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Sedição de Piúma – Questão Christie

Piuma 1869 - Foto Albert Rihard Dietze - Fonte: José Luiz Pizzol

Uma questão pessoal de somenos – transformada, ocasionalmente, em arruaça – recebeu o título pomposo de sedição de Piúma.

Nada mais que pequeno incidente, convenientemente explorado, havido, em 1861, entre o subdelegado do distrito e um seu desafeto, no decorrer do comício comemorativo da Independência Nacional.

Os sediciosos não foram além do apedrejamento da casa daquela autoridade, umas perversidades com os três soldados do destacamento e a entrega da subdelegacia ao substituto imediato. Uma força de primeira linha enviada ao local pôs fim ao alvoroto, que levou ao júri dezoito pessoas indiciadas como cabeças.(47)

***

Tal como aconteceu nas demais unidades do Império, o Espírito Santo encontrou na Questão Christie(48) um motivo de expansão patriótica de seu povo.

Grandes e pequenos vibraram de justa indignação contra a atitude desairosa do diplomata inglês.(49) Choveram donativos de todos os quadrantes da província.

Numerosos funcionários consignaram parte dos vencimentos em benefício dos fundos destinados a auxiliar os preparativos para a defesa do país.

Para idêntica finalidade, nos mais distantes lugarejos, organizaram-se comissões encarregadas de promover subscrições públicas. (X) Tal como nos dias longínquos do primeiro século, os capixabas dos oitocentos souberam demonstrar sua solidariedade ao Brasil.

 

NOTAS

(47) - Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Espírito Santo no dia da abertura da sessão ordinária de 1862 pelo presidente José Fernandes da Costa Pereira Júnior – Vitória – 1862.

– Costa Pereira figura entre os mais operosos administradores que teve a província.  Ministro da Agricultura do Gabinete de sete de março de 1871 – chefiado pelo visconde do Rio Branco – não esqueceu o Espírito Santo, patenteando, mais uma vez, por atitudes e atos, o carinho que dedicava à terra capixaba. O Dr. ARAÚJO AGUIRRE, em discurso pronunciado no Instituto Histórico, recordou os principais serviços prestados ao Espírito Santo pelo prestigioso político campista (RIHGES, X, 138 ss. ).

(48) - Do nome do representante britânico que provocou tais incidentes que obrigou o Brasil a romper relações diplomáticas com a Inglaterra: William Dougal Christie.

(49) - Quando chegou a Vitória a notícia do incidente promovido pelos oficiais da fragata inglesa Fort, o povo imediatamente acorreu às praças públicas (?) para protestar solidariedade ao Governo. À noite houve passeata cívica, precedidos os manifestantes de banda de música. Vários oradores se fizeram ouvir (Correio da Vitória, vinte e quatro de janeiro de 1863).

– Datado de vinte e seis de janeiro de 1863, o presidente Pereira Júnior dirigiu ao ministro do Império o seguinte ofício: “Tive a honra de receber os avisos circulares de V. Excia. datados de oito do corrente e a eles respondo.

X - O vol. X da Coleção Presidentes do Espírito Santo do Arquivo Nacional guarda numerosos ofícios e mensagens dirigidos ao ministro do Império, relativos ao assunto. Destacamos o ofício endereçado por José Barreto Pereira Pinto ao presidente da província e que foi por este encaminhado ao marquês de Olinda – então à frente da pasta do Império – juntamente com o ofício de cinco de fevereiro de 1863. A eloqüência das suas palavras singelas reflete a exaltação dos seus comprovincianos e traduz quanto se contém nas mensagens cujos originais fazem parte do volume de Mss. supracitado.

Está assim redigido o documento: “Senhor. Concentrado neste pequeno e solitário canto do solo brasileiro não pode deixar de despertar meu entusiasmo a maneira, aliás digna dos mais subidos elogios pela qual o governo imperial e o povo fluminense soube repelir os insultos e ultrajes feitos pelo governo britânico ao nosso brio nacional.

Apesar que dez lustros hajam decorrido e pesem sobre meus ombros, todavia minhas forças se reanimam quando me surge a lembrança desse dia em que rompendo as fasaz [?] do berço na tenra idade de doze anos, voluntariamente voei ao campo de batalha para empunhar as armas contra os agressores do império de Santa Cruz no feliz momento de sua independência; fazendo logo parte de uma expedição que marchou em sustentação da dignidade brasileira que então se achava ofendida na Província do Rio Grande do Sul.

Esta saudosa lembrança, pois, me desperta o entusiasmo, máxime nesta ocasião em que o Brasil é ameaçado por uma nação incivil e ingrata, que se julga com o direito de ser obedecida, ainda praticando os maiores desvarios como acaba de praticar a Grã-Bretanha.

Assim que, nutrindo os mais elevados sentimentos patrióticos nesta ocasião recorro a V. Excia. a fim de oferecer-lhe meu fraco contingente, prestando-me gratuitamente para coadjuvar a briosa Guarda Nacional deste município na qualidade de instrutor tanto de cavalaria, como de infantaria, lugares estes que por vezes tenho exercido, visto que a mesma Guarda se pode tornar necessária para guarnição de nossas praias se os negócios entre o Brasil e a Grã-Bretanha por ventura exigirem que os brasileiros corram às armas. E com o maior prazer ofereço também a quantia necessária para o soldo simples de três praças de infantaria do Exército, descontado no soldo que percebo pelo Tesouro Nacional na classe de alferes reformado do Exército, sentindo dentro em minha alma não prestar-me, conforme meu desejo, por nada mais caber em minhas débeis forças. Deus guarde a V. Excia. Itapemirim, vinte e dois de janeiro de 1863. Ilmo. e Exmo. Sr. Doutor José Fernandes da Costa Pereira Júnior. Digno presidente da Província do Espírito Santo. (a) José Barreto Pereira Pinto.”

– “Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa. que o Chefe de Polícia interino desta Província Dr. Antônio Gomes Vilaça e os diversos empregados daquela Repartição a exemplo de seu digno Chefe acabam de ofertar, o primeiro, dez por cento mensais do seu ordenado de Juiz de Direito e os últimos cinco por cento, enquanto for necessário o concurso dos Brasileiros para sustentação da honra e dignidade nacional ante as exigências infundadas da Grã Bretanha. O mesmo procedimento tiveram os empregados da administração do Correio e da Recebedoria Provincial, cujo chefe Bel. Joaquim José Fernandes Maciel oferece dez por cento dos vencimentos que lhe competem, por aquele cargo, já como Professor de Francês do Liceu da Capital.

Folgo de igualmente participar a V. Exa. que o Secretário e os empregados da Secretaria do Governo cujos nomes com os da Polícia, Correio e Recebedoria vão inclusos ofertam, o primeiro dez por cento de todos os seus vencimentos a saber do cargo de Secretário e de professor de História Pátria e Inspetor da Saúde Pública e os outros empregados cinco por cento também enquanto o Governo julgar necessário. Louvei o procedimento patriótico desses cidadãos que pela maior parte ou quase em sua totalidade vivem dos seus minguados ordenados, mas que na ocasião em que o país pede o concurso de todos os seus filhos lhe oferecem cordialmente com os serviços pessoais parte dos vencimentos de que subsistem” (Ofício do presidente do Espírito Santo, de vinte e seis de janeiro de 1868, ao ministro do Império, in Pres ES, X, 34-34v).

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, novembro/2017

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