Morro do Moreno: Desde 1535
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Casa da Memória de Vila Velha - Sua História

Comemoração do 4º Centenário do Espírito Santo, Prainha, 1935. Ao fundo a casa de janelões, que veio ser a sede da Casa da Memória de Vila Velha

CASA DA MEMÓRIA DE VILA VELHA

Sociedade civil sem fins lucrativos, a Casa da Memória de Vila Velha foi oficialmente fundada no dia 27 de outubro de 1997, tendo como propósito incentivar o estudo histórico, geográfico e sociocultural da cidade de Vila Velha e, por extensão, do Estado do Espírito Santo. Para tanto, realiza um trabalho permanente de pesquisa, seleção e reunião de registros bibliográficos e documentais, que são incorporados ao acervo da entidade e exibidos à população.

Parte do acervo resulta de doações feitas pelas famílias canelas-verdes e parte provém da coleta e análise de relatos orais passados de geração em geração, livros, imprensa, arquivos oficiais, arquitetura, fotografias, culinária, utensílios domésticos, festas religiosas, manifestações folclóricas e artes em geral, como a música, a pintura, o teatro e a dança. Todo o material reunido é organizado de forma a preservar a história, a memória, a identidade e a produção cultural de Vila Velha, a mais antiga das cidades capixabas, fundada em 23 de maio de 1535 pelo primeiro donatário da Capitania do Espírito Santo, o fidalgo português Vasco Fernandes Coutinho.

 Sede da capitania até 1549, quando, em virtude da transferência da capital para Vitória, passou a ter o nome atual, Vila Velha integra a Região Metropolitana de Vitória e sua população, concentrada na área urbana, supera a da capital, sendo a cidade mais populosa do Estado. Com 32 quilômetros de litoral, o município é recortado por um alinhavado de praias que constituem conhecidos ícones turísticos e paisagísticos, merecendo ser citadas a Praia da Costa, a Praia de Itapoã e a Praia de Itaparica, além das bucólicas Barra do Jucu e Ponta da Fruta. Possui várias construções históricas, tais como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o Convento da Penha (datados do século XVI), o Forte de São Francisco Xavier (do século XVII) e o Farol de Santa Luzia (do século XIX).

Nesse contexto, a localização física da Casa da Memória é excepcional e afinada com os propósitos da entidade. O casarão que a acolhe situa-se no antigo Largo da Matriz, na região conhecida por Sítio Histórico da Prainha, que, em 1935, serviu como palco das comemorações do Quarto Centenário da Colonização do Solo Espírito-santense e oferece um panorama contemplativo de rara beleza, infelizmente em parte descaracterizado por aterros marinhos e intervenções arquitetônicas precipitadas. Defronte ao casarão está o Parque da Prainha, local de lazer com marinas e área para shows. Na sua vizinhança, os quartéis da Marinha e do Exército, respectivamente a Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo e o 38º Batalhão de Infantaria, guardião do mencionado Forte de São Francisco Xavier. Dentro de seu domínio visual estão o Convento da Penha e a Igreja do Rosário construída próxima ao mar por Vasco Fernandes Coutinho numa pequena elevação natural do terreno. Em seu interior, ajoelhou e orou o velho donatário, cansado, doente e à espera da morte, após ver trocadas as esperanças iniciais pela desilusão diante dos insucessos. Além dele, outros importantes personagens da história capixaba que já pisaram nessa terra, como no caso de Vasco Coutinho Filho, o segundo donatário, de sua esposa Dona Luísa Grinalda, os padres Afonso Braz e José de Anchieta, rei e príncipes. O Padre José de Anchieta, conhecido como o apóstolo do Brasil, chegou a encenar peças teatrais no largo, de frente para a Igreja considerada uma das mais antigas do Brasil.

É solidamente plantada nesse privilegiado cenário, onde o Espírito Santo nasceu, que nossa Casa da Memória se incumbe da missão de estimular o processo de construção e manutenção da identidade vilavelhense, preservando a gloriosa história da cidade para garantir o conhecimento de seu passado e também se reconhecer como passado no decorrer do tempo. 

 

RAÍZES HISTÓRICAS DA CASA DA MEMÓRIA

Na Prainha, à beira mar, esquina da Rua Luciano das Neves, de frente para a Praça Tamandaré, havia um casarão geminado em ruínas, uma das últimas edificações do século XIX, datada de 1893, conforme inscrição em seu frontispício.

Edward Alcântara lembra que o imóvel possuía um amplo quintal voltado para o mar e que se estendia até a Rua Bernardo Schneider, antiga Rua São Bento. Essa gleba foi desmembrada em lotes onde foram construídas três casas. Na casa do meio residiu o artista plástico Homero Massena, que escolhera Vila Velha como residência permanente. Ao falecer, a casa foi desapropriada pela Prefeitura Municipal de Vila Velha e lá instalado o Museu Homero Massena, conforme idealizou seu discípulo, o artista plástico canela-verde Kleber de Oliveira Galvêas.

Também morou no casarão geminado, que viria a ser a sede da Casa da Memória, o ex-prefeito de Vila Velha Domício Ferreira Mendes e o alfaiate Alvino Simões mantinha ali uma alfaiataria onde produzia uniformes para os colégios e fardas para os militares do Exército e da Marinha de vários estados da União. Vale dizer que na época o casarão possuía um muro que seccionava seu quintal dos outros três lotes citados.

A Associação de Moradores - Centro, fundada em 1986 e dirigida por Willis de Faria e Roberto Abreu, vinha idealizando dar novo sentido à questão do estudo das tradições de Vila Velha como berço do Estado do Espírito Santo. A Associação já possuía, conseguido de pessoas de boa vontade, um pequeno acervo de razoável valor histórico, constituído por material documental e fotográfico, além de alguns depoimentos gravados. Todavia, lutava com dificuldades para manter o colegiado. Foi quando surgiu a oportunidade de criação de um museu no casarão em ruínas.

A decadente construção destoava do Parque da Prainha e, em 1989, atendendo a uma manifestação das lideranças do bairro, que desejavam ver ali instalada uma Instituição Cultural, o então governador Max Mauro recebeu a idéia com simpatia, mandou reformar o imóvel com recursos estaduais e fez sua cessão à instituição museológica sob a forma de comodato. Fundamental foi o empenho da colega Maria Olga Setubal Bussolotti, a Molga, que, como membro do Conselho Estadual de Cultura, lutou bravamente em favor da definição deste projeto. Através do Decreto Estadual nº 4.089 de 23/05/1989, editado pelo Governador Max de Freitas Mauro, e publicado no Diário Oficial Estadual em 26/05/1989, a edificação foi desapropriada para fins de utilidade pública e cedida em comodato para ser sede do Museu Etnográfico e Casa de Música de Vila Velha. Por licitação, o Departamento de Edificações e Obras (DEO) contratou o arquiteto José Daher Filho para projetar a obra de restauro e ampliação do imóvel que chegou inclusive a ruir devido à sua má conservação pelo antigo proprietário.

Foi estabelecido um termo de cessão à Associação de Moradores de Vila Velha-Centro para, no período de cinco anos, fazer ali funcionar a instituição, inaugurada em 11/12/1992, já na gestão do Governador Albuíno de Azeredo.

Poucos dias antes da inauguração, a Associação promoveu uma reunião na sede da Academia de Letras Humberto de Campos objetivando formar a equipe que iria tratar junto ao Governo e à Prefeitura sobre a instalação e o funcionamento do imóvel desapropriado e as condicionantes do termo de cessão em comodato. Por aclamação, foram escolhidos conselheiros: Luiz Paulo Siqueira Rangel, Lino do Santos Gomes, Romero Augusto Botelho, Roberto Brochado Abreu, Waleska Soares Dutra, Sergio Bernadino Batista, Silmo de Souza Rodrigues e Sebastião Isaac Ferreira. A coordenadoria geral ficou nas mãos da artista plástica Maria Olga Setúbal Bussolotti.

 

NASCE A CASA DA MEMÓRIA

 No ano de 1995, foi eleita para a presidência da Associação de Moradores, a senhora Geny Merighetti Cerutti, que contou com importantes associados como Roberto Abreu, Silmo Rodrigues, Coriolano Delfino Motta, Maria Olga Setubal Bussolotti, Verneck Leite Guimarães, Belmiro Xavier, e tantos outros. Foi quando o Estado, que ainda mantinha a casa cedida por contrato em comodato, justificou que suas finanças não podiam continuar mantendo gastos indefinidamente, e fez devolver sua supervisora e os estagiários que colaboravam na instituição.

Após esse ato, também a Prefeitura de Vila Velha cortou o empréstimo da funcionária Alda Faria, que cuidava do imóvel. Retirados esses dois apoios, cresceu a dificuldade financeira do Museu e, consequentemente, da Associação. Em razão desses percalços, a senhora Alcione Dias, funcionária do Departamento Estadual de Cultura (DEC), cedida por empréstimo à Associação de Moradores, sugeriu que o Museu Etnográfico - Casa de Música poderia adotar o nome de Casa da Memória e tomar-se independente da ONG – Associação de Moradores, podendo desse modo lutar pela obtenção de recursos próprios.

Reconduzida em 1997 à presidência da Associação de Moradores, a senhora Geny Merighetti Cerutti criou o Departamento de Cultura para cuidar exclusivamente da parte cultural. Todavia o Conselheiro Edward Athayde Alcântara, o Dedê, logo percebeu que a medida só estaria completa se a Casa da Memória deixasse de fazer parte do Departamento de Cultura da Associação de Moradores para transformar-se em nova ONG com sede e registro próprios. Arregaçando as mangas, ele partiu em busca de parceiros com trânsito nos setores culturais da cidade. Esse anseio do companheiro Edward foi apresentado como uma boa saída para o início da captação de recursos, pois uma ONG com personalidade jurídica estaria pronta para fazer parcerias diversas, a começar pelas secretarias municipais e escolas particulares. Pronto, assim nasceu a Casa da Memória.

Como escreveu Monteiro Lobato - meu patrono na Academia de Letras Humberto de Campos - “só o que se fez ensina o que se deverá fazer para o diante, valendo por más testemunhas os que silenciam egoisticamente sobre os exemplos do passado”.

Nós somos a Casa da Memória, o estuário que abriga no presente o fluxo oriundo das artérias do passado de nossa terra, preservando-o como preciosa fonte das correntes formadoras dos mares do futuro!

 

PRIMEIRO COLEGIADO DA CASA DA MEMÓRIA DE VILA VELHA

Dijairo Gonçalves Lima, Átila de Freitas Lima, Edward Athayde d' Alcântara, Roberto Brochado Abreu, Emane Macieira de Souza Filho, Jair Santos, Sebastião Isaac Ferreira, Verneck Leite Guimarães, Marcelo Ferreira Mendes, Belmiro Xavier, Walter Damasceno Júnior, Use Meyer Musso, Maria da Glória Oliveira de Martim, José Alves Leal Reis, Roberto de Souza Lé e Wandea Silva Guimarães. Desses, assinaram a ata de criação da fundação da Casa da Memória, Dijairo Gonçalves Lima, Átila de Freitas Lima, Roberto Brochado Abreu, Jair Santos, José Alves Leal Reis, Sebastião Isaac Ferreira, Patrícia Cristina de Noronha Salube, Edward Athayde Alcântara (mentor), Walter Damasceno Júnior, Ary Queiroz da Silva, Evany Maria Cassaro Martinelli, e Ernane Macieira de Souza Filho.

 

Texto: Walter de Aguiar Filho, novembro/2012


Fonte de Pesquisa em textos e informações colhidas:

Jair Santos

Dijairo Gonçalves Lima

Roberto Abreu

Romero Augusto Botelho

Jovany Sales Rey

Edward Alcântara

Luiz Paulo Rangel

Manoel Goes

Luíza Celina Valdetaro Rangel

Paulo Roberto Segatto Simões

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