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Rua 13 de Maio (ex-rua do Piolho) – Por Elmo Elton

Castelinho de Adelpho Poli Monjardim na Rua 13 de maio, esquina com Rua Gama Rosa e Prof. Baltazar em 1924 - Acervo: Sandro Chiabai Paterlini

Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário do Espírito Santo, de passagem pela Bahia de Todos os Santos, convidara Duarte de Lemos para seu auxiliar no desbravamento do solo capixaba, sendo que, dada a colaboração recebida desse auxiliar na luta contra os indígenas e aventureiros, a ilha de Santo Antônio, este o primeiro nome de Vitória, passou a ser propriedade do mesmo, mediante alvará de 15 de julho de 1537. A ilha, de topografia acidentada, pontilhada de altos e baixos, apresentava, naturalmente, aspecto muito diverso do atual, tanto que, "pouco adiante do Penedo, o mar entrava e formava uma angra até as Pedreiras", onde foi construído o Forte de São Diogo. Este forte ficava no local em que hoje se encontra a Escadaria São Diogo, dali se abrindo estreito caminho que se estendia até os Pelames. Esse caminho, sinuoso, alargado com o decorrer do tempo, passou a ser a Rua do Piolho, que, já neste século, trocaria de nome, ficando então conhecida como rua Treze de Maio, data da abolição da escravatura no Brasil, isto, talvez, por residirem ali muitas famílias de cor. Sabe-se que, até princípios deste século, a população de Vitória se constituía mais de negros que de brancos.

Das antigas casas da rua do Piolho, uma delas ficou de pé por muito tempo, isto é, até os anos 40. Era baixinha, de taipa, caiada de branco, as janelas verdes, de guilhotina, "casa de porta e janela", como se dizia então, o telhado podendo ser tocado pelos transeuntes, e, porque a área tivesse recebido aterro, para entrar-se pela porta de frente dessa moradia, foram colocados dois degraus abaixo do nível da rua. Tal casa, pela sua singularidade, mais que qualquer outra de Vitória, me prendia a atenção, embora, na mesma artéria, já figurassem belas residências, como, por exemplo, as do escritor e jurista Jair Tovar e de Camilo Gianordolli, este responsável pela construção de muitos imóveis da cidade.

Durante toda década de 20 via-se, ali, a figura exótica de um senhor chamado Leovigildo, dono de modestíssima quitanda, fazendo esquina com a ladeira Professor Baltazar. Este cidadão despertava a atenção de todos. Trajava-se pelos figurinos do século passado — chapéu de coco, relógio, com corrente de ouro, metido no bolso do colete, colarinhos e punhos engomados. Era sobremodo avarento, tanto que caminhava, lentamente, como que flutuando, isto, segundo os vizinhos, para não gastar as solas dos sapatos. Na quitanda, que depois foi transferida para Rua Moniz Freire, não permitia, de modo algum, se "apolegasse" as bananas, laranjas, jacas e melancias. Com espanadores de penas de galinha, confeccionados por ele mesmo, retirava as poeiras e as teias de aranha dos produtos que vendia, sempre pelo maior preço.

Ao tempo em que se cozinhava em fogão de lenha, suas "achas" eram invariavelmente mais finas que as dos outros quitandeiros, pois as lascava ao meio e, para convencer os raros compradores, costumava dizer-lhes, em tom confidencial: Ainda dá um carvãozinho, visto que, na época, ainda não havia ferros elétricos para passar roupas. Tamanha avareza desse senhor que as pessoas tidas como somíticas eram, em Vitória, apelidadas com o seu nome.

Também aí residiu um outro tipo folclórico: — Manoel Rodrigues das Neves, conhecido por Perna-fina, dono do barco de pesca Deus é grande, que ancorava na praia da rua do Comércio, ou melhor, no Porto dos Padres. Era boêmio, tocador de viola, ensaiador de peças teatrais, servindo a sua casa de ponto de ensaios da Filarmônica Rosariense, constituída de peroás, assim chamados os devotos de São Benedito, com imagem venerada na igreja do Rosário.

O jornalista Edgar Feitosa registra, em artigo publicado em A Gazeta, edição de 4/6/72, que Perna-fina, nas noites em que não havia ensaio, costumava reunir ali um certo número de íntimos, sempre os mesmos, para falar das novidades, tomar pinga e fazer "desafios", estampando trovas do dono da casa e de seu compadre Manoel Castilhas, o popular acendedor de lampiões da cidade, "cuja roupa vivia sempre besuntada de óleo de mamona", — artigo cuja leitura recomendo aos que se interessam em conhecer aspectos do velho folclore de Vitória.

Atualmente, a Rua Treze de Maio, muito desfigurada, é mais comercial que residencial, nela foram construídos vários edifícios, portanto, nada agora recordando a primitiva Rua do Piolho, tão conhecida de nossos antepassados.

 

Fonte: Logradouros antigos de Vitória, 1999 – EDUFES, Secretaria Municipal de Cultura
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2017

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