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Varejando rio acima - Imigração Americana

Capa do Livro: Nossa vida no Brasil, APES 2013

A cena às margens do rio: americanos aglomerados com sombrinhas em mãos, malas por todos os lados. Camaradas (ou trabalhadores) lá estavam, prontos para levar a bagagem e as pessoas nas canoas. Cadeiras foram colocadas aqui e ali para o conforto dos mais frágeis e mais velhos, as crianças amontoadas em colchões, ao fundo do bote. Banheiras empilhadas com um lavabo atravessado tornaram-se um assento para acomodar uma senhora, que nos assegurou que estaria muito confortável, mas nós sabíamos que era justamente o contrário. Ela levava uma sombrinha sobre a cabeça de sua mãe idosa, que estava sentada em uma cadeira à sua frente. Querida Senhora Margaret, ela era toda bondade. Não se importava com seus próprios inconvenientes, se aqueles que amavam não os sofressem. Amigos feitos nesse caminho tornaram-se muito próximos. A princípio um laço foi feito porque eles vieram não apenas do nosso Estado, mas de nosso próprio país. Em uma familiarização próxima encontramos neles verdadeiros e bons sulistas em todos os sentidos. Major McIntyre tinha uma família interessante. A devoção deles uns aos outros e a gentil e respeitosa atenção dos garotos, não apenas à sua tia, mãe e irmãzinha, mas à nossa família praticamente conquistou nossos corações.

Na vida pioneira o verdadeiro caráter se mostra e uma grande variedade de características se evidencia sob nossa observação. Nós fomos afortunados em sermos lançados em meio àqueles que nós ainda sentimos prazer em chamar de amigos. E, apesar de os mares nos dividirem, nosso contato se mantém, e classificamos entre os dias mais felizes de nossas vidas aqueles passados em nossa nova casa, na colônia. Outras famílias de diferentes Estados sulistas, com as quais compartilhamos as alegrias e tristezas de uma vida áspera, tornaram-se próximas, e o laço de amizade será sempre mantido.

Mas devemos retornar à situação. Imagine uma pessoa sentada em uma cadeira de balanço, em uma canoa, com uma criança em seus braços, uma sombrinha em uma mão, seus pés presos em uma posição imóvel. Essa era nossa condição. Entretanto, tendo a cadeira sobre a qual se recostar, era um luxo, mesmo que os raios de sol trespassassem a sombrinha de linho branco e nenhuma mão estivesse livre para usar um leque. Devido à nossa condição peculiarmente abarrotada e o inevitável arranjo de passageiros não podíamos nos ajudar. Ninguém estava próximo o suficiente para nos auxiliar no cuidado do bebê, ocasionalmente, e éramos compelidos a permanecermos em nossos assentos ou correr o risco de virar a canoa. Os camaradas cantavam e usavam as varas, em regular e uniforme seriedade, levando-nos algumas vezes próximos a uma margem e então próximos à outra. Ocasionalmente encalhávamos em um banco de areia e então, com energia renovada, empurravam-nos. Essa era toda variação que tínhamos, exceto alguns momentos de descanso, ao meio-dia, quando fomos para a terra por um tempo, para repousar nossos membros cansados dessa postura tensa, e para comer nosso almoço.

A tarde se arrastou da mesma maneira monótona. A monotonia foi rompida por um momento, quando uma das crianças perdeu um chapéu, que os camaradas não iriam parar para resgatar. O lamento foi grande por um tempo, já que esse era o sétimo chapéu que o vento havia levado para a água, dentre os nossos, desde que deixamos Montgomery.

Nós compramos, em Vitória, alguns chapéus grandes com abas imensamente largas, que eram iguais a uma sombrinha ao sombrear suas faces. Quando bem amarrados, não eram levados facilmente. O último que se foi era de palha leve, flutuou rio abaixo e foi logo esquecido. Conversávamos uns com os outros, algumas vezes alegre, outras tristemente, imaginando se no dia seguinte conseguiríamos nos arranjar com mais conforto. Alguns dos imigrantes que viajaram rio acima um dia à nossa frente acamparam em um banco de areia quando a noite caiu. Eles esticaram xales sobre os remos e fizeram assim tendas. Os mosquitos deram-lhes tamanhas boas vindas que eles não puderam dormir. O mesmo grupo alojou-se, no segundo dia, em uma cabana indígena.

A viagem deles foi lenta e tiveram que se abrigar nesse domicílio humilde. Disseram-nos, quando comparamos os registros de nossas experiências, que os nativos gentis mostraram-nos as hospitalidades costumeiras em suas acomodações diminutas. Um cão dormia no canto do quarto. Uma galinha no outro e o fogão, sobre o qual foram feitas refeições, foi dado como cama a uma senhorita, que estava doente com dores de cabeça. Imagine o luxo de deitar-se sobre uma cama, com um saco de farinha como travesseiro e tais companhias na residência. Mas estavam protegidos dos ares da noite. A senhorita do grupo tinha uma criança doente, mas, no dia seguinte logo cedo, eles chegaram à vila. Nossa canoa, embora partindo atrás, prosseguiu mais rápido e nós alcançamos Linhares na segunda noite. Mas, antes de falarmos em termos alegres de nossa chegada à vila, deixe-nos descrever nossa própria experiência na terra do Doce na próxima cena.

 

Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003

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