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Monos

Mono

Eu nunca tinha ouvido falar nisso, agora interrogo muitos caçadores, e todos confirmam: o mono, o maior de todos os macacos do Brasil, existe na margem sul do Rio Doce, mas não na margem norte.

Meu amigo Luís Alves, grande caçador, filho do grande caçador que foi Chico Alves – não o cantor, mas o comerciante de Cachoeiro que era amigo e companheiro de mato de Virgilinho Melo Franco – também confirma a história e até mostra um estudo que andou escrevendo a respeito. Os monos teriam vindo não se sabe de onde do sul, pelas matas de São Paulo, Estado do Rio, Minas e Espírito Santo, perto do litoral, e esbarraram com o curso d’água. Quando sua comida rareou eles tiveram a migração barrada a leste pelo mar, a oeste pela grande curva do rio de centenas de metros de largura. E nunca um mono ou pelo menos nunca um casal de monos conseguiu atravessar o grande rio, nem mesmo quando a floresta do lado sul começou a ser devastada pelos lavradores e a do lado norte ainda permaneceu tantos e tantos anos fechada e virgem.

O outro símio mais freqüente nas matas do Rio Doce é o macaco da noite, grande comedor de cacau, que causaria um grande prejuízo à lavoura se esses caboclos baianos e sergipanos (e muitos capixabas também) não tivessem como prato predileto um ensopado de macaco – isso não deixa de ser uma preparação para a antropofagia (ou quem sabe uma saudade).

Mas me obceca a história dos grandes monos de um só lado do rio, olhando dos altos galhos da floresta a massa líquida passar e além, do outro lado, a Floresta Proibida. Teriam passado, com certeza, subindo pela margem do rio até as cabeceiras, mas se não o fizeram foi talvez porque a floresta acabava antes do rio, ou algum afluente maior da margem sul lhes barrou o caminho. Que os caçadores de Minas confiram essa história de monos, digam até onde eles chegaram e não chegaram. Penso nos monos tocados pelo fogo e pelo machado dos desbravadores olhando a floresta virgem do outro lado como Terra Prometida dos Monos Perseguidos, olhando com seus olhos tão humanos e tão tristes.

Hoje também do outro lado do rio a floresta vai caindo; só há um lugar para onde poderia ser levado um casal de monos com alguma possibilidade de crescer e multiplicar-se na paz da mata, é no Parque Sooretama, ao norte do município de Linhares. Mesmo que eles alterem ali de algum modo o equilíbrio da flora e da fauna acho que se deveria fazer essa justiça secular, atender a essa esperança talvez milenar dos monos – levá-los para o outro lado do rio, onde eles possam viver livres desses outros monos estranhos e rasteiros que somos nós humanos, pobres humanos tristes como grandes monos na beira do grande rio, quando as últimas cores da tarde desmaiam no espelho trêmulo das águas.

Dezembro,1953

 

Fonte: Crônicas do Espírito Santo. 1984
Autor: Rubem Braga
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011
Obs.: Este livro foi doado à Casa da Memória de Vila Velha em abril de 1985 por Jonas Reis
 

 

 

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