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Santa Cruz, a vila dos imigrantes

Foto do Arquivo Público Estadual mostra a vila de Santa Cruz no início do século passado

A vila de Santa Cruz recebeu, em 1874, o primeiro grupo de imigrantes que chegou ao País.

Após desembarcar em Vitória, 386 italianos seguiram para o município de Santa Cruz, hoje Aracruz, ao Norte do Estado.

Os italianos foram trazidos por Pietro Tabachi que, em 1873, recebeu autorização de Dom Pedro II para trazer imigrantes para o trabalho em sua fazenda.

Tabachi havia chegado há algum tempo antes e fundado a fazenda Nova Trento, uma homenagem à sua cidade natal. Outros navios com imigrantes italianos só chegariam a São Paulo e ao Sul do Brasil em 1885.

Os italianos de Santa Cruz embarcaram no dia 3 de janeiro de 1874 no navio Sophia, no Porto de Gênova, na Itália. Eles chegaram a Vitória no dia 17 de fevereiro.

No dia 1º de março voltaram a embarcar em outro navio rumo a Santa Cruz, de onde partiram em canoas pelo rio Piraqueaçu até alcançarem a fazenda de Tabachi.

De acordo com o especialista em História das Américas e secretário municipal da Cultura de Aracruz, José Maria Coutinho, nem tudo aconteceu como o esperado.

O dono da fazenda fez promessas que não pôde cumprir e teve de enfrentar a revolta dos imigrantes.

Entre as promessas estava a concessão de lotes de terras maiores do que os que estavam reservados para os imigrantes e com preços menores do que os efetivamente cobrados.

Além disso, Tabachi pagava aos italianos menos de um terço do salário prometido por uma jornada de trabalho.

Revoltados com a situação, os imigrantes chegaram a se armar e a polícia de Vitória teve de ser chamada para contornar a situação.

Os italianos acabaram se dispersando e subindo o rio, entrando na mata e fundando vilas. Dessa forma, surgiram Timbuí, em Fundão, Santa Teresa, Ibiraçu, algumas vilas que hoje fazem parte de João Neiva, Colatina, Itaguaçu, Santa Leopoldina, entre outras localidades.

De acordo com o historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Clério José Borges, a vida dos primeiros imigrantes não foi fácil.

Ele explica que na época ainda existiam tribos de índios botocudos nas margens do rio. Esses índios eram combatentes e canibais e atacaram muitas caravanas de italianos.

Dom Pedro II, visitante ilustre

O distrito de Santa Cruz, no litoral Sul de Aracruz, é a região mais antiga do município. Foi na foz do rio Piraqueaçu a instalação do primeiro aldeamento dos jesuítas.

O atual distrito também já foi sede do município. Em 18 de março de 1891, ele foi elevado à categoria de cidade.

Em 1943, a sede passou para o povoado de Sauassu, que no mesmo ano passou a se chamar Aracruz. Devido à importante contribuição para o desenvolvimento de Aracruz, Santa Cruz possui muitos atrativos históricos e naturais.

No local, estão três construções inauguradas durante a visita de D. Pedro II, em 1860. Dentre os locais históricos se destacam: a Igreja de Santa Cruz e o prédio da antiga Câmara Municipal.

Esse último foi construído em 1860 para hospedar a comitiva de D. Pedro II. Depois disso, a construção abrigou o fórum, a Câmara Municipal, a prefeitura, o Serviço de Estatística e a delegacia de polícia.

Contribuição jesuíta em igreja

Localizada no balneário de Nova Almeida, a Igreja dos Reis Magos, fundada no ano de 1580, é o mais significativo exemplo das construções jesuítas no Espírito Santo.

Possui em seu altar o quadro “A Visita dos Reis Magos”, que é considerado um dos mais antigos pintados no Brasil, datado do século XVII. Desde a expulsão dos jesuítas, a igreja sofreu raríssimas modificações, tornando-se exemplo vivo da arquitetura colonial jesuíta.

As paredes são feitas de pedras, com argamassa de barro, areia, cal de conchas e óleo de baleia. Os pisos são em madeira e o telhado em barro. As janelas da residência se abrem para o mar e para a foz do rio Reis Magos.

Cultura negra em destaque

As tradições culturais negras estão presentes em todo o Estado, mas de um modo especial nas bacias dos rios Jacaraípe e Reis Magos, onde festas populares de cunho religioso não deixam morrer a herança africana.

A festa em Nova Almeida é uma das mais tradicionais da região, começando com a “Puxada do Mastro”, em 26 de dezembro, Dia de São Benedito, e atingindo seu ápice em 20 de janeiro, Dia de São Sebastião, com procissão marítima e participação de várias bandas locais.

Segundo texto do mestre Antônio Rosa, em 1856, quando ainda havia comércio de escravos para o Brasil, um navio vindo da África naufragou na costa de Nova Almeida, só restando 25 tripulantes escravos, que se salvaram agarrados ao mastro do barco.

Eles teriam gritado pelo “santo preto”, ao qual não sabiam o nome, e por Deus, para que os salvassem. O milagre teria ocorrido e eles acabaram por alcançar as praias de Nova Almeida. Porém, os escravos se espalharam pelas fazendas que existiam na época, indo trabalhar nos engenhos de cana-de-açúcar em vários lugares do município da Serra como: Putiri, Cachoeirinha, Hestes, Perinheiro, Pindaíbas, Muribeca e Queimado.

Lá viveram trabalhando para os senhores, quando lembraram que tinham uma promessa a pagar ao  “santo preto”. Criaram uma banda de batuque ou banda de congo com tambores feitos com “oco de pau” e bambu, mas com permissão dos senhores.

Depois vieram a saber que era São Benedito o santo ao qual pediram ajuda. A tradição se espalhou e é hoje uma das mais importantes manifestações culturais capixabas.

 

Fonte: A Tribuna, Suplemento Especial Navegando os Rios Capixabas – Rios Riacho, Rio Piraqueaçu, Rio Reis Magos, Rio Jacaraípe - 12/08/2007
Expediente: Joel Soprani
Subeditor: Gleberson Nascimento
Colaboradora de texto: Anderson Cacilhas
Diagramação: Carlos Marciel Pinheiro
Edição de fotografia: Lucia Zumash
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2016

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