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Os ianques do Rio Doce

Capa do Livro: Nossa Vida no Brasil (IMIGRAÇÃO NORTE-AMERICANA NO ESPÍRITO SANTO 1867-1870) - Autor: Julia Louisa Keyes - Tradutor: Célio Antônio Alcântara Silva

Os ianques do Rio Doce

O conhecimento da história é indispensável à compreensão das nossas raízes culturais, ao entendimento do presente e à construção do futuro. Sob essa perspectiva, cada livro que descreve a organização social e o cotidiano das pessoas que ocuparam, no passado, determinada área do nosso território, é essencial para conhecermos as origens, tradições e hábitos que contribuíram para a nossa formação. Enriquecendo nosso conhecimento a respeito do passado, os melhores livros também nos permitem compreender melhor os desafios do presente e o potencial de que dispomos para a construção de um futuro melhor. Afinal, embora tratem de outro tempo, eles falam de seres humanos como nós e de coletividades empenhadas em construir um mundo do qual somos todos herdeiros. E o manuscrito original deste livro, datado de 1874 e organizado por Julia Louisa Keyes, constitui um documento bastante revelador de fatos ainda pouco conhecidos da história do Espírito Santo.

Creio que todos os capixabas sabem que, ao longo do século XIX, nosso Estado foi o destino de um forte movimento migratório de italianos, alemães, portugueses e espanhóis, que vieram se estabelecer em território capixaba e deixaram marcas em nossos costumes. Entretanto, só a minoria de estudiosos tem informações sobre os imigrantes norte americanos, que vieram desembarcaram no Espírito Santo em busca de terras onde pudessem retomar suas atividades agrícolas, ainda sob o impacto da abolição da escravatura, iniciativa do presidente Abraham Lincoln. Ao final da Guerra da Secessão, que durou entre 1861 a 1865, essas famílias de agricultores trocaram suas enormes fazendas no sul dos Estados Unidos da América pelas terras às margens do Rio Doce, porque no Brasil Imperial ainda predominava o regime da escravidão.

Calcula-se que cerca de quatro mil imigrantes sulistas vieram para o Brasil, e um dos personagens centrais dessa saga foi o americano Charles Grandison Gunter, fazendeiro e financista que assinou um contrato com o governo imperial de Dom Pedro II para a obtenção de terras públicas na então Província do Espírito Santo. O número de migrantes foi mínimo, se comparado ao de europeus, mas há outro aspecto importante para diferenciá-los: enquanto os naturais da Europa escolheram o Brasil com a esperança de encontrar aqui terra, trabalho e prosperidade, os norte-americanos sentiam-se em uma espécie de exílio. Os primeiros barracões que abrigaram os imigrantes ianques foram construídos em Linhares e Regência, enquanto Charles Grandison Gunter se tornava Inspetor Geral de terras da região e intermediário nas negociações entre o Império e os seus compatriotas recém-chegados.

O livro relata desde a derrota e autoexílio dos confederados sulistas até o processo de ocupação do Norte do Espírito Santo, nas últimas décadas do século XIX, e o leitor encontra nele a recuperação de mais uma faceta da formação multicultural do Espírito Santo, assim como as dificuldades naturais de adaptação dos migrantes a uma realidade radicalmente diferente daquela que deixaram em seu país de origem. Além do estranhamento dos norte-americanos com a língua e os costumes da terra, passando pelo contato com animais e insetos que desconheciam, o livro relata as formas de cozinhar e lavar a roupa, o modo de trabalho em terras capixabas e as grandes cheias do Rio Doce, recuperando para o leitor a visão do cotidiano desses homens, mulheres e crianças que deixaram sua pátria para fazer parte da nossa história.

E só por conter esse relato minucioso de uma etapa tão pouco estudada da nossa formação, como Estado e como sociedade, a obra já justifica esta edição e a leitura por parte de todos os capixabas.

O texto introdutório do livro é de autoria de Renato Casagrande – Governador do Espírito Santo

Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003

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