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O primeiro cinema de Vila Velha

Rua 23 Maio - Vila Velha(a foto ilustrativa da matéria é do início da década de 1960)- Acervo da Família do ex-prefeito Tuffy Nader

Vila Velha teve o seu cinema mudo. Ele se localizava à rua Vinte e Três de Maio, próximo à antiga casa de comércio de secos molhados do finado Radagásio Lyra, onde muito mais tarde seria instalada uma pensão. Esse cinema, chamado Cici, era propriedade de Durval Santos, popularmente conhecido como Tinininho. Como todo cinema mudo que se prezava, ele tinha também o seu fundo musical ao vivo, só que, em vez do piano e do violino tradicionais, estavam presentes o violão e o cavaquinho tocados pelo casal Tanego Piratininga de Barros e Maria José Barros, respectivamente, que acompanhavam as cenas do filme. Mais tarde juntou-se à dupla Waldemar Bourguignon, que na época teria uns quatorze anos e era carinhosamente chamado de Waldemar Cambota, pelo seu andar de pernas arqueadas. Aí a dupla transformou-se em trio, passando Maria José a tocar bandolim. Apesar de novo, Waldemar já tocava como gente grande. Quando adulto, poucas execuções no cavaquinho ou violão, no Brasil, igualaram-se às dele. Se as superassem, a diferença estaria nas firulas próprias de cada um. Pena que os grandes centros não o tenham descoberto, pois seria, sem sombra de dúvida, como músico, uma celebridade nacional.

Os músicos, assim constituídos, tinham que estar ativos e observar atentamente os movimentos dos protagonistas dos filmes, adequando as linhas melódicas às situações e cenários que os envolviam. Isso era comum no período entre os anos de 1920 e 1927.

Em 1928 surgiu o cinema falado. Os artistas músicos que faziam o acompanhamento das cenas protestaram, mas o que fazer? O cinema falado viera para ficar.

No começo, o salão do cinema Cici não dispunha de cadeiras. Os espectadores tinham que levá-las de casa. Em dias de apresentação de filmes era comum verem-se famílias inteiras com os seus filhos meninos na porta do cinema e cadeiras à cabeça. As crianças, na frente, diziam a senha ao transpor a porta: “Quem vem atrás paga.” Atrás estavam os seus familiares ou alguém que se dispunha a pagar-lhes a entrada. Lá dentro os adultos se sentavam nas cadeiras, enquanto os transportadores ficavam em pé pelos cantos, encostados nas paredes ou mesmo sentados no chão. Os filmes eram divididos em partes denominadas atos. Quando terminava o primeiro, aparecia na tela a legenda: “Fim do 1º ato”. Da mesma forma para o segundo, o terceiro e assim sucessivamente, até o último ato. Os filmes podiam ter de um a sete atos e ao final de cada um deles acendiam-se as luzes para inserção de um novo rolo no aparelho projetor. Enquanto isso os músicos paravam de tocar, retomando suas atividades assim que se apagavam as luzes e recomeçava a projeção.

As sessões de cinema do Cici eram anunciadas pelas ruas de Vila Velha várias vezes num só dia, levando-se em consideração o seu aglomerado urbano de pouca extensão. Os anunciantes ou pregoeiros circulavam com tabuletas de madeira penduradas às costas do tamanho de uma meia porta em que se fixavam cartazes com cenas e título do filme. À tardinha, dois garotos, um de cada lado, levavam a tabuleta pelas ruas e iam gritando: “É hoje no Cici, belíssimo drama em 5 (ou 7) atos, O Conde de Monte Cristo. Cascudo.” E concluíam: “Para conforto, não deixem de levar suas cadeiras! Criança só paga a metade.” O pagamento desses pregoeiros consistia na entrada grátis ao cinema, e para serem identificados exibiam à porta um dos braços marcados com uma cruz em tinta própria.


Fonte: Livro ECOS DE VILA VELHA, 2001
Autor: José Anchieta de Setúbal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011



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