Morro do Moreno: Desde 1535
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De bonde com Grijó – Praça Costa Pereira

Rua Coronel Monjardim - 1953

O bonde, a partir de 1950, começou a circular a Praça Costa Pereira, pois antes só ia até ao Hotel Império. Ali chegando, invertia a posição dos assentos, para a seguir retornar ao ponto de partida, passando pela Rua Coronel Monjardim, atingindo a Cidade Alta, contornando a Catedral, indo até em frente ao Palácio Domingos Martins (Assembleia Legislativa), onde novamente invertia os bancos e retornava pela ladeira Dr. Azambuja, chegando ao ponto de partida de frente ao Hotel Império. Esta linha chama-se Circular e os seus bondes eram diferentes dos demais, pois seu tamanho era a metade dos outros. Apesar de haver até hoje um viaduto com linhas (trilhos) embutidas em sua estrutura, estas jamais foram usadas para condução de bondes. Na Rua Coronel Monjardim muitas famílias tradicionais de Vitória já residiram. Era uma rua de um lado só, pois o lado direito de quem sobe é totalmente, até hoje, ocupado pelas paredes do antigo Colégio do Carmo e sua capela. Ali moravam seu Severino Dantas (o do caldo-de-cana), os Bicharas, de Jorge e Alice, figuras obrigatórias nas grandes festas do Álvares e Saldanha da Gama, a família de Toninho Andrade, grande amigo de Gilberto Michellini, Ubiratã e Farid Sarkis. Estes adoravam frequentar o boteco do Toninho, mais conhecido como Andrade, que gostava de contar bravatas e fatos criados por sua mente fértil, como a história do cavalo Corisco, que era montaria especial do presidente Vargas, do qual ele era "tratador". Diz o Andrade que em certa ocasião, por realização de um desfile de 7 de Setembro, Getúlio Vargas, reconheceu-o montado no Corisco, gritou do palanque: "Andrade, o que você está fazendo aí montando Corisco? Depois nós vamos acertar as contas..." Iguais a esta, contava "milhões". Logo depois vinha a subida da ladeira Serrat, onde moravam o Dr. Roberto Espíndula, pai de Ronaldo, Roberto, Mariângela e Maria Helena, e o nosso Mimi Serrat. Mais adiante, na Coronel Monjardim, a casa da maior parteira da cidade, dona Augusta Mendes, já citada anteriormente; a casa de seu Fernando Osório de Miranda e sua esposa dona Leopoldina, a dona Maroquinha, pais de Renato, Mauro, Lauro, Murilo e Haydee. Ali também a família de Fernandinho Miranda, pai de Beth Osório, ex-vereadora de Vitória, Carlito, Marcelo e Luciana. Logo a seguir a família de seu Alfredo Neves e dona Filomena, pais de "Tia Laura", que foi professora do ex-senador João Calmon, Odete, Maria de Lourdes, Alfredo, mais conhecido como "Gebigebe", funcionário contador da firma Antenor Guimarães, grande noctívago da ilha; Eduardo, ex-funcionário do IBC e Maria, funcionária aposentada do INSS. Ali também morava a família do Dr. Dório Silva, também já citado. Tenho um fato a contar sobre este maravilhoso médico. Ele era proprietário de umas fazendas em Cuieiras, perto da Barra do Jucu, em Vila Velha. Todas as quintas-feiras, ele visitava suas fazendas na região. Sua esposa, dona Ada, preocupava-se com sua saúde (ele vivia em eterno regime). Nos dias em que ia para as fazendas, a marmitinha com o regime era colocada no carro. Um dia encontrei-me com ele num banco; virou-se para mim e disse: "Azevedo (ele me chamava pelo sobrenome de meu pai), sei que você é autônomo e sempre sobra um espaço na semana." Aí contou-me o fato do regime. E pediu-me que fizesse para ele, lá na fazenda, uma moqueca e uma roupa-velha. Respondi-lhe que faria a hora que ele quisesse. Já na outra quinta-feira, juntamente com Geraldinho, que era seu motorista, e seu grande amigo Lucilo Borges Sant'Anna, passávamos pela Barra do Jucu e ele comprava um Dentão e partíamos para Cuieiras, onde preparei aquela moqueca acompanhada de uma farinha de mandioca torrada na hora e molho de pimenta in-natura com limão. Essa "clandestinidade" durou por muito tempo. Gostava de comer o prato "roupa-velha", tendo certo dia matado seu desejo, pois preparei-lhe aquela "roupa velha". Sempre na quinta-feira seguinte, ao me pegar para outra moqueca, dizia: "Viu, Azevedo, estou aqui firme." Eu respondia: "O senhor é médico..." Seu irmão Luiz Castelar comia feijoada ou outra comida a qualquer hora da noite ou madrugada e, quando alguém o alertava para os horários, ele respondia: "Estômago não sabe ver hora." Pessoas finíssimas.

O Convento de São Francisco ficava na Ladeira Padre Nóbrega, onde existe a Capela de Santo Antônio. Esta ladeira era apelidada de "Favela de Ouro", devido aos "brotos", filhas das famílias de Paulo de Tharso Velloso, Paulo Fundão, Jacy Castello Leite. A brotolândia era de fato a mais bonita da época. Mas, já que falei em igreja e convento, existe um erro grande por parte de certos divulgadores, quando referem-se à Capela de Santa Luzia, na Cidade Alta. Dizem ser esta a igreja mais antiga do estado e que foi construída em 1537. Porém Duarte Lemos, o primeiro donatário da ilha de Vitória, só chegou a ela em 1551. Como então poderia a igreja ter sido construída em 1537, dois anos após o desembarque de Vasco Fernandes Coutinho em Vila Velha (23/05/1535). A confusão deve estar sendo feita com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, localizada na Prainha de Vila Velha, que é a mais velha do estado. Defronte ao Convento de São Francisco, existia há alguns séculos um cemitério. Por volta de 1945, o prefeito Américo Monjardim resolveu fazer um corte num pedaço do morro para alargamento da rua Caramuru e Padre Nóbrega, melhorando o trânsito das mesmas. Aí veio a surpresa. Dezenas de pedaços de ossos de crânio, pernas e costelas começaram a aparecer. Só assim é que descobriram a existência de um cemitério bem antigo. A terra do cemitério era depositada num aterro da capixaba e nós, garotos da época, achamos muitos ossos e brincávamos com eles. Hoje se encontram por debaixo de prédios da Capixaba. Depois de passar pela Rua Coronel Monjardim, o bonde descia a Rua Dom Fernando e atingia a praça Misael Penna, onde se situava a antiga rodoviária de Vitória e o Corpo de Bombeiros. Aliás, nesse prédio fiz meu curso de admissão ao ginásio. Na Rua Dom Fernando morava uma grande personalidade nos meios públicos e sociais. Era casado com dona Glorinha e pai de uma grande prole. Quero referir-me ao Dr. Fernando Rabello, que tinha como filhos Rubem Dário, Teresinha, Carlos Rubens, Mário, Glória Maria, Raul, Fernando Augusto, Marian, Eliane e Maria do Carmo. Na esquina, Edgard Rocha, casado com dona Didi, pais de Marlene, Valéria e Edgarzinho. Residiam ainda na rua: Francisco Elias, proprietário da Farmácia Santa Terezinha e pai de João Carlos; o Sr. Humberto Velho, pai de Humberto Filho, engenheiro da PMV. Ali também ficava a floricultura do Acir e a residência do Sr. Sebastião Gomes, antigo agente da Cia. de Aviação Cruzeiro do Sul. Da praça Misael Penna, o bonde rumava para a Praça Costa Pereira. Esta era a linha circular. Já os bondes da zona norte, ao atingirem a antiga avenida Capixaba, passavam para o sistema de linha dupla, ou seja, mão e contramão, até ao ponto seção da avenida Jerônimo Monteiro em frente ao relógio da praça Oito de Setembro. Dali para a frente circulavam em mão única até Santo Antônio e obedeciam ao sistema de cruzamento em pontos como na Vila Rubim próximo ao Restaurante Mar e Terra e outro na praça de Caratoíra. Isso era para dar passagem aos bondes que iam rumo ao sul e voltavam ao norte.

 

Fonte: A Ilha de Vitória que Conheci e com que Convivi, vol. 6 – Coleção José Costa PMV, 2001
Autor: Délio Grijó de Azevedo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2019

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