Gilberto Mota e os Ovos - Por Helio de Oliveira Santos
Como já contei atrás duas estórias do Gilberto Mota, vocês já perceberam como ele era, amante das boas coisas da vida e gozador. Era também um sujeito que não gostava de se incomodar com nada. Basta dizer, que quando vinha à Vitória, de navio, nos famosos Itas, ou também no famoso "noturno" da Leopoldina, que saia para o Rio, as 10 horas da manhã, portanto "diurno", ele só carregava, fora a roupa do corpo, uma maleta, com escova de dentes, pente e uma ou duas gravatas.
No dia da sua chegada ou no dia seguinte ele ia na primeira camisaria e comprava uma camisa nova, uma meia, cuecas, lenço, tudo novo. A que ele tinha usado na véspera ele dava de presente a qualquer empregado do hotel. E assim cada dia ele comprava, as roupas intimas necessárias e dava as usadas para os empregados do hotel. O terno era o mesmo.
Gilberto Mota tinha um conhecido, um roceiro que tinha uma pequena granja, onde criava galinhas, lá para os lados de Cariacica. Sempre que esse roceiro sabia que o Gilberto estava em Vitória perguntava ao mesmo quando ele voltaria para o Rio, pela Leopoldina. Isto porque, a mãe do roceiro morava no Rio, em Jacarepaguá e ele então juntava uns ovos de sua granjinha, para remeter pra sua mãe, por intermédio do Gilberto.
Quando Gilberto chegava a Estação da Leopoldina, lá estava o seu velho conhecido, o granjeiro, com o indefectível embrulho, com os ovos, com o pedido de sempre:
— "Seu Gilberto, o Sr. pode levar estes ovos e entregar a minha mãe, lá em Jacarepaguá?"
O Gilberto prometia. Quando o trem começava a se locomover, ele, pela janela entregava o embrulho, com os ovos ao primeiro sujeito que passasse por ele na estação.
Chegando ao Rio, no dia seguinte, e já no escritório, ele chamava o boy e dizia: — "Vá na quitanda compre tantos ovos e vá entregar nesse endereço, lá em Jacarepaguá".
A mãe do roceiro, recebendo os ovos escrevia ao filho agradecendo-o e enviando sua benção.
Ela morreu, e o filho granjeiro também, sem ela e ele saberem que os ovos eram comprados numa quitanda no Rio...
Vocês já viram tudo: Se o Gilberto era um sujeito que quando viajava, não levava bagagem nenhuma para não se amolar, ia levar embrulho com ovos para o Rio?
Não era mais prático, para ele fazer como fazia?
Fonte: “Estória de Boemios e Outras Estórias” - 1978
Autor: Helio de Oliveira Santos
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2019
Estávamos no Bar Globo, isto lá pelas 10 horas da manhã, tomando nossos aperitivos, eu, Dadaio Miranda, Zé Gordinho, o Júlio Teixeira da Cruz, Mario Cezar Fundão
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