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Os primeiros Jesuítas do ES - Por Mário Freire

Contra Capa do Livro: A Capitania do ES - Autor: Mario Aristides Freire com dedicatória e autógrafo para o seu amigo Milton Caldeira

A preocupação de evitar as baixadas paludosas nesta ilha, citada também como leziria na escritura da respectiva doação a Duarte de Lemos; e, ao mesmo tempo, o cuidado de melhor defesa contra constantes assaltos de indígenas ou de invasores teriam, provavelmente, determinado a fundação de Vitória no alto da colina, onde os jesuítas, depois, preferiam localizar a Residência. No alto de colinas, começou igualmente Olinda, em busca de defesa contra os dois temidos inimigos: - o índio, do mato; e o pirata, do mar. A fundação do Rio de Janeiro consolidou-se no alto do Desterro, o primitivo morro do Castelo. Além da vontade do homem, há na história das cidades, forças espontâneas, por vezes preponderantes: e, entre essas, tão evidente tem sido a predominância da altitude, que houve quem lhe quisesse atribuir o caráter de lei, em História. Não fugiu Vitória a outra circunstancia predominante no Brasil, segundo salienta Roy Nash: é uma das muitas capitanias à margem do que esse autor chama – estrada líquida.

Nos primeiros anos, tudo parece ter corrido bem, nos domínios de Vasco Fernandes Coutinho. Quando, porém, Tomé de Souza veio, em 1549, instalar o governo geral, trouxe uma recomendação para cuidar, quanto antes, de pacificar e reformar esta Capitania que se achava “alevantada”: assim a vira Pero de Gois, que, levando, nesse ano, o Ouvidor para a Bahia, conseguiu com a intervenção dessa autoridade consertar tudo. Pode Tomé de Souza então verificar que, se o Espírito Santo era, como já se dizia, a melhor donataria, não deixava, infelizmente, de ser também a mais arruinada.

Desde que sentira agravarem-se as dificuldades, o donatário e fundador deliberou voltar, pela segunda vez, a Portugal, na esperança de trazer novos recursos, embora da primeira viagem houvesse trazido grandes dívidas. Com esse propósito, seguiu em 1550 para a Bahia, deixando o governo confiado ao ouvidor de sua nomeação. Queixoso do abandono em que o Rei deixava os donatários no Brasil, por tal forma falou a Duarte de Lemos, a quem encontrou governando Porto Seguro, que esse antigo companheiro não trepidou em denunciá-lo à Corte, como traidor... Sem abandonar o plano dessa viagem, peregrinou pela costa até Pernambuco. Em Salvador obteve que, à custa de suas minguadas rendas, fossem remetidas para o Espírito Santo algumas partidas de armas e munições.

Em Pernambuco, foi ultrajado pelo primeiro Bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha; além de, na igreja, recusar-lhe honras a que tinha direito, valeu-se da decadência em que o viu, para apontá-lo desumanamente, ao povo, como um exemplo de castigo de Deus... Tudo porque, no convívio com os indígenas, o velho e atribulado donatário adquirira o vício do fumo, naqueles dias censurado por todos. Socorreu-se na volta de Pernambuco, Duarte da Costa, que divulgou a maldade do bispo.

Além do custo das armas e munições, fornecidas, para a própria defesa da colônia, outros débitos mandava a Fazenda lançar à conta do donatário, ao mesmo tempo que não estendia ao Espírito Santo algumas isenções de tributos, concedidas a outras capitanias. Não parece ter tido sensível influencia uma carta régia de 1551, pela qual se mandava isentar do pagamento dos dízimos, durante um qüinqüênio, quem viesse, à própria custa, para Bahia ou Espírito Santo. No ano seguinte, mandados cobrar 8$500, contribuição desta Capitania para o Bispado, nada foi possível arrecadar...

Começavam as incursões pelo interior, o “desertão”, donde Alberto Rangel pretendeu fazer curiosamente derivar “sertão”... Novas dificuldades. Ainda no governo de Tomé de Souza, o sertanista Martim Carvalho, vindo do norte, desceu pelo Cricaré, depois de ter contemplado uma serra distante. Espinosa, em 1553, explorava terras, hoje de Minas; e municiado pelo mesmo Governador, Manoel Ramalho parte, e morre trucidado, ainda no Espírito Santo, em luta com os indígenas...

Na ausência do donatário, começou a se fazer sentir a influência benéfica dos jesuítas. Depois de Leonardo Nunes, o famoso Abarebebê dos índios de S. Vicente, impressionados porque o viam andar tão depressa que parecia voar, acolhido no Espírito Santo, em 1549, veio Afonso Brás, acompanhado de Simão Gonçalves, iniciou a primitiva Casa, origem remota do futuro Colégio; dentro de um ano, estava modestamente coberta de palha, mas sem paredes. Ao mesmo tempo esse dedicado jesuíta apregoava a terra “a melhor e mais fértil de todo o Brasil. Tomé de Souza não a julgou diferentemente, quando em 1552, percorreu o litoral. Devia ser realmente grande a fertilidade de uma capitania, cujo donatário costumava, a principio, chamá-la de “meu vilão farto”...

À Sombra da veneranda Casa dos Jesuítas, cresceu a vila que o Padre Manoel da Nóbrega visitou, quando esses padres não tinha mais do que ficou acima descrito.

Para combater as murmurações, que traziam os moradores em discórdias, fundaram os jesuítas, em 1554, a confraria da Caridade: quem por aquela falta era denunciado pagava 10 réis; pagava a metade o culpado, quando ele mesmo se acusava, para maior edificação de todos... A fundação dessa confraria ou irmandade justifica ser a Misericórdia do Espírito Santo, da qual Anchieta foi capelão, uma das mais antigas do Brasil, mais completa pacificação, aconselharam e promoveram os jesuítas a vinda em Abril de 1555, dos temiminós, que, em luta com os outros índios do Rio, foram, no Espírito Santo, enquanto aqui aldeados, uma força de franco apoio para os colonos, e de aproximação dos temidos tupiniquins.

 

Fonte: A Capitania do Espírito Santo – Crônicas da vila capixaba no tempo dos Capitães-Mores (1535-1822), ano 1945
Autor: Mario Aristides Freire
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2015

Vasco Fernandes Coutinho

A grande obcecação de Vasco

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As crônicas dos primeiros tempos estão repletas de referências a conversas com os índios sobre a existência de gemas e metais nobres no país 

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