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Rubim e a passagem terrestre para Minas Gerais

Porque este Rio (atual Rio Marinho) vem desembocar no ancoradouro da Vila da Vitória - Fonte e ano constam na foto

Era, mais ou menos, esta a situação da capitania quando Francisco Alberto Rubim assumiu o seu governo.(39)

Homem íntegro, competente e ativo, embora arbitrário,(40) sua administração coincidiu com a fase mais fecunda em realizações do período de permanência da Corte portuguesa no Brasil.

Emancipada que fora a capitania daquela espécie de tutela que, durante séculos, a subordinara ao governo da Bahia, podia agora o Espírito Santo pleitear diretamente junto ao trono as providências reclamadas pelo bem-estar do povo e progresso da terra.

Oliveira Lima(41) salientou o esforço feliz do governo de D. João, buscando, com empenho, abrir comunicações do mar para Minas Gerais, através de estrada rasgada na região outrora conhecida pelo nome de áreas proibidas.(42) Referia-se o douto historiador pernambucano ao caminho mandado abrir, durante o governo Rubim,(43) ligando a baía da Vitória à Vila Rica, na capitania de Minas Gerais.(44) Obra custosa – iniciada em 1814, só em 1820 deu passagem à primeira boiada trazida das pastagens mineiras(45) – exigia, para segurança dos viajantes contra os ataques dos botocudos, guarnições militares dispostas em quartéis que se intervalavam de três em três léguas.(46)

Apesar dos favores fiscais concedidos pela Coroa para o trânsito de mercadorias, a estrada nova do Rubim não conseguiu atrair a preferência do comércio. Em 1830, já era tão reduzido o movimento que o governo pôde retirar as guarnições que mantinha nos quartéis, abandonando os raríssimos tropeiros à própria sorte.

Caio Prado afirma que a condução do gado de Minas ao Espírito Santo era uma das principais razões do estabelecimento de comunicações entre as duas capitanias.(47) Assim sendo, “teve que cessar esse comércio à falta de consumo para todo o gado que chegava”, conforme o depoimento de Antônio Marins.(48)

 

NOTAS

(39) - “Capitão de mar e guerra da Armada Real e Governador da Capitania do Espírito Santo” – escrevia ele em documento de cinco de dezembro de 1818 (Gov. ES, I, 239). Nomeado a doze de junho de 1812, tomou posse a cinco de outubro do mesmo ano (RUBIM, Memórias, 275). Engano, ou erro tipográfico quanto à data da posse registrada pelo memorialista. Em ofício de oito de outubro de 1812, dirigido ao conde das Galveas, o próprio governador comunicava ao titular ter assumido o governo a seis daquele mês (Gov. ES, I).

(40) - SAINT-HILAIRE, Segunda Viagem, 23-4.

– No poemeto Derrota de uma viagem ao Rio de Janeiro em 1817, MARCELINO DUARTE refere-se a várias vítimas das perseguições do governador Rubim. Assim é que Venceslau Ferreira Lopes “foi obrigado a abandonar a mulher e os filhos e refugiar-se em Cabo Frio para evitar a sanha do tirano”; o alferes Luís Correia “por motivo de perseguições suicidou-se”; Mateus Bandeira que, “preso durante dezessete meses, teve na cadeia a notícia da morte da esposa e filhos”; e João Felipe Calmon, grande proprietário na capitania (apud AFONSO CLÁUDIO, Hist. da Literatura, 57 ss.).

– O próprio poemeto refere-se a uma viagem feita por Marcelino Duarte ao Rio de Janeiro a fim de se queixar ao soberano das arbitrariedades e despotismos do governador.

– AFONSO CLÁUDIO considera Marcelino Duarte “o primeiro e mais notável dos poetas espírito-santenses, no decurso da primeira metade do século XIX” (op. cit., 53). O padre-poeta foi um agitador incansável. HÉLIO VIANA cita lhe o nome e comenta suas atitudes em várias páginas da Contribuição à História da Imprensa Brasileira e AFONSO CLÁUDIO dedicou-lhe longo capítulo na História da Literatura Espírito-santense.

(41) - Dom João VI, I, 160.

(42) - Ver foot-note n.º 9, do capítulo XI.

(43) - “A estrada nova do Rubim, como lhe chamavam, partia do porto de Itacibá, na baía da Vitória, passando pela fazenda do Borba, em Viana, pertencente ao coronel de Milícias Inácio P. [Pereira] Duarte Carneiro, que fora o encarregado da abertura desse caminho” (MARINS, Minha Terra, 105).

(44) - O plano de ligação terrestre das duas capitanias, tal como o executou Rubim, não era novo. FRANCISCO MANUEL DA CUNHA, na carta dirigida ao ministro Antônio de Araújo de Azevedo, a vinte e três de junho de 1811, já dizia: “Se a nova estrada que de Minas Gerais se dirige pela Serra dos Arrepiados, e que, segundo dizem, vai ter à Capitania do Espírito Santo, por esse Rio de Santa Maria se efetuasse, seria esta comunicação de maior vantagem que a navegação do Rio Doce, porque desembocando o dito Rio quase légua e meia distante da Vila, no lugar chamado Lamarão, seriam facilmente exportados os gêneros de Minas, importados diretamente na vila da Vitória” (Capitania, 244).

– O mesmo informante, na Memória apresentada ao conde de Linhares, assim se expressava: “Se a comunicação premeditada pelo Rio de Santa Maria com Minas Gerais fosse realizada, seria assaz vantajosa, porque este Rio vem desembocar no braço do mar, que forma o ancoradouro da Vila da Vitória, por cujo meio seriam os efeitos ali chegados mais prontamente extraídos” (Capitania, 6).

(45) - Informação colhida a f ls. 16 do códice IJJ9 24 do AN.

(46) - Ver nota V deste capítulo.

(47) - Formação, 244.

(48) - Minha Terra, 106.


Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, abril/2018

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