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Índios selvagens e civilizados

Capa do Livro: Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce, 1974 - Autor: Auguste de Saint-Hilaire

Índios Selvagens

No tempo da expulsão dos Jesuítas, não havia selvagens em todo este distrito (sul do Espírito Santo); somente seis ou oito anos depois dela, começaram eles a cometer estragos (escrito em 1818). Da primeira vez que se fizeram notar, mataram animais a dentadas, cavalos, homens; e depois renovaram carnificinas e devastações.

Citarei um fato que me foi narrado por dois dos meus negros e terei cuidado em nada alterar. “Os selvagens atacaram, há um par de anos, os vaqueiros de Muribeca e se apoderaram de um negrinho de 10 a 12 anos de idade. Sabendo o que se passava, o chefe da fazenda mandou imediatamente, no encalço dos indígenas, cinco escravos bem armados, entre os quais estavam esses meus dois negros.

Os escravos surpreenderam os selvagens sentados ao redor de uma fogueira e, atacando-os a tiros de espingarda, mataram muitos. Depois, aproximando-se do fogo, encontraram o corpo do negrinho, do qual os índios haviam arrancado pedaços que já estavam assados em parte. Cortaram, para mostrá-la a seu chefe, a cabeça de um dos índios que morreram no lugar e enterraram os restos do negrinho”.

Felicíssimos fomos em regressar ao posto de Boa Vista (Bela Vista) sem nos haver aparecido qualquer selvagem.

O posto, como já disse, foi instalado depois que os índios começaram a fazer devastações nesta província. Compõe-se de vinte homens comandados por um subtenente (alferes) e alguns deles são continuamente destacados para defender as margens do Rio Cabapuana e outros pontos igualmente ameaçados.

Itapemirim

Seguimos para a Vila de Itapemirim. A Vila está apenas em formação, mas o nome que tem, e que em guarani significa pequena pedra chata, foi dado a seu território pelos índios provavelmente mesmo antes do descobrimento do Brasil, pois já o encontramos citado no relato muito interessante de Jean de Léry, publicado por volta dos meados do século XVI.

É possível que nesta parte tivesse havido choças de índios ou cabanas de portugueses. Somente em junho de 1811 foi que se deu a Itapemirim o título pomposo de Vila.

Índios Civilizados

Tempos depois, cheguei a Benevente. Tão logo desembarquei, fez-se um círculo à nossa roda e, a cada instante, mais aumentava a gente. Índios civilizados, negros, luso-brasileiros todos no olhavam quase mudos, com jeito estranho e estupidificado.
Quando expulsou os jesuítas, a Administração destinou aos índios civilizados de Benevente uma área inalienável de seis léguas por outras tantas, mas, sendo fértil o lugar, os governadores logo deram aos seus amigos partes dessas terras, sem considerar o direito dos indígenas, que reclamaram inutilmente.

Entretanto, para poder comprar aguardente, muitos índios cederam suas propriedades aos brancos, os quais, para se garantirem no gozo do valor declarado inalienável, se comprometeram a pagar pequena retribuição à Municipalidade de Benevente.

Outros indígenas, ao deixar a região, não fizeram venda alguma e portugueses tomaram, pura e simplesmente, posse de suas terras. Contudo, hoje se dão sesmarias em todo o distrito, sem sequer exigir aforamento para a Câmara; o Ouvidor da Vila da Vitória tem o título honorífico de conservador das possessões dos índios de Benevente, mas, na realidade, nada mais tem a conservar.

As mencionadas terras têm passado, quase todas, pelas mãos dos luso-brasileiros, e os índios se comprazem em cultivar campos que deveriam semear para si mesmos.

Quando o índio pede justiça contra o português, como poderá obtê-lo? É aos amigos e patrícios de seus adversários que ele é obrigado a dirigir-se, já que os Juízes ordinários de Benevente são exclusivamente portugueses. E, ainda, como as queixas de uma raça de homens pobres e sem apoio chegarão até aos magistrados superiores, a tão grande distância desses infelizes e, na maioria das vezes, surdos à voz dos que se apresentam de mãos vazias?

Pouco a pouco, os índios eram empregados em diversos trabalhos. Tirava-se de Benevente (1818) certo número deles, revezados de três em três meses; eram mandados a trabalhar bem longe de sua habitação; alimentavam-se mal e, ao cabo do trimestre, só lhes davam 4 mil-réis, mesmo assim sem regularidade. O temor dessas explorações ilegais espantou grande número deles e sendo, principalmente, homens que abandonam a região, sem encontrar mulheres, em outra parte, ficaram perdidos para a população.

 

Fonte: Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce, 1974
Autor: Auguste de Saint-Hilaire
Nota do Site: Panorama do Espírito Santo no início do século XIX.

Índios

Índios – Por Monsenhor Pedrinha, em 1891

Índios – Por Monsenhor Pedrinha, em 1891

A índia era ligeiramente morena, esbelta, galharda, de uma sisudez misturada com jovialidade, feições delicadas e galanteamento simpática

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