Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Otinho - Por Elmo Elton

Otinho e Rosinha - Foto de Antonio Carlos Gemada

É, desde muito, o tipo mais popular de Vitória. Perambula pelas ruas da cidade declamando versos de sua autoria e de poetas conterrâneos, assim como poemas de renomados autores nacionais, de Castro Alves a Olegário Mariano. Não gosta de poesia moderna. É conversador, de uma prosa rápida, algo brejeira, sempre relembrando seus amores passados e presentes. Faz questão (absolutíssima) de proclamar-se "a figura mais conhecida da terra", e se aborrece quando alguém, para provocá-lo, lhe cita nomes de outros tipos populares de Vitória, colocando-os, preferencialmente, à sua dianteira, pelo que representaram ou ainda representam de graça ou exotismo.

Orgulha-se de haver participado, com êxito, de vários desfiles de escolas de samba. Poeta famoso, marcha premiada de Jocarly Vasco, deu-lhe destaque no carnaval de 1979, sendo que, anos antes, em 1973, foi homenageado pela Escola de Samba Mocidade da Praia, com o samba enredo "O palácio encantado de Otinho e Rosinha", ocasião em que a imprensa lhe dedicou amplas e ilustradas reportagens.

 "Da noite para o dia, um homem que no contexto de comunidade não passa para alguns de uma figura simploriamente engraçada e que no fundamental é destituído de qualquer participação no complexo produtivo social torna-se notícia de destaque e se vê envolvido como alvo de uma homenagem que, em termos de popularidade, embevece qualquer político. E ele, na sua maneira passiva de encarar o mundo, como simples mecanismo dependente de outras engrenagens, vaidosamente aceita o fato como se toda a glória universal de uma hora para outra abrisse suas asas, envolvendo-o ternamente numa campânula de indescritível felicidade" (A Gazeta, de 7/1/1973).

É claro que Otinho se sentiu "muito honrado" com tais reportagens, guardou-as (tem arquivo), exibindo-as, ainda agora, quando deseja mais patentear a este ou aquele a popularidade de seu nome, conquistada nos bares e esquinas de cada rua de Vitória, já que visto em toda a parte, aqui e ali, durante o dia ou mesmo a noite, sempre a dizer versos, a contar, com pormenores, fatos sobre a vida e a obra de escritores ilustres, ou então, o que é mais comum, a inventar fantásticas estórias a seu respeito ou a propósito de conhecidas figuras conterrâneas. Fala em tom alto, anda ligeiro, de cabeça empinada (tem testa ampla e lustrosa). É mulato, baixinho, galanteador, de cabelos crespos, grisalhando. Espalhafatoso em tudo. Traz, vez por outra ou quase sempre, um caderno à mão, onde garatuja seus textos, zangando-se quando alguém lhe pede a leitura daquilo que vai escrevendo, à pressa, com letra de todo indecifrável.

Quando mais moço, dançava, sob aplausos, já que sempre arrodeado de curiosos, a "dança do laço", maluquice inventada por ele, difícil de ser descrita, sendo que, a esse tempo, gostava de ser chamado Otinho danadinho. Ao final da dança, declamava, com voz rouca, chorosa, versos de amor a A. M. B., moça da melhor sociedade de Vitória, por quem se apaixonou. De uns quinze anos pra cá, passou a viver com Rosinha (Rosa Garcia de Melo). Constantemente ambos são vistos, de mãos dadas, passeando pela cidade. Uma graça de casal!

Um dos prefeitos de Vitória arranjou-lhe lugar de vigia ou de gari do Parque Moscoso, onde costuma pernoitar, ainda que ali não vigie ou limpe coisa alguma, embora divirta os visitantes do logradouro com suas estórias e versos. Otinho (Othon Braga Barbosa), nascido nesta cidade, a 26 de agosto de 1921, já agora com sessenta e três anos, continua lépido, andarilho e palrador. Porque visto, coisa para mais de um ano, sempre com um saco, de linhagem, às costas, aparentemente pesado, perguntei-lhe, indiscreto, sobre a natureza da carga. Resposta: - Minha biblioteca ambulante.

Otinho, lá ia eu esquecendo de dizer, é flamenguista doente.

 

Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Foto: Antônio Carlos Gemada. Publicada no facebook por Dilio Santos
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019

Literatura e Crônicas

A visão do negro na literatura do Espírito Santo - Por Francisco Aurélio Ribeiro

A visão do negro na literatura do Espírito Santo - Por Francisco Aurélio Ribeiro

O negro vem a ser, por isso, apesar de todas as vicissitudes que enfrenta, o componente mais criativo da cultura brasileira e aquele que, junto com os índios, mais singulariza o nosso povo. *

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado

Ver Artigo
Ano Novo - Por Eugênio Sette

Papai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver

Ver Artigo
Cronistas - Os 10 mais antigos de ES

4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951

Ver Artigo
Cariocas X Capixabas - Por Sérgio Figueira Sarkis

Estava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas

Ver Artigo
Vitória Cidade Presépio – Por Ester Abreu

Logo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista

Ver Artigo