Morro do Moreno: Desde 1535
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Ano de 1535 – Por Basílio Daemon

Vasco Fernandes Coutinho - Fonte: Casa da Memória de Vila Velha

1535. Chega a 23 de maio deste ano à barra desta capital,(14) tomando por ponto marítimo o pico do Mestre Álvaro, o donatário da capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, acompanhado dos fidalgos portugueses Simão de Castelo Branco [de Vasconcelos, no original] e D. Jorge de Menezes,(15) que vinham degradados, assim como Valentim Nunes, Duarte de Lemos e outros, que o quiseram acompanhar da Bahia, sob diversas garantias; ao todo sessenta pessoas.(16) Entrou o navio à barra; julgando o donatário ser a vasta baía da Vitória um grande rio, e depois das averiguações feitas procurou desembarcar para dentro da ponta do Tubarão ao norte e do monte Moreno ao sul, em uma grande enseada à sua margem direita, a qual julgamos ser a da vila do Espírito Santo e não a de Piratininga como muitos querem,(17) denominando a terra, em que ele ia saltar e os seus, com o nome de Espírito Santo, em comemoração do dia em que a igreja festejava uma das três pessoas da Trindade, nome que depois perdeu quando foi mudada a povoação para o de Vila Velha, sendo mais tarde por uma lei da Assembleia Provincial revivido, dando também este nome a toda a província. Conquanto os indígenas apelidassem à nova povoação Moab, terra habitada por emboabas, contudo o nome de Espírito Santo subsistiu, não só hoje à vila como à província em geral.(18) Ao desembarcar Vasco Coutinho e os seus companheiros, os indígenas obstaram a que saltassem em terra, mas foram logo repelidos pelas armas, e com tal afoiteza e denodo que os aborígines fugiram para os centros das matas, podendo eles então tomar conta da terra e assentar seus arraiais entre duas colinas, como confirmam diversos historiadores e cronistas.(19) Ordenou o donatário o dar-se princípio a uma povoação neste inculto território, já construindo-se cabanas, já entregando-se ao plantio das sementes que trazia, já edificando-se um forte no lugar onde hoje se acha a fortaleza de Piratininga,(20) como à construção de uma pequena capela próxima à praia e no fim da mesma, pouco mais ou menos no lugar hoje denominado rua de São João,(21) e talvez com essa invocação, por ser o nome do monarca português, quem o sabe? Vasco Fernandes Coutinho ordenou ainda a construção de um engenho e principiou a abrir uma situação e nela foi residir no lugar conhecido hoje por Sítio Ribeiro, pertencente ao Sr. Paulino. No local ainda se veem derrocados paredões, restos de alicerces e paredes em ruína, tudo disseminado; ali residiu também Vasco Fernandes, filho, e D. Grinalda, que fizeram diversas doações. Mais tarde pertenceu à família Freitas, dizendo a crônica que os padres jesuítas dela também foram senhores, e que em escavações feitas ali, ou em trabalhos de agricultura, se tem encontrado dinheiro e objetos antigos. Levantaram ainda para correção dos criminosos e execução de outros um pelourinho e forca em uma pequena ilha que existe em frente à pequena enseada da vila do Espírito Santo, e que ainda até hoje conserva o nome ilha da Forca. Dizem as crônicas que ali se fizeram execuções e castigos tanto a portugueses como a indígenas. Estabelecidos os novos povoadores e outros que vieram após, foi necessário estarem sempre alerta contra os ataques dos índios tupiniquins, goitacases e outros, tendo-se por diversas ocasiões dado pelejas, pois que eram incomodados por estes com emboscadas e surpresas, como adiante se verá, sendo muitas vezes repelidos, e só no ano de 1558 é que foram derrotados completamente.

Idem. No fim do mês de maio e princípio do de junho, alguns dos povoadores embarcados em lanchas e lanchões investigam os arredores da nova povoação, tanto a terra firme como as ilhas que se acham disseminadas desde a barra até a baía desta então capitania; tendo subido chegaram a 13 de junho deste mesmo ano e desembarcam nesta hoje cidade da Vitória, que em atenção ao santo desse dia denominam o lugar com o nome de ilha de Santo Antônio, considerando-a uma das melhores da donataria; prosseguindo sempre em suas excursões, foram algumas vezes incomodados e atacados pelos indígenas.(22)

Idem. Em fins deste ano e princípio do ano seguinte os novos povoadores saem em novas explorações, mas em muito maior número e bem armados e municiados, passam-se para o lado norte, e subindo talvez o rio da Passagem, desembarcam e entranham-se pelo sertão a dentro, e fazendo picadas chegam até os arredores da hoje cidade da Serra, tendo tomado como rumo a serra do Mestre Álvaro. Nesta excursão não consta que fossem incomodados ou pressentidos pelos índios.

Idem. Neste mesmo ano principia o donatário Vasco Fernandes Coutinho a fazer concessões e doações de terrenos àqueles que o haviam acompanhado, concedendo a D. Jorge de Menezes a ilha que teve o nome primitivo de seu possuidor, e que hoje se denomina ilha do Boi ao norte na barra desta então capitania, doando ainda outra a Valentim Nunes,(23) que também teve o seu nome e hoje é conhecida por ilha dos Frades, situada também à barra. Quanto a Simão de Castelo Branco não se sabe ao certo qual a doação a ele feita.(24)

 

 NOTAS:

15 “Chamavam a este último [Menezes] o das Molucas, onde fora governador.” [Southey, HB, I, p. 68] (b) “D. Jorge de Menezes, a quem chamavam o de Moluca, por ter sido capitão-mor desta fortaleza na Índia, e saindo dela capitulado para o reino, foi mandado a desterro para o Espírito Santo.” [Jaboatão, apud Rubim, B. C., Memórias, p. 162]

16 (a) “…Vasco Fernandes Coutinho, que com uns 60 indivíduos surgiu na baía da Vitória no domingo do Espírito Santo do ano de 1535, circunstância que lhe deu o nome.” [Notas sobre a fundação da capitania do Espírito Santo] (b) “A Glória, a caravela de Coutinho, permitiu-lhe trazer 60 companheiros. […] Não seriam criminosos comuns; mas pessoas privilegiadas segundo o livro quinto das Ordenações, presume Alexander Marchant, em face das palavras do conhecido cronista de 1587.” [Freire, Capitania, p. 43]

17 (a) “…a caravela de Vasco Fernandes Coutinho aportou à sua capitania, aproando em uns terrenos baixos, ao fundo de uma enseada, bem junto ao monte Moreno, à esquerda da entrada da baía – que julgaram ser um rio.” [Lamego, Terra Goitacá, V, p. 370, apud Oliveira, HEES, p. 37, nota 2] (b) Frei Vicente diz que o donatário, “avistando primeiro a serra de Mestre Álvaro, que é grande, alta e redonda, foi entrar no rio do Espírito Santo.” [HB, I, p. 26]

18 “Na escritura em que confirmou a doação da ilha a Duarte de Lemos, a 20 de agosto de 1540, em Lisboa, Vasco Fernandes Coutinho declarou-a confinante com o ‘termo’ da povoação do Espírito Santo. Uma das testemunhas, Pedro Garcia, declarou ser ‘morador na vila do Espírito Santo, na terra do Brasil.’” [Freire, Capitania, p. 48]

19 Vasconcelos, J. M. P., Ensaio, p. 11.

20 Augusto Fausto de Souza informa que a construção desse forte se deu apenas em 1702. [Fortificações no Brasil, RIHGB, 48, II (71):98-100]. Tratava-se certamente de uma paliçada.

21 Atual rua Luciano das Neves, conforme Teixeira de Oliveira. [HEES, p. 38, nota 6]

22 Segundo Teixeira de Oliveira, o padre Ponciano Stenzel dos Santos faz alusão a essa passagem. [Discurso, p. 33, apud Oliveira, HEES, p. 49, nota 2]

23 Teixeira de Oliveira põe em dúvida essa doação. [HEES, p. 39, nota 11]

24 Ver nota ao primeiro item de 1535.

 

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2019

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