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O imperdível Luís - Por Pedro Maia

Pedro Maia - Cronista do Cidade Aberta

É difícil para nós, jornalistas, fazermos noticia quando um jornalista morre. Mais difícil ainda é escrever sobre um jornalista morto, principalmente quando este jornalista é do porte de um Luís Eduardo Nascimento. E a tarefa se torna imensamente penosa quando se sabe que o jornalista morto era, antes de tudo, um amigo, um irmão.

Para os que não sabem, esta coluna, "Cidade Aberta", que escrevemos há coisa de uns oito anos, era originariamente assinada pelo Luís Eduardo, que neste espaço marcou época com o seu estilo irônico e sutil de dizer as coisas. Em 1981, quando o Marien Calixte respondia pela redação de A Tribuna, o Luís foi intimado a fazer a coluna social do jornal e nos indicou para substituí-lo na "Cidade Aberta".

Na ocasião ficamos temerosos do que poderia acontecer em substituir o titular que já havia marcado, com sua personalidade, a linha da coluna. Foi quando o Luís, do alto do seu otimismo sem fim, gritou no meio da redação:

— Qualé, ô Pedrãol Tu vais fazer até melhor que eu! Deixa de bobeira, se enquadra ô otário, e vai em frente...

De outra vez, quando a televisão já fazia parte de A Tribuna, nos convidaram para fazer um comentário sobre polícia no jornal da emissora, onde o Luís já ocupava dois minutos falando sobre coisas da cidade. Outra vez o medo da coisa nova e outra vez o conselho do Luís:

— Olha aí, ô mané! Tu já cantaste uma mulher bonita? Pois então. É a mesma coisa. É só olhar para a câmera na sua frente como se ela fosse uma mulher bonita, e conversar com ela, numa boa! Qual é Pedrão! Vai em frente...

E agindo exatamente como o Luís nos ensinou ficamos por quase dois anos no ar, no mesmo jornal em que o Luís também manteve o seu espaço, até se transferir para outra rede de comunicação.

Assim era a Luís Eduardo Nascimento. Às vezes irreverente, mas sempre usando de uma sutileza toda especial, ele conseguia malhar os outros como se estivesse elogiando e elogiava como se estivesse malhando. Um gozador nato, possuía aquilo que no meio jornalístico se define como "faro de repórter". Ele sabia o assunto que era o quente e sacava as coisas dentro de uma ótica de homem inteligente, integrado ao mundo em que vivia.

Luís adorava inventar coisas e em sua coluna, em A Tribuna (que era uma coluna social que não falava em sociedade), criou o termo "imperdível". Na época, o secretário de redação era o seu xará Luís Aparecido, que implicou com o termo e vivia gozando o Eduardo. "Ô Luís, este negócio de imperdível parece coisa de viado! Pára com isso, ô anta de galocha..." — dizia o Aparecido, para implicar com o seu xará.

Luís Eduardo ria e no outro dia tacava lá de novo o "imperdível". Passaram-se os anos e o termo ganhou a imprensa nacional, passando a figurar em colunas como a do Zózimo, no JB, e do Swam, no O Globo. Luís Eduardo nunca reivindicou para si a autoria da expressão, mas sempre que podia malhava o Aparecido: "Aquele paulista do Bexiga" — dizia ele do alto do seu sorriso carioca — "acha que sabe português. Imperdível é imperdível, e pronto".

Assim era o Luís Eduardo Nascimento. A imprensa perdeu um de seus nomes mais expressivos e nós perdemos um amigo, um irmão...

Que a terra lhe seja leve e que descanse em paz...

 

Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves e Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão: Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro MaiaCompilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020

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