guaritas de segurança nos prédios residenciais.

Tudo na vila de Vinte e Cinco de Julho tinha o seu controle ou a sua autoria. Na época, a região vivia uma frenética agitação por causa das boas colheitas de café e do movimento comercial. Tropas e mais tropas de burros cortavam os seus caminhos e trilhas. Por iniciativa de dona Marta, surgiu uma banda de música, a primeira da região, que era toda formada por imigrantes europeus. Era muito solicitada para animar as festas de outras localidades de Santa Teresa. Sua longa vida estendeu-se aos dias atuais: a anual banda do município tem origem naquela que é uma criação de dona Marta. Seu maestro atual veio de Vinte e Cinco de Julho, é o veterano Américo Loss.

O casamento de dona Marta terminou de maneira trágica em 1902, com o suposto suicídio de João Sebastião, por causa de um romance que ela iniciou com um de seus jagunços. Foi um período de muita humilhação para o marido, segundo a impressão dos mais antigos moradores de Vinte e Cinco de Julho, como é o caso do casal Vitório Corona. "Quem mandava na casa era ela", informam. Mas essa era uma situação muito natural para a neta Lídia, pois, segundo ela, nas famílias alemãs são as mulheres que ficam à frente dos negócios. "Quando o marido se envolve", explica Lídia, "ele tem que consultar a mulher. Mas no caso da minha avó, realmente ela mandava direto."

A violência era a face mais visível de dona Marta. Mas por trás da alemã de rosto duro vivia una alma piedosa que se preocupava com a saúde dos moradores da região. Dona Marta fazia as vezes de médica da localidade, distribuindo receitas homeopáticas, mas ninguém soube esclarecer se era formada em medicina na Alemanha, ou se apenas utilizava-se dos manuais desse método de tratamento nascido no século XVIII, pelas mãos do médico alemão Samuel Hahnemann. Ele publicou o seu "Dicionário Farmacêutico" entre 1793 e 1799. É possível que o manual fosse o bastante para dona Marta aplicar seus ensinamentos nos que buscavam sua ajuda.

Os que a conheceram quando tinha idade avançada, como Otávio Corona, descrevem a alemã como imponente, apesar dos cabelos brancos. Ela visitava sua fazenda sentada numa cadeira de vime em cima de um estrado puxado por duas juntas de boi. Pelo que descreveu o velho Otávio, é de se supor que era uma cena de rara beleza, digna de figurar nos grandes clássicos do cinema.

Dona Marta invariavelmente vestia-se de preto, fazendo um belo contraste com os cabelos brancos. Vestia casimiras vindas do exterior. Por onde passava, feito uma rainha, era saudada pelos moradores: as mulheres vinham à porta para acenar com a mão, enquanto os homens descobriam a cabeça.

Generosa com os pobres, costumava dar-lhes alimento e dinheiro. E acabou criando 18 crianças que não tinham mãe. "A vovó era uma bondade", suspira a bisneta Emalina, na varanda de sua casa. Emalina lembra um entrevero dela com Henrique Capitão (assim chamado por ser filho do capitão Bicher), por causa de um cravo apanhado no seu jardim. Dona Marta não perdoou Henrique e mandou dar uma surra nele "para não mexer mais nas coisas dos outros e muito menos na natureza, que ela gostava muito".

Fonte: www.seculodiario.com/etnias/alemaes/index16.htm

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