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Quando os Franciscanos e os Beneditinos chegaram - Por Mário Freire

Primeira capela no alto da Penha. Pictorio Imaginativo - Desenho: Luiza Celina Valderato

Antes que os jesuítas houvessem, no Espírito Santo quinhentista, desenvolvido o devotado, trabalho de catequese, destacou-se, nesse penoso mister, o devotamento de um modesto irmão leigo franciscano : –  Frei Pedro Palácios. Chegando à Capitania em 1558, ergueu, em uma colina de Vila Velha, uma pequena ermida a São Francisco; e iniciou mesmo a construção de uma capela, no alto pedregoso da colina. À frente dessa construção havia — "um alpendre ou copiarzinho, junto ao portal que entra para ela"; — nesse lugar, depois de várias idas ao sertão, foi em 1570 sepultado o humilde franciscano, como pedira.

"A canela é de abobada pequena, mas de obra graciosa e bem acabada" — descrevia Cardim, em 1585, quando Anchieta também já a celebrava — visível ao longe, do mar, ao alto, muito visitada, principalmente por navegantes em romaria.

Voltara a Capitania a prosperar, contando, nesse ano, seis engenhos de açúcar, os quais atraiam anualmente três ou quatro embarcações.

Aberto o ciclo capixaba das famosas "entradas" em procura de ouro ou de pedras altamente cobiçadas, Martim Carvalho buscou devassar o Cricaré, enquanto Sebastião Fernandes Tourinho, outro afamado sertanista, que se supõe nascido no Espírito Santo, preferiu o rio Doce. Foi igualmente o rio preferido por Antonio Dias Adôrno, que, explorando também as bacias do Mucuri e do Jequitinhonha, trouxe afinal um punhado de pedras faiscantes. Daí, a maravilhosa lenda da Serra das Esmeraldas, tão longamente sonhada... Sobre antigas pegadas desses aventurosos pioneiros, há quem com razão observe, obedecendo a imposições de duras contingências geográficas — estendem-se, em grande parte, os dormentes da estrada para Minas...

Multiplicavam-se, ao mesmo tempo, as "entradas" dos jesuítas, que iam "a mais de cem léguas, por caminhos mui àsperos e não seguidos", buscar indígenas, aldeados depois no litoral: para esses modestos aldeamentos, Anchieta, que no Espírito Santo via a terra mais acomodada para conversões, escreveu até autos e diálogos, de fundo religioso.

O trabalho persistente dos jesuítas cedo permitiu-lhes contar com boa casa e igreja, além de um pomar, pastagens e desenvolvidos rebanhos. Mantinham em aldeias mais de 150 famílias de europeus e 4.000 indígenas. Esforçavam-se por desenvolver os trabalhos de fiação, instruindo tecelões práticos. Assim fizeram o Espírito Santo, já recomendado por suas madeiras e apreciadas drogas medicinais, ser também considerado rico de algodões...

A semente que Pedro Palácios lançara, no Espírito Santo, não podia deixar de frutificar: suas obras admiráveis a cada passo o relembravam. Por isso, no governo do segundo Vasco Coutinho, quando a Capitania recomeçou a prosperar e teve novamente funcionando meia dúzia de engenhos de açúcar, graças, em parte, à redistribuição das primitivas sesmarias, antes sem culturas, esse Governador, sabendo dos resultados que o trabalho dos franciscanos estava proporcionando Às Capitanias do norte, solicitou ao Custódio a vinda  às Capitanias de alguns para o Espírito Santo. Quando os primeiros chegaram em 1589, já não, o encontraram: havia seis meses descansava esse operoso Capitão-mór sepultado, conforme dispusera em testamento, na igreja de Santiago, dos padres jesuítas.

A dar crédito ainda ao que assevera o autor do "TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL, EM 1587", morreu empobrecido, como o Fundador. Assim vira Gabriel Soares esse herdeiro e sucessor do primeiro Vasco Fernandes Coutinho: — "e seu filho, do mesmo nome, vive hoje na mesma Capitania tão necessitado que não tem mais de seu que o titulo de Capitão e Governador dela". Residia em Vila Velha, onde a viúva e sucessora no governo, D. Luiza Grimaldi ou Grimalda, hospedou o beneditino frei Damião da Fonseca e o Irmão-donato frei Basílio, quando ali aportaram em 1589. Entregou-lhes logo a própria residência, na qual esses beneditinos fundaram o mosteiro inicial de N. S. da Conceição. Fundaram outro na vila nova da Vitória, em uma sorte de terras que a Câmara lhes concedeu em 1591, próxima à fonte do Conselho e do Reguinho. E, em 1594, ainda o citado Irmão-donato requereu e obteve, em Vila Velha, o sítio denominado "Ilha", que fora também da Governadora.

 

Fonte: A Capitania do Espírito Santo, ano 1945
Autor: Mário Aristides Freire
Compilação: Walter de Aguiar Filho/ maio/2015

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