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O Tesouro da Ilha do Francês – Por Adelpho Monjardim

Ilha dos Franceses

Fronteira a Piuma, a Ilha do Francês sustenta o milenar assalto das vagas. Sempre raivoso o mar não lhe concede tréguas e a alva escuma é como eterno diadema a cingir-lhe a fronte granítica.

Três milhas, aproximadamente, separam-na do litoral. Pouco elevada a vegetação é pobre. O solo é árido e fértil em serpentes, a ponto de forçar a Marinha a colocar ali um farol moderno que dispensa a presença diária do homem. Tantas são elas que diariamente o farol é tomado de assalto. Venenosíssimas as suas picadas são mortais.

Ilha deserta, raros são os pescadores que a freqüentam. Todavia guarda um segredo. Junto ao mar, na encosta rochosa, abre-se uma gruta. A entrada é pouco alta e estreita, porém, ela se estende a profundezas desconhecidas. Espantosamente escura aninha, em seu seio, alentados e suspeitos morcegos.

Ninguém, até hoje, conseguiu chegar-lhe ao fim. Os dejetos e a urina dos morcegos a tal ponto irritam os olhos e as narinas que as lágrimas vertem espontâneas. Todavia o grande obstáculo é a rarefação do ar que a todos acomete.

Associando os fatos, a imaginação popular criou o tesouro oculto nas suas entranhas. Como teria ido ali parar? Piratas? Sabemos que os flibusteiros não costumavam confiar o produto das suas abordagens às ilhas costeiras, mas àquelas quase inacessíveis, em pleno oceano. Tão misterioso quanto o suposto tesouro é o seu nome. Por que do Francês? Antiqüíssimo, ninguém sabe explicar-lhe a origem, Não há memória de francês que ali tenha residido. Fértil, porém, é a imaginação do povo e remonta a história à aurora do Brasil Colônia; ao recuado 1555. quando Villegaignon se instalou na Guanabara, a fim de implantar a França Antártica.

Entretanto, efêmero o sonho de Coligny. Reagindo, com auxílio dos índios, os lusos expulsaram os franceses, pondo-os para correr. Na fuga levaram os valores em grande e pesada caixa de madeira, ricamente cinzelada com o monograma — N. D. V. — Nicolau Durand de Villegaignon. Na caixa-cofre o almirante guardava o numerário recebido da França, para pagamento da guarnição. E diziam que também ouro e pedras preciosas que os índios aliados traziam das matas.

Tudo embarcado às pressas, o veleiro rumou para o norte, quando o acaso levou-o à ilha, nas costas do Espírito Santo.

Presume-se que o ocasional encontro da caverna, em lugar propício, de fácil acesso e referência, fêz-los ali ocultar o precioso legado. Não fizeram mapa nem roteiro, apenas registraram a latitude e a longitude. A prudência ditava a medida, pois não estava excluído o risco de um encontro com as naus portuguesas, vigilantes ao longo da costa. A memória passaria de pai para filho até que alguém pudesse resgatar o tesouro.

O temor dos franceses se justificou. Nas alturas da Bahia caíram em poder dos lusos, que enforcaram todos, exceto um jovem de dezesseis anos, levado prisioneiro para Portugal.

Depois de um século, ou mais, jovem francês surgiu nas praias de Piuma, fronteiras à ilha. Tipo estranho vivia da pesca e da caça, para o próprio sustento. Como ninguém o entendia o convívio tornou-se para ele impossível, mesmo porque era reduzido o número de pescadores naquelas praias. Um dia o francês conseguiu comprar uma canoa e, como tudo indicava, fora para a ilha.

Por um fragmento de carta encontrado no seu tugúrio e que o fogo não consumira, chegaram à conclusão que ele  viera para resgatar o tesouro. A história é longa e consta ter sido a caixa encontrada na ilha, porém vazia. Do jovem nem sinal.

Esta é uma das histórias. Outras existem e sustentam a Presença do tesouro, intacto e avaramente custodiado pelos riscos mortais que o cercam.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

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