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Vasco Fernandes Coutinho - Parte III (última)

Visando aproveitar os meios naturais de defesa, Vasco Coutinho transferiu a sede para a Ilha

Foi longa de quase sete anos a ausência do capitão.

Quando regressa, depara a capitania em decadência e semi-destruída pelas constantes arremetidas do gentio e pela incapacidade administrativa dos que a dirigiram naquele interregno.

Nem por isso esmoreceu. A persistência com que se atirava à luta e ao trabalho, à reconstrução muitas vezes recomeçada, é nele digna de louvores. Malograda a obra, poderia dela ter desistido como o fizeram outros donatários, contemporâneos de infortúnio. Vasco Fernandes não. Insistia. Empenhava-se com denodo em busca do tempo perdido.

Numa tentativa última de se pôr cobro às incursões dos selvagens, e visando aproveitar os meios naturais de defesa, transferiu a sede da governança para a Ilha de Duarte de Lemos, depois chamada Vila da Vitória.

Aos poucos, melhora a situação, possibilitando ao donatário ausentar-se novamente. Em 1550 e 1555 admite-se a hipótese de outra ida a Portugal.

Retornando ao E. Santo, os graves problemas dos indígenas rebelados contra os brancos. No correr dos anos seguintes, esta ameaça vai-se tornando de tal forma séria que um pedido de socorro ao Governo Geral na Bahia prontamente é atendido. Graças ao auxílio oficial, conjura-se o perigo representado pelos índios enfurecidos, em especial ao norte da capitania. Mas não muda a sorte do capitão donatário.

O insucesso instalara-se em terras de Coutinho, que perdia recursos e saúde. Nas viagens a Portugal, contraíra dívidas. Quanto à saúde, desgastaram-na as privações, os sacrifícios feitos, a vida áspera de conquistas e lutas. É preciso não esquecer que o donatário viera para o Brasil entrado em anos, tendo esbanjado no Oriente o vigor e os ímpetos da mocidade.

Em carta dirigida ao rei em 1555, o 2º Governador Geral, Duarte da Costa, a ele se refere como um velho empobrecido e cansado. Vasco Fernandes mesmo escreveria a Mem de Sá, em maio de 1558: “sou já mui velho cercado de doenças”. Confessando com humildade os seus pecados, sente a morte próxima, o que o deixa intranqüilo quanto ao destino que possa ter a capitania. Não esconde o desejo de encontrar quem a povoe “para que não esteja tão deserta”.

É admirável a dedicação deste homem a terra desbravada à custa do que possuíra de mais caro. No afã de colonizá-la se desgasta, conhece os revezes da sorte, vê-se vítima da calúnia urdida por Duarte de Lemos para indispô-lo com o rei. Nem a igreja lhe perdoa. Contra ele invectiva o bispo Pero Fernandes Sardinha, reprovando-lhe duramente a conduta e a fraqueza, pois contraíra o vício de “beber fumo”.

Se falhou como governador da terra recebida em doação, por lhe faltarem dotes administrativos e capacidade de comando, por ser crédulo em excesso e otimista em demasia, como homem honrou até a morte o compromisso firmado com el-rei.

Falece em 1561, deixando a capitania ao filho bastardo, de igual nome, nascido de Ana Vaz.

Não pôde a História fechar os olhos aos muitos erros que cometeu, Às ausências prolongadas do governo da capitania, às atitudes inconstantes que o caracterizaram. Mas, justiça se lhe faça, como lapidarmente quer José Teixeira de Oliveira: “justiça à dedicação, à generosidade, à bravura, solidariedade e espírito magnânimo do primeiro donatário”. Assim seja.

Autores consultados:

- José Teixeira de Oliveira, “História do Estado do Espírito Santo”, Rio de Janeiro, 1951.

- Pedro de Azevedo, “História da Colonização Portuguesa no Brasil”, capítulo V, “Os primeiros Donatários”, páginas 200 a 203, Litografia Nacional, Porto, 1924.

- Malheiro Dias, “História da Colonização Portuguesa no Brasil”, capítulo VI, “O Regime Feudal das Donatarias”, páginas 241 a 243, idem.

- Mario Aristides Freire, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, nº 15, “Reabilitação histórica de Vasco Fernandes Coutinho”.

Vitória, 23 de maio de 1961.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 21, ano 1961
Autor: Luiz Guilherme Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril /2013 



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Ora, o nosso Espírito Santo serviu de território tampão durante muito tempo para as Minas Gerais fossem resguardadas de outros olhos ambiciosos. Para que, então, confeccionar cartas ou mapas ex-Capitania se elas serviam à nobre missão de resguardar os tesouros das Minas Gerais?

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