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Vasco Fernandes Coutinho - Parte I

Tela de Morgana de Sá retratando a chegada do Donatário Vasco Fernandes Coutinho

Vasco Fernandes Coutinho foi fidalgo da Casa Real portuguesa, segundo registro do próprio D. João III, na carta de doação e no foral da capitania que seria a do Espírito Santo. No primeiro daqueles documentos vai mais longe o rei: assinala que a doação a Vasco Fernandes representava mercê aos muitos serviços prestados à Coroa Portuguesa, “nestes Reinos (Portugal) como em África e nas partes da Índia onde serviu”. Sempre dando de si boa conta – acrescenta noticioso o soberano.

Eis, portanto, passada sob chancela real, a folha de serviços do nosso donatário antes da vinda para o Brasil.

Compulsando velhas fontes, lograram os historiadores colher outras referências sobre Vasco Coutinho.

Goa, Malaca e China, citam-se entre as partes do Oriente onde teria servido, ao comando do intrépido Afonso de Albuquerque, conquistador das Índias. Tais andanças ultramarinas valeram-lhe sem dúvida experiência nas campanhas de conquista, e contribuíram para lhe acentuar o ânimo aventureiro. É de se crer haja capitalizado lucros financeiros. Pelo menos, na época da doação das cinqüenta léguas de terra na costa brasileira, desfrutava situação econômica tranqüila e cômoda que lhe permitia vida folgada na Metrópole.

Possuía bens e haveres: na vila de Alenquer, uma quinta, e propriedades em Santarém.

Do erário português auferia ainda, mensalmente, a título de remuneração por serviços prestados à Coroa, tença de trinta mil reais.

De todo esse patrimônio se desfez o donatário para levantar os recursos necessários à colonização da capitania. Nada poupou. Mesmo a pensão régia, trocou-a por navio e provisões, conforme consigna o Alvará datado de 14 de junho de 1534.

Despojando-se, como se vê, irremediavelmente, de tudo quanto tinha, arrojou-se Vasco Fernandes ao destino de conquistar um Mundo Novo que nem mesmo conhecia.

Que motivos o impeliram? O desejo de aventuras, a ambição da riqueza fácil vislumbrada nas cintilações fabulescas do El-dorado, a disposição de servir a El-rei, uma vez mais ainda – ou a vaidade de se tornar senhor de um feudo onde gozaria de poderes quase absolutos?

Perduram as interrogações.

Deixando Lisboa em princípios de 1535, transporta-se para o Brasil na caravela Glória. Estima-se em sessenta pessoas o número de seus acompanhantes. Dentre eles, figuravam D. Jorge de Menezes e D. Simão de Castelo Branco, fidalgos de nobreza discutida e de conduta reprovável.

D. Jorge de Menezes passa por ter sido indivíduo de temperamento desvairado e turbulento, apesar de valoroso. De Simão de Castelo Branco pouco se sabe com certeza. Os historiadores tem tomado a ambos como degredados que aqui vieram cumprindo penas. A presença deles na expedição sugere que não veio o donatário cercado da melhor gente do Reino. A própria família – a mulher, D. Maria do Campo, ou os dois filhos nascidos do casal, Jorge de Melo e Martim Afonso de Melo – tem participação incomprovada na viagem.

A este magote de povoadores se incorporariam, no futuro, desordeiros e maus elementos homiziados por Fernandes Coutinho, como recurso para povoar o senhorio. Os tropeços de toda ordem advindos do emprego desta gente indisciplinada e tumultuária constituiriam um dos fatores da perdição do infeliz governador.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 21, ano 1961
Autor: Luiz Guilherme Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril /2013 

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