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O Tesouro dos Jesuítas – Por Adelpho Monjardim

Palácio Anchieta e Fonte

Entre nós a Companhia de Jesus é a responsável por grande parte das lendas sobre tesouros ocultos; histórias que bolem com a imaginação, deixando o fosforicar inquieto de ansiosas interrogações. Seria rica a Companhia de Jesus? Verdade que catequizaram índios para explorar as riquezas que jaziam no seio das matas? A pergunta faz sentido e tem lógica, pois sabemos que para os índios aquelas riquezas nada significavam; fácil, portanto, aos catequistas induzi-los a carreá-las para as suas arcas. Expulsos, onde foram parar as suas alfaias? Sabe-se que muito ouro do Brasil fora enviado para Roma, pela Companhia de Jesus.

A história dá o que pensar e o povo não dorme. Muitas são as lendas que por aqui circulam ligadas aos homens da sotaina, que, segundo pensam, deixaram à sua passagem largo rastro de tesouros.

A expulsão pegou-os de surpresa. Da torre da Casa Provincial de Vitória, também Igreja de São Thiago, vigiavam a barra, suspeitosos de que mais cedo ou mais tarde chegaria o navio com a ordem fatal.

Por uma ensolarada manhã alvejou na barra o velame de um barco português. Da atalaia Frei Vicente deu o alarme e pronto, como se o chão os tivesse tragado, os frades desapareceram, deixando a Casa vazia.

Rezam as crônicas que fugiram por uma passagem subterrânea, que ia sair no antigo Porto dos Padres. O propalado subterrâneo jamais existiu, porque a Cidade Alta, onde foi construída a Casa Provincial (Hoje Palácio Anchieta), é pura e duríssima rocha viva, continuação das cumeadas graníticas de Argolas, na margem oposta da baía. A lenda se desfez quando rebaixado o piso da Avenida Jerônimo Monteiro, no trecho assinalado para passagem do subterrâneo. Rebentadas toneladas de pedras dele não se encontrou o mínimo vestígio. E como poderiam os jesuítas perfurar a rocha se desconheciam a dinamite?

Sem os rocambolescos artifícios de passagens secretas os jesuítas tiveram tempo suficiente para a fuga e preservar as alfaias se realmente as possuíam tão valiosas. Como nos tesouros do Castelo, no Rio de Janeiro, falava-se também aqui nos doze Apóstolos de ouro, tamanho natural, e num carneiro de ouro, além de pedras preciosas, turíbulos, sacrários e demais pertences do culto, todos em metal nobre. Havia muito dinheiro em moedas de ouro e prata. Tudo, segundo os relatos, fora carregado para a Fazenda de Precembape, propriedade jesuítica, em Caçaroca, no atual Município de Viana.

Para credenciar a lenda, constava que na demolição de uma parede da Igreja de Santa Isabel, em Viana, fora encontrado, em nicho secreto, misterioso livro com o roteiro de todos os tesouros. Para maior cunho de verdade o livro encontrava-se em poder do Dr. Pessanha Póvoa, escritor e político influente na época.

Com o mesmo vigor a história chegou aos nossos dias e não foram poucos os que se entregaram ao ímprobo labor de sua procura. Alguns enlouqueceram e outros se arruinaram gastando legítimas fortunas em riquezas hipotéticas.

Certo pároco afirmava ter encontrado, nos porões do Convento da Penha, o famoso roteiro. Baseado em relato que nos forneceu, escrevemos pequena novela. O assunto despertou tanto interesse que um senhor, estrangeiro, nos procurou para pôr à nossa disposição forte quantia a fim de rastrearmos o tesouro.

Desde que Precembape fora abandonada pelos jesuítas, tudo ali se arruinou. O mato invadiu o leito dos cursos d'água, transformando a região num pantanal.

Revivendo a lenda, um agrimensor do Estado, trabalhando naquelas terras, afirmou que ao sondar o terreno, junto de umas ruínas, a sonda chocou-se com uma coisa dura, consistente, que deixou resíduos como cimento. Verificou tratar-se de uma argamassa feita com óleo de peixe, então em uso pelos antigos, e tão forte quanto o cimento.

A lenda voltou à baila. Situava-se ali a entrada do famoso poço que conduzia ao rico subterrâneo, adrede preparado, pois a expulsão era esperada, assim como a extinção da Companhia, consumada em 1773, sob o Papa Clemente XIV.

Verdade ou não, o roteiro hoje de nada valeria, tão radical a transformação topográfica local. Verdade ou mentira, a interrogação permanece.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

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