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Pontes e desafios – Por Ana Maria Quirino

Ponte do Camelo em Jardim América, 1956

Quando, do interior de Minas, os meus vieram buscar vida mais ampla no Espírito Santo, encontraram seu primeiro cantinho nos arredores de Vitória e logo um desafio se apresentou a mim e as minhas pequenas pernas de criança recém e tardiamente iniciada na arte de andar: uma precária pinguela se interpunha entre o quintal de nossa casa e a rua.

Em princípio, meus passinhos cambaleantes de criança visitada pela poliomielite não davam conta de cruzar aquele rústico pedaço de madeira sofrivelmente equilibrado entre as duas margens de uma pequena vala povoada de barrigudinhos e outros peixinhos coloridos que meus irmãos mais velhos chamavam de "libitis", nome que jamais descobri se, de fato, existe.

Na idade de ir para a escola, outro jeito não houve senão encarar o desafio diário de atravessar aquele meu primeiro ensaio de ponte. Registrem-se alguns poucos e humilhantes episódios de ter que voltar para casa com meu uniforme de blusa branca e saia pregueada vermelha totalmente enlameado, cadernos salvos pela providencial sacola de arroz.

Os anos foram passando e meu território se ampliou em direção à ilha de Vitória. Para passear no Parque Moscoso, era preciso atravessar a "Ponte do Camelo", sobre um rio Marinho ainda limpo, e a gigantesca "Cinco Pontes", toda gradeada, para o ônibus não cair no mar. Na ida e na volta, era obrigatório que eu e meus irmãos contássemos as cinco pontes que, afinal, formavam uma só.

Horizontes se abrindo, mais uma ponte no meu itinerário até a universidade, agora com o significativo nome de "Ponte da Passagem". Passei, passamos, passaram-se os anos. Vitória difícil de alcançar. Percurso longo, travessia complexa. Necessárias outras pontes: uma segunda, uma terceira que, para mim, poderiam ser chamadas de quinta, de sexta, de sétima...

Hoje... ah, hoje sou da ilha, trabalho na ilha, vivo na ilha. Já conquistei Vitória. E se hoje ultrapasso seus limites através de suas iluminadas pontes, e depois retorno para meu lar na ilha, meus olhos ainda brilham, já não de surpresa e susto, mas de puro deleite.

 

Fonte: Escritos de Vitória, 27 - Pontes, 2010
Autora: Ana Maria Quirino. Mineira, de Mantena, radicada no Espírito Santo desde os dois anos de idade. É graduada em Letras-Português e Mestre em Letras, pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente trabalha no Instituto Federal do Espírito Santo e mora na ilha de Vitória desde 2006.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2020

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