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Mudança coletiva – Por Sérgio Egito

Primeira página da primeira edição dO Diário, julho 1955

Eu era rato de agência. Tinha um amigo, Milson Henriques, que trabalhava na agência de propaganda Seta, pertencente aO DIÁRIO. Eu ficava peruando na agência, conhecia a redação inteira e acabava encontrando todo mundo novamente no Britz. Um dia, em 1969, o Rubinho Gomes me chamou para trabalhar como repórter nA Tribuna. Fui. E estou na profissão até hoje.

Ao contrário da maioria dos jornalistas veteranos, não comecei nO DIÁRIO. Cheguei lá em novembro de 1974, aos 26 anos, como editor chefe. Vinha dA Gazeta, onde era secretário de redação. O convite dO DIÁRIO era uma oportunidade de dirigir uma redação, coisa que nunca tinha feito.

O DIÁRIO, naquela época, era impresso na gráfica dA Gazeta. Eu, como era da época do chumbo, gostava das oficinas. A primeira coisa que fiz foi parar a circulação do jornal, recuperar a impressora, demitir todo mundo da redação e readmitir novamente dividindo o salário em partes iguais para todos. Antes, tinha gente que ganhava Cr$ 12 mil enquanto outros ganhavam Cr$ 500. Eu tinha que enxugar aquela folha.

Convidei uma equipe de jornalistas experientes pra trabalhar comigo. Eram o Jô Amado, Luzimar Nogueira Dias, Gustavo do Vale. Aproveitei gente que já trabalhava nO DIÁRIO, só que todo mundo passou a ganhar o mesmo salário, inclusive eu.

O sonho durou muito pouco. Entrei em 25 de novembro de 1974 e saí no dia 12 de março seguinte. Um fato marcante desse período é que o jornal passou a ser vespertino, para fugir da concorrência com os outros jornais. Circulava com as notícias da manhã do mesmo dia. Por incrível que pareça, os jornais a chumbo são mais velozes que os jornais de computador. Muito mais fáceis de mudar do que agora. Era só tirar o chumbo, pôr outro no lugar e acabou o problema.

Esse sonho durou até que chegou a campanha para o Senado naquela época. Um repórter descobriu que estavam passando um "livro de ouro" no Bandes, para apoiar um candidato e o suplente dele. O suplente era irmão do dono do jornal. Nós demos a matéria. O nosso compromisso era dar tudo que fosse notícia.

Mas, em conseqüência, eu fui demitido. O jornal circulou com a denúncia do "livro de ouro" no Bandes. Embora eu tenha pedido ao pessoal para preservar o trabalho, todo mundo saiu comigo: umas 15 pessoas. Depois que fui demitido, eles se demitiram. Foi em 11 de março de 1975. Depois que eu saí, os donos venderam o jornal para outras pessoas. Marien Calixte foi dirigir o jornal. Minha passagem por lá foi meteórica.

Nós, na época, fazíamos um jornalismo de denúncia. A gente pegava grandes assuntos e investia neles. Na época do Vinícius Seixas, anterior a mim, o jornal tinha sido muito melhor, funcionando com muito mais gente. Eu reduzi o quadro, só para o jornal circular sem prejuízo. As próprias A Gazeta e A Tribuna, quando eu trabalhei nO DIÁRIO, já estavam mais avançadas, circulavam em off-set. Mas O DIÁRIO era uma opção que o leitor tinha. Era um jornal mais bem escrito. Já não tinha mais escolinha. Só veteranos ou quem soubesse escrever. Não havia mais lugar para aquele tipo de repórter que a gente tem que reescrever a matéria dele. Todo mundo fazia tudo, diagramava, escrevia, fazia fotos. Nós tínhamos os melhores textos. Era um grupo de sonhadores, dos quais só eu fiquei no mercado.

Lá nO DIÁRIO todo mundo tomava cachaça, tinha um botequim em frente. Depois da demissão, fomos para o Britz. Eu me lembro que naquele dia estava sendo inaugurada a Rodovia do Contorno. A caminho da inauguração, o Cariê passou por lá e me chamou. Entre o bar e a inauguração, me convidou para eu voltar para A Gazeta. Eu disse que só voltava se fosse todo mundo comigo. Ele admitiu todo mundo. E eu voltei para A Gazeta. Era 1° de maio de 1975.

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.
Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel
Autor: Sérgio Egito
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2018

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