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Quando a vi presépio – Por Elizabeth Martins

Geleria Ed. Palácio do Café e Elmo

No dicionário a palavra presépio é definida, em preto sobre branco, como: 1. Lugar onde se recolhe gado; curral, estábulo. 2. Representação, na tradição do Natal, do estábulo de Belém e das figuras que participaram, segundo o Evangelho, do nascimento de Cristo.

Prefiro entendê-la como: lugar de aparência acanhada, mas generosamente amplo em seu interior iluminado e acolhedor. Assim me ensinaram a reconhecer um presépio, símbolo de vida, luz, acolhida. É assim também que, em muitos momentos, tenho visto a minha cidade.

Vitória, eu a vi presépio quando na infância, morando na Cidade Alta, percorria as ladeiras e escadarias que invariavelmente levavam ao Convento de São Francisco, à Catedral, à Capela do Carmo, à Igreja de São Gonçalo e à capelinha de Santa Luzia. Tantos santos, tão pertinho uns dos outros, tanta religiosidade no ar e aquele jeito de coisa antiga que me fascinava. As portas abertas das igrejas, o pedido aos pés do santo predileto, o melodioso ritual das missas rezadas em latim, o Natal com presépio.

Na adolescência, Vitória, eu a vi presépio no brilho trêmulo das janelas de luz espalhadas pelos morros me permitindo adivinhar a cidade quando, voltando das férias em Manguinhos, a noite escura nos apanhava descendo a ladeira de Carapina.

Também a vi presépio, Vitória, nas faces conhecidas no transitar cotidiano por suas ruas. Rostos abertos, confiantes e confiáveis, predispostos à conversa e ao sorriso. O menino com um tabuleiro de balas, no ponto de ônibus atrás dos Correios, quando eu saía das aulas do meu primeiro ano de Fafi. O senhor de cabelos brancos da banca de revistas aos pés da escadaria do Palácio. A moça da bilheteria do Cine São Luiz. Rostos vislumbrados na escada direita do IBEUV, entre as estantes da Livraria Âncora, na lanchonete nos fundos do Empórios Capixaba, onde, certa vez, esqueci a carteira que me foi devolvida intacta dias depois. Rostos, em sua maioria sem nome, que se reconheciam e se cumprimentavam mesmo sem saberem um do outro, na vida, o caminho.

Vitória, novamente a vi presépio quando recebia do mar navios e navegantes, atracando no seu porto com histórias e presentes, desejando a cidade-mulher que os acolhia.

Ciúmes da minha cidade sempre tive, porém mais tarde, talvez por querer imitá-la, fui aprendendo a aceitar pessoas que vinham de outros lugares, aqui se instalavam e por Vitória também se apaixonavam, cidade cada vez mais presépio posto que a todos recebia e acomodava em seu acanhado espaço de ilha.

Tanto acolheu, tanto cativou, tanto cresceu que muito mudou.

Hoje se pudesse, a protegeria na concha das minhas mãos. Na concha das minhas mãos carregaria a minha infância, adolescência, maturidade e faria, do tempo que me resta, o reviver do tempo que já foi nesta cidade presépio.

 

Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES, 1997
Prefeito Municipal: Paulo Hartung
Vice-Prefeita Municipal: Luzia Alves Toledo
Secretária Municipal de Cultura: Cláudia Cabral
Sub-secretária Municipal de Cultura: Verônica Gomes
Diretor do Departamento de Cultura: Joca Simonetti
Adm da Biblioteca de Adelpho Poli Monjardim: Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias: Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial: Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão: Gilson Soares
Capa: Ângela Cristina Xavier
Editoração: FCAA
Impressão: Gráfica ITA
Fonte: Escritos de Vitória, nº 18 – Cidade Presépio, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV, 1997
Texto: Elizabeth Martins
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2018

 

Parabéns, Vitória (desde 8 de setembro de 1551)

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