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Minério do Vale do Rio Doce e a Americana U.S. Steel Corp

O vapor Arcovan atracado e recebendo o carregamento de minério no Cais do Atalaia

O minério da zona do Rio Doce é exportado pela Companhia Vale do Rio Doce S.A.. Esta Companhia, na qual o Tesouro Nacional têm 85% das ações e dá garantia aos seus empréstimos externos, possui as Minas de Itabira, é proprietária da E. F. Vitória a Minas e é concessionária do Cais de Embarque, no porto de Vitória. Oferece, pois, plena garantia para que os seus contratos de fornecimento de minério possam ser cumpridos rigorosamente — uma vez que tem pleno controle da produção e do transporte.

O capital social da Companhia, no valor de   Cr$ 650.000.000,00, é todo brasileiro. O capital americano, no valor de US$ 26.500.000,00, se constituiu de um, crédito aberto pelo Export-Import Bank of Washington, para aquisição do equipamento e materiais, nos Estados Unidos. Esse Banco não é acionista da Companhia e sim um seu grande financiador. Como o primitivo financiamento desse Banco, no valor de 15 milhões de dólares, não tinha garantia do Tesouro, e era pago somente com o produto de taxas sobre o minério exportado, podendo deixar de ser resgatado integralmente nos prazos estabelecidos, ficou estatuído que o Banco teria, na Diretoria da Companhia, dois Diretores americanos, ao lado de dois Diretores brasileiros, todos eleitos pela Assembléia. O Governo Brasileiro, no entanto, teria o direito de escolher e nomear para Presidente da Companhia, como seu delegado, a pessoa que fosse da confiança do Presidente da República.

A Companhia, embora tenha uma Diretoria mista, composta de dois representantes do Banco Financiador, dois representantes dos acionistas brasileiros e um Delegado do Governo, não tem obrigação contratual alguma de fornecer minério a determinado país. Ela é completamente livre neste ponto, e vende o seu minério de acordo com as suas próprias conveniências, respeitados os interesses nacionais.

O controle da Administração da Companhia está hoje, exclusivamente, com o Governo do Brasil, tendo sido desfeitos, ultimamente, os equívocos de que esse controle deveria ser exercido conjuntamente com o Banco Financiador, de vez que, resolvendo o Governo garantir o pagamento integral do primitivo empréstimo, independente dos prazos limitados pelo contrato, teriam cessado os motivos desse controle em conjunto.

Em fins de 1947, a maior companhia americana produtora do aço, a U.S. Steel Corp., interessou-se pelo minério de ferro de Itabira, prontificando-se a adquirir de um milhão a 3 milhões de toneladas, dispondo-se mesmo a financiar a quantia que fosse necessária ao aparelhamento da Companhia, para alcançar esse objetivo.

Os entendimentos prosseguiram durante o primeiro semestre de 1948 e paralisaram quando aqui chegou a Missão Abbink. Veio essa Missão para analisar os fatores que entravam o desenvolvimento econômico cio Brasil e para sugerir medidas destinadas ao aproveitamento dos seus próprios recursos. No que se refere ao minério de ferro, percebeu-se, logo, que havia certo desinteresse pela aquisição dessa matéria prima.

Como Presidente da Vale do Rio Doce, havia sido designado, pelo Governo, para ser um dos membros dessa Missão, no setor da Exploração Mineral, e apresentei, então, um Plano que visava promover uma exportação programada do minério de ferro da zona do Vale do Rio Doce, a partir de 1.500.000 até atingir a mais de 10.000.000 ton. — na suposição de que realmente, aquela Missão americana estivesse interessada em adquirir o nosso minério, em grande quantidade e bem assim em financiar os projetos de equipamento e aparelhamento das minas e dos meios de transportes.

Na mesma ocasião, vieram ao Brasil o Presidente e o Vice-Presidente da U.S. Steel Corp. Tendo sido recebido pela Diretoria da Companhia, o Vice-Presidente da U.S Steel Corp, mostrou-se desinteressado da questão do financiamento dos projetos da Companhia, para a obtenção de grande tonelagem do minério a longo prazo, interessando-se apenas em obter opção para a compra de 500.000 toneladas.

E, somente agora, após a revelação que aquela Companhia americana fez, ao mundo inteiro, de que havia obtido da Venezuela manifestos de jazidas com o potencial de 1 bilhão de ton., com o privilégio de propriedade por 100 anos, é que podemos compreender o abandono dos entendimentos que com ela mantínhamos e, ao mesmo tempo, a indiferença da Missão Abbink, ocasionada pela descoberta da Venezuela, então guardadas sob o maior sigilo.

No Brasil, o nosso código de Minas determina que as jazidas são propriedade da Nação e só são concedidas a brasileiros natos ou a Sociedade organizadora no Brasil, mediante condições ali estabelecidas. A nossa tradição e a nossa política econômica já se orientaram, definitivamente, no sentido de que a exportação de minério de ferro não pode efetuar-se em detrimento do desenvolvimento econômico da região a que serve.

Se a grande indústria americana de aço, mesmo no momento crucial da batalha de sua existência, mantém a exigência do princípio básico sobre que se alicerça, qual o de obter, a longo prazo, matéria prima a preço baixo e por ela controlada; e se ela encontrou na Venezuela uma grande fonte de abastecimento satisfazendo a essas características, é lógico e compreensível que não iria prosseguir entendimentos com países onde essas condições não mais poderiam ser obtidas.

Resta saber, no entanto, se esse abandono não foi um tanto precipitado.

As últimas notícias que nos vêm dos Estados Unidos são as de que, no corrente ano, já há escassez de minério, escassez esta que dia a dia se vai agravando, até que as fontes exteriores de abastecimento de Venezuela, do Canadá e das minas internas de beneficiamento do Taconito estejam em funcionamento. E tudo leva a crer que isto não se dará antes de 1955; e mesmo depois, o nosso minério, como mostraremos mais adiante, será sempre necessário àquela indústria.

Tal é a soma de recursos financeiros a serem investidos naquelas três fontes de abastecimento, que o custo da tonelada de minério pronto para embarque será grandemente acrescido. Espera-se que o preço da tonelada de aço subirá em cerca de $4,00, no qual o aumento do preço de minério entrará com um bom contingente.

As futuras fontes do triângulo de abastecimento da indústria de aço americano, localizadas nas jazidas  da Venezuela, Canadá e nas usinas de beneficiamento do Taconito, nos Estados Unidos, todas elas financiadas e controladas por aquela indústria, poderão manter fixo e sem oscilações, por muitos anos, O preço do minério mas esse preço será bastante mais elevado que o atual. E, assim, dado o alto teor e pureza do nosso minério, este concorrerá, vantajosamente, nos mercados americanos e internacionais.

 

Fonte: O Minério de Ferro na Economia Nacional (O Vale do Rio Doce), 1950
Autor: Dermeval José Pimenta, Engenheiro de Minas e Civil - Presidente da Companhia Vale do Rio Doce
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2015

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