Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O Tesouro dos Jesuítas – Por Adelpho Monjardim

Palácio Anchieta e Fonte

Entre nós a Companhia de Jesus é a responsável por grande parte das lendas sobre tesouros ocultos; histórias que bolem com a imaginação, deixando o fosforicar inquieto de ansiosas interrogações. Seria rica a Companhia de Jesus? Verdade que catequizaram índios para explorar as riquezas que jaziam no seio das matas? A pergunta faz sentido e tem lógica, pois sabemos que para os índios aquelas riquezas nada significavam; fácil, portanto, aos catequistas induzi-los a carreá-las para as suas arcas. Expulsos, onde foram parar as suas alfaias? Sabe-se que muito ouro do Brasil fora enviado para Roma, pela Companhia de Jesus.

A história dá o que pensar e o povo não dorme. Muitas são as lendas que por aqui circulam ligadas aos homens da sotaina, que, segundo pensam, deixaram à sua passagem largo rastro de tesouros.

A expulsão pegou-os de surpresa. Da torre da Casa Provincial de Vitória, também Igreja de São Thiago, vigiavam a barra, suspeitosos de que mais cedo ou mais tarde chegaria o navio com a ordem fatal.

Por uma ensolarada manhã alvejou na barra o velame de um barco português. Da atalaia Frei Vicente deu o alarme e pronto, como se o chão os tivesse tragado, os frades desapareceram, deixando a Casa vazia.

Rezam as crônicas que fugiram por uma passagem subterrânea, que ia sair no antigo Porto dos Padres. O propalado subterrâneo jamais existiu, porque a Cidade Alta, onde foi construída a Casa Provincial (Hoje Palácio Anchieta), é pura e duríssima rocha viva, continuação das cumeadas graníticas de Argolas, na margem oposta da baía. A lenda se desfez quando rebaixado o piso da Avenida Jerônimo Monteiro, no trecho assinalado para passagem do subterrâneo. Rebentadas toneladas de pedras dele não se encontrou o mínimo vestígio. E como poderiam os jesuítas perfurar a rocha se desconheciam a dinamite?

Sem os rocambolescos artifícios de passagens secretas os jesuítas tiveram tempo suficiente para a fuga e preservar as alfaias se realmente as possuíam tão valiosas. Como nos tesouros do Castelo, no Rio de Janeiro, falava-se também aqui nos doze Apóstolos de ouro, tamanho natural, e num carneiro de ouro, além de pedras preciosas, turíbulos, sacrários e demais pertences do culto, todos em metal nobre. Havia muito dinheiro em moedas de ouro e prata. Tudo, segundo os relatos, fora carregado para a Fazenda de Precembape, propriedade jesuítica, em Caçaroca, no atual Município de Viana.

Para credenciar a lenda, constava que na demolição de uma parede da Igreja de Santa Isabel, em Viana, fora encontrado, em nicho secreto, misterioso livro com o roteiro de todos os tesouros. Para maior cunho de verdade o livro encontrava-se em poder do Dr. Pessanha Póvoa, escritor e político influente na época.

Com o mesmo vigor a história chegou aos nossos dias e não foram poucos os que se entregaram ao ímprobo labor de sua procura. Alguns enlouqueceram e outros se arruinaram gastando legítimas fortunas em riquezas hipotéticas.

Certo pároco afirmava ter encontrado, nos porões do Convento da Penha, o famoso roteiro. Baseado em relato que nos forneceu, escrevemos pequena novela. O assunto despertou tanto interesse que um senhor, estrangeiro, nos procurou para pôr à nossa disposição forte quantia a fim de rastrearmos o tesouro.

Desde que Precembape fora abandonada pelos jesuítas, tudo ali se arruinou. O mato invadiu o leito dos cursos d'água, transformando a região num pantanal.

Revivendo a lenda, um agrimensor do Estado, trabalhando naquelas terras, afirmou que ao sondar o terreno, junto de umas ruínas, a sonda chocou-se com uma coisa dura, consistente, que deixou resíduos como cimento. Verificou tratar-se de uma argamassa feita com óleo de peixe, então em uso pelos antigos, e tão forte quanto o cimento.

A lenda voltou à baila. Situava-se ali a entrada do famoso poço que conduzia ao rico subterrâneo, adrede preparado, pois a expulsão era esperada, assim como a extinção da Companhia, consumada em 1773, sob o Papa Clemente XIV.

Verdade ou não, o roteiro hoje de nada valeria, tão radical a transformação topográfica local. Verdade ou mentira, a interrogação permanece.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

Folclore e Lendas Capixabas

O Jongo como Patrimônio Cultural - Por Osvaldo Martins de Oliveira

O Jongo como Patrimônio Cultural - Por Osvaldo Martins de Oliveira

Nossas pesquisas e atividades de extensão vêm acompanhando as “ações e políticas de salvaguarda” do Iphan para os grupos de jongo-caxambu no ES 

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

A Pedra dos Ovos – Por Adelpho Monjardim

Consiste a interessante formação em compacto bloco de granito, sofrivelmente oval, superposto a outro menor, em perfeito equilibro

Ver Artigo
O Penedo - Por Adelpho Monjardim

Defrontando o antigo Forte de São João, sede atual do “Clube de Regatas Saldanha da Gama”, ergue-se o Penedo

Ver Artigo
O Tesouro da Ilha do Francês – Por Adelpho Monjardim

Junto ao mar, na encosta rochosa, abre-se uma gruta. A entrada é pouco alta e estreita, porém, ela se estende a profundezas desconhecidas

Ver Artigo
Itaúnas - Por Adelpho Monjardim

Situada na embocadura de importante rio, na orla marítima, possuidora de magnífico e extenso litoral, cedo desenvolveu-se, tornando-se próspera povoação, com intenso comércio com a Bahia

Ver Artigo
A Baixa Grande - Por Adelpho Monjardim

As baixas Grande, Pequena e Cavalo, formam um triângulo irregular, com o vértice virado para terra e não muito afastado da Ponta de Santa Luzia

Ver Artigo
As botas do espanhol – Por Adelpho Monjardim

Raciocinando chega-se à conclusão que a escolha do espanhol tivera justo motivo. Pois da propriedade do mesmo não se avista a torre da igreja?

Ver Artigo
A Ronda Noturna – Por Adelpho Monjardim

Quando vivia era hábito seu percorrer, à noite, os dormitórios para providenciar algo se preciso. Assim procedeu até aos últimos dias

Ver Artigo
As Ilhas Flutuantes - Por Adelpho Monjardim

No município de Viana, a poucos quilômetros da capital, situa-se a lagoa de Jabaeté

Ver Artigo
A Pata - Por Adelpho Monjardim

Entretanto o Destino costuma ser caprichoso. Por uma noite de lua cheia, um forasteiro, vindo não se sabe de onde, passava pelas imediações do Forte

Ver Artigo
O Lobisomem - Por Adelpho Monjardim

Então como pode ser lobisomem o filho do Coronel Pitombo? Não é filho único?

Ver Artigo
O Tesouro da Pedra dos Olhos – Por Adelpho Monjardim

As cavidades motivaram o nome popular de Pedra dos Olhos, embora o geográfico seja Frei Leopardi

Ver Artigo
A Pedra do Diabo - Por Adelpho Monjardim

Nesse bucólico recanto, caprichosa a fantasia criou sombria história capaz de apavorar aos mais valentes. A ela prende-se o nome da região

Ver Artigo
A bola de fogo e o couro que se arrastava - Por Adelpho Monjardim

Uma enorme bola de fogo, partindo Pedra da Vigia, ia sumir-se na crista do Penedo

Ver Artigo
O Fantasma do Solar dos Monjardim - Por Adelpho Monjardim

Só quem conhece a velha mansão pode avaliar o quanto se presta para cenário dessa natureza 

Ver Artigo
Lendas - Por Adelpho Monjardim (Introdução do livro)

Sobre as lendas e crendices do Espírito Santo, pouco se tem escrito, embora, vastíssimo, o campo se encontre aberto à curiosidade dos pesquisadores do fenômeno

Ver Artigo
Um grito na noite – Por Adelpho Monjardim

Corria como certo que, todos os dias, a alma de um frade sentava-se numa grande laje assinalada por uma cruz, talhada não se sabe por quem

Ver Artigo