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O desaparecimento do painel da virgem

Gravura antiga representando a lenda do painel da Virgem - Acervo Edward D Alcântara

"Em certo dia, um matinal transeunte, não tendo visto na gruta o ermitão, nem os companheiros, por curiosidade abriu as cortinas do pavilhão, e notou também a falta da Santa. Intrigado por esta dupla ausência correu a publicar o fato aos amigos. Daí a pouco, propagando-se a notícia na povoação, todos os devotos estavam reunidos diante da morada do servo de Deus, cada um procurando a explicação do misterioso desaparecimento. Ali se demoraram até quase a derradeira claridade do crepúsculo. Foi então que o latido do cãozinho lhes revelou a presença do frade no seio da floresta.

"Não tardou muito em aparecer, dizendo ter inutilmente andado a procurar o painel, que, todavia, esperava achar no outro dia, com ajutório dos devotos da Mãe Santíssima.

"Este sucesso encheu de consternação os habitantes da Vila Velha, conjeturando que este retrato tivesse sido arrebatado por algum bicho iludido pela aparência de uma pessoa viva; por isso, prometeram o seu concurso. Com efeito, no dia seguinte muito cedo, frei Pedro de Palácios entranhava-se na mata virgem acompanhado pela quase totalidade dos moradores da vila.

"Sem contar o número das resistências locais e acidentais, como despenhadeiros abruptos, cuja transposição ou rodeio exigia grande cuidado para evitar-se o perigo do lapso nos fojos naturais [...1, os batedores do espesso bosque foram subindo até à chapada, não ficando canto ou buraco por examinar em sítios tão agrestes.

"Ofegantes e desacoroçoados, chegando ao pé da Penha, não tendo achado o painel, nem fragmentos dele, os companheiros resolveram dar por concluída a sua tarefa naquele dia, para voltarem no seguinte ainda mais cedo; porém o venerável ancião reanimou-os a subirem até ao ápice, pela esperança de lá em cima achar-se a imagem. [...]

"Mas aí é que havia a mais oposta das dificuldades. A pedra ostentava os seus flancos tão escarpados que parecia impossível a ascensão até ao vértice. Todavia, o eremita, invocando a sua vontade tenaz e paciente, contornando o obstáculo, chegou a um dos declives morrendo menos asperamente. E...] Por ali começou a engatinhar com os companheiros e assim, ora caindo em um passo, ora escorregando em outro, pôde alfim galgar até ao cume.

"A pedra em cima não acabava totalmente em ponta aguda: tinha uma depressãozinha em dois terços com seus altos e baixos até um ressalto não muito elevado. Antes deste, havia pedrinhas soltas em uma cova meio aterrada. Aí vegetavam duas palmeiras, irmãs gêmeas, órfãs e sem parentes, desvalidas, abandonadas na esterilidade do chão pedregoso, e expostas ao furor dos ventos. [...] Entre uma e outra, que pareciam querer abraçar-se, havia uma pequena proeminência. Sobre o ressalto menor, servindo de altar, debaixo das palmas virentes [...], a sacra efígie radiante de amor maternal resplandecia sob a ação espectral do sol! [...] O respeitável leigo tomou o painel em seus braços, beijou-o e deu a oscular aos circunstantes.

"Era, além de incômoda, mais arriscada a descida por tais sítios na ausência do sol, sendo preciso pisar sobre a serapilheira, tapete ordinário das cobras peçonhentas saídas das covas, ou dos ocos dos paus para respirarem na frescura da tarde. Todavia ninguém cogitava disso, e cada qual mais impávido, caminhava para a vila, descendo com a confiança na proteção da Mãe comum, cuja sagrada efígie era conduzida adiante pelo venerável ancião. [...]

Repetiu-se por mais de uma vez, com pequenos intervalos, o fato extraordinário do desaparecimento, da achada, e da recondução do retábulo da Santa, de maneira que, por este modo, [...] ficou bem firmado, na crença geral, que a Senhora desejava o culto em cima na penha.

"Então todos os habitantes da capitania, e particularmente da Vila Velha, prometeram a Frei Pedro de Palácios a coadjuvação por serviços pessoais, e esmolas para a construção de uma capelinha no monte". 

 

Autor: Guilherme Santos Neves
Fonte: História Popular do Convento da Penha - 3ª edição, 2008 
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2014 

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