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Projeto desenvolvido em Comboios pode salvar tartaruga gigante de extinção

Dermochelys Coriacea

O "Projeto da Tartaruga Marinha", que vem sendo desenvolvido há dois anos na reserva de Comboios, em Regência, vem obtendo, até o momento, o resultado esperado. Isto, pelo menos, é o que garantem os biólogos que trabalham no projeto. O diretor técnico do Centro de Pesquisa do Mar (Cepemar), Nelson Saldanha, garante que os resultados conseguidos foram excelentes, acreditando que, dificilmente, a tartaruga gigante irá desaparecer, vítima da depredação do homem. Dentro de pouco tempo deverá estar pronta a base de proteção e estudos das tartarugas marinhas, que servirá para observar o crescimento e comportamento dos animais nos primeiros meses de vida.

A história da depredação da tartaruga gigante pelo homem não é um fato recente que, como outros, poderia ser debitado à crise econômica que abala o Pais desde 1974. Desde 1863, quando foi fundada a vila de Regência, sua carne era servida em quase todas as mesas dos habitantes locais. Somente na década de 50, por insistência do cientista Augusto Ruschi, o Governo Estado criou uma reserva biológica, com 10 mil hectares, para assegurar a sobrevivência dos animais. Os estudos sistemáticos das tartarugas marinhas que frequentavam o litoral brasileiro foram iniciados há seis anos por iniciativa da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO). O objetivo principal seria o de incluir o Brasil entre os países que protegem as praias de nidificações das tartarugas do oceano Atlântico.

Coube ao Instituto Brasileiro de Defesa Florestal; (IBDF) a responsabilidade inicial de levantamento de dados sobre esses animais na costa brasileira. A partir da maior incidência de posturas em certas praias do país, foram delimitadas seis áreas para a proteção e estudos das tartarugas. Entre essas áreas encontra se Comboios, no litoral capixaba.

No estado,  além do IBDF, participam do "Projeto da Tartaruga Marinha" o Centro de Pesquisa do Mar (Cepemar), Departamento de Ações Ambientais, Aracruz Celulose e o Instituto de Terras e Cartografia (ITC). Esse projeto, na opinião de Nelson Saldanha, do Cepemar, não tem um tempo de duração estipulado, podendo durar vários anos. “Por estar localizado na reserva de Comboios, ele nos dá a garantia que será uma coisa sempre crescente. Isto porque teremos, com passar do tempo, um número maior de tartarugas nas mãos e nossa experiência será, sem duvida, cada vez mais ampliada".

A execução do projeto custará, nos próximos 12 meses, Cr$ 60 milhões, dos quais a Aracruz Celulose entrara com a metade desse capital. A empresa já vinha ajudando através do apoio logístico aos biólogos e outros pesquisadores envolvidos. Já a Petrobras Colaborou com seis mil litros de gasolina, além do apoio de várias instituições cientificas.

Em linhas gerais, o trabalho é executado da seguinte maneira: a equipe realiza a tarefa de localização, proteção e transferência dos ovos das tartarugas para um viveiro central, além da medição e marcação das espécies que procuram as praias de Comboios para a desova. Após a eclosão as recém-nascidas são devolvidas ao mar. Essas medidas podem garantir uma taxa de sobrevivência de mais de 90 por cento dos filhotes, contra três por cento que nasciam em condições fora da proteção planejada. Os biólogos alegam que o maior obstáculo que vem sendo observado na procriação das tartarugas é a ação do homem. Ainda existe o hábito, muito difundido, de coletar ovos de tartarugas, para venda ou alimentação; “fato que necessita ser controlado”. O programa de proteção às tartarugas teve inicio no ano passado, quando foram coletados sete mil ovos e devolvidos ao mar quase seis mil filhotes. Do total, 650 eram de tartarugas gigantes, que estão ameaçadas de extinção.

Nós temos no local técnicos que percorrem a praia durante a noite a procura dos rastros das tartarugas. Localizado o animal, ele é marcado, medido, e são feitas ainda várias observações de campo. Temos que esperar, a partir daí, a eclosão dos ovos, para tratarmos a contagem de quantos filhotes nasceram dos ovos recolhidos.

O projeto para este ano, que começa em novembro, prevê a observação de algumas dessas tartarugas em cativeiros. Os animais recém-nascidos serão colocados em viveiros para que os biólogos e técnicos possam acompanhar seu desenvolvimento e consequentemente seus hábitos, como explica Nelson Saldanha "Procuraremos observar tudo que for passivo, do comportamento à alimentação. Enfim, estudá-las mais de perto, já que até o momento, é uma incógnita como agem essas tartaruguinhas dentro de seu habitar natural".

Ainda este mês devera começar a ser construida uma casa que servira de sede para todo o projeto. Ela será equipada com viveiros, acomodações para o pessoal que trabalha no projeto, laboratório e toda a infraestrutura necessária para receber pesquisadores de outros Estados que venham a se interessar pelo projeto.

TARTARUGA GIGANTE

Segundo Nelson Saldanha, muito pouco se sabe sobre a tartaruga gigante Dermochelys Coriacea. "Esses estudos básicos que estamos desenvolvendo  são muito preciosos em termos de informação. Eu particularmente, acredito que esse trabalho que está senda feito sobre a tartaruga gigante só existe aqui no estado. Isto porque somente no Espírito Santo é que são encontrados esses animais. E claro que estou falando em Brasil. Creio que daqui a 15 anos ele terá uma repercussão muito grande".

A opinião otimista de Nelson Saldanha está baseada no fato de outras partes do mundo como o extremo sul dos Estados Unidos e na Malázia, existir populações significativas de tartarugas gigantes e trabalhos de recuperação também estejam sendo desenvolvidas nessas partes. “Haverá, sem dúvida um franco renascimento das tartarugas. Hoje, por exemplo nós já conseguimos, através divulgação do projeto, mudança na legislação e passaremos a orientar o pessoal da fiscalização da Sudepe quanto à sua atuação na proibição da captura de tartarugas".

Apesar de toda a explicação otimista, Nelson Saldanha ainda acredita que a tartaruga gigante seja um animal em extinção, muito embora esteja levando fé no trabalho realizado até aqui e ainda por se complementar. "O projeto que tinha que ser realizado é exatamente esse e estou apostando que vamos conseguir muito bons resultados".

Para o diretor técnico do Cepemar, não existe outra espécie de tartaruga gigante que não seja a Dermochelys Cariacea. Inclusive, ele afirma que numa reunião internacional realizada na Costa Rica, esse assunto foi muito discutido e nada foi abordado sobre uma nova espécie de tartaruga gigante. “Nosso pessoal, pelo menos, desconhece o fato. Creio que o que pode haver é uma confusão de alguns pescadores ou mesmo outros boatos, mas nada de concreto".

Depois de filmar e fotografar a tartaruga gigante na região de Comboio: a equipe responsável calcula que devem existir por ali aproximadamente mais umas 70 tartarugas dessa espécie. O animal que foi filmado, como revela Nelson Saldanha, apresentava um pequeno problema na pata direita. "Pelo rastro que foi deixado na areia ficou comprovado que ela subiu quatro vezes a praia, ou seja, que a tartaruga voltou para desovar esse número de vezes".

Em média uma tartaruga gigante pesa uns 800 quilos, medindo 1.70 metros. Com a coleta dos ovos desse animal e sua eclosão nos viveiros, sendo posteriormente os recém-nascidos devolvidos ao mar, tem-se ai o trabalho de preservação, fato que tem deixado os biólogos otimistas quanto ao sucesso do projeto, que está apenas na sua etapa inicial. Após esse período de proteção das tartarugas que é quando ocorrem as desovas (de novembro a março) os pesquisadores estarão voltados para o aparecimento de uma outra espécie, como explica Nelson Saldanha.

- Será a Quelônia Midas ou tartaruga verde, que tem seu período de postura feito fora desta época. Então, nós ficaremos aguardando informações do pessoal que vai estar na área construindo a base de proteção para que possamos agir. Essa tartaruga é muito comum no Atol das Rocas e em Fernando de Noronha. Aqui no estado, ano passado, houve desova e foi exatamente nesse período, de março a abril. Nós só esperamos que este ano isto volte a acontecer, o que será um dado novo para nossas pesquisas.

DEPREDAÇÕES

Ainda hoje os biólogos que trabalham na região puderam comprovar que as depredações quanto a caça das tartarugas e a seus ovos é uma realidade. Nelson Saldanha afirma que se eles deixarem de ir uma noite apenas praia coletar os ovos, no dia seguinte, só encontram buracos cavados. Os habitantes do local levam tudo.

— Creio que a população faz isso, até por falta de conhecimento do trabalho que estamos realizando no local. Mas, em outubro, nós vamos começar a desenvolver um projeto de conscientização junto aos moradores da região. Uma equipe irá percorrer todas as localidades próximas onde ocorrem as desovas, para explicar a população o trabalho que estamos fazendo e sua importância. A divulgação do projeto, porém, tem que ser feita o mais rapidamente possível já que a área de Comboios poderá ser ampliada para outra localidade. O que acontece é que os técnicos descobriram recentemente uma outra área de desova de tartarugas: Povoação ao norte do Rio Doce. "Durante as vezes que nossa equipe esteve nesse local foram vistos vários ninhos. E depois de contatos mantidos com Renato Leal, diretor do Departamento de Parques Nacionais, creio que, ainda esse ano, estaremos desenvolvendo estudos na região".

Além dos problemas que a equipe de técnicos e biólogos está enfrentando com a população por causa da predação das tartarugas, existe um outro que tem dado bastante dor de cabeça: o Jeep. "O carro atola, quebra, e nós não temos oficina por perto. Esse ano que passou o Jeep foi o nosso maior inimigo. Demos sorte porque nos foi cedido um outro carro pela Sucam. Assim, enquanto um estava consertando, nós usávamos o reserva.

O consumo com combustível também foi altíssimo, porque o carro trabalha com velocidade bastante reduzida e com tração nas quatro rodas. Para este ano o problema talvez seja resolvido, já que é pensamento do Cepemar utilizar motocicletas para percorrer as praias atrás de ninhos de tartarugas.

Aproveitamento dos ovos levados para cativeiros é bem maior

Segundo o Cepemar, o "Projeto da Tartaruga Marinha" começou a funcionar tendo-se  por base que o animal apresenta uma baixíssima taxa de sobrevivência natural, pois, de sua postura, apenas uma pequena parcela dos recém-nascidos atinge a idade adulta. Por outro lado, o Centro afirma que já ficou demonstrado que, pela incubação em viveiros artificiais e em laboratórios, o índice de aproveitamento por desova chega a 95 por cento.

Os peritos argumentam também que a tartaruga do mar é alvo de matança desenfreada ao longo da costa brasileira, que é parte de sua rota migratória. Preferencialmente, abatem-se as fêmeas, quando ocorre a desova, nos abrigos de posturas. Nessa ocasião, devido a sua imobilidade é que os animais são eliminados.

Os ovos, quando não recolhidos por pescadores e por toda classe de turistas, sofrem o ataque de predadores como o caranguejo e podem ser contaminados, ainda, por fungos e bactérias. Após a eclosão, os recém-nascidos (nidífugos), na corrida para a água, enquanto expostos na areia, são atacados novamente por caranguejos e pássaros. No mar, por sua vez, os peixes estão à sua espera.

Por estas razões é que a maioria dos naturalistas defendem e justificam a necessidade de medidas conservacionistas, que, na prática, se traduzem pela incubação dos ovos em viveiros artificiais ou em laboratórios, seguida de lançamento ao mar, quando os filhotes já estiverem com idade e tamanho que lhes possibilitem a consequente sobrevivência.

Os principais objetivos do "Projeto Tartaruga Marinha" são os seguintes: fazer o levantamento de dados relativos às populações de tartarugas que buscam a Reserva de Comboios; confirmar as áreas de posturas, demarcando-as; marcar com pequenas placas identificadoras as tartarugas localizadas e registrar o número de ovos de cada ninho.

Além disso, oferecer condições ideais para a incubação e para o desenvolvimento embrionário dos ovos coletados e transportados para viveiros e laboratório e selecionar os exemplares que se revelarem mais robustos ou de mais acelerado crescimento, para constituírem uma reprodução em cativeiro para observações de hábitos de alimentação, crescimento e organização social.

Para os próximos anos é meta a preocupação das entidades executoras do projeto criar as tartarugas em “Fazenda Piloto" até a idade de 18 meses, quando estarão em condições de robustecimento satisfatórios para serem lançadas ao mar, de onde retornarão para continuar o ciclo da renovação de estoques do sistema ou da experiência piloto.

 

Fonte: A Gazeta, sem data.
Texto: Álvaro Muni
Arquivo: Instituto Jones dos Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2018

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