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Rosa Helena Schorling – A primeira pára-quedista do Brasil (Por Elmo Elton)

Rosa Helena Schorling, com seus equipamentos de paraquedista, em foto de 1951 - Fonte: IHGES

Rosa Helena Schorling Albuquerque, filha de João Ricardo Hermann Schorling (alemão) e de Rosa Wlasak Schorling (austríaca), nasceu em 15 de Julho de 1919, em São Paulo de Biriricas, município de Cariacica, no Espírito Santo.

Em 19 de Novembro de 1919, aos quatro meses de idade, passou a residir, com os pais, nas proximidades de Campinho, município de Domingos Martins, no mesmo Estado, onde vive até hoje.

De 1929 a 1936, estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (Colégio do Carmo), em Vitória, obtendo diploma de professora, após ter feito, ali, “cursos de pintura, datilografia, estenografia, economia e prendas domésticas”.

Durante as férias escolares, em casa, “gozava de todas as regalias: aprendeu a nadar em piscina, a patinar, a andar de bicicleta, motocicleta, automóvel e caminhão. A experiência em automóvel foi em um Oppel importado, de fabricação alemã, ano 1898, com direção do lado direito, câmbio e freio do lado externo”.

Em 29 de Março de 1932, com apenas doze anos de idade, após exames teóricos e práticos, recebeu, em Vitória, a carteira de motorista profissional, matrícula 1729, assinada pelo Chefe de Polícia Dr. Antônio Honório Fonseca e Castro Júnior, sendo, assim a primeira mulher no Espírito Santo, quiçá no Brasil, a conseguir tal documento.

Em 11 de Junho de 1933, tirou a carteira de motociclista. Atualmente, possui qualificação de motorista classe D.

Entre os anos de 1932/1933 sentiu despertado seu interesse pela aviação, isto quando viu, do pátio do colégio onde era interna, “um avião a baixa altura, fazendo demonstrações, era o DOX, aeronave alemã de seis motores”.

Logo depois, mostrou ao pai desejo de ser aviadora, mesmo sabendo que os aviões eram, até então, dirigidos por homens. João Ricardo, que fora mestre de balões na Alemanha, prometeu atender à sua pretensão, mas só depois que a filha obtivesse o diploma de professora.

Em 16 de Dezembro de 1937, já diplomada, embarca, em Vitória, para o Rio de Janeiro, onde, a 15 do mesmo mês, toma contato direto com um avião, em voo realizado no Aeroporto Santos Dumont, embora, anos antes, tivesse conhecido, em companhia do então secretário de Agricultura do seu Estado, Dr. Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, um hidroavião no ancoradouro de Santo Antônio, em Vitória.

Em 14 de Junho de 1939, o Aero-Clube do Brasil lhe confere o brevê de piloto-aviadora, sob o nº 505, logo se inscreve na Federação Aeronáutica Internacional, tornando-se, então, a primeira aviadora Espírito-Santense e a oitava do Brasil. As sete primeiras brevetadas foram: Tereza Marzo, Anésia Pinheiro Machado, Adda Leda Rogato, Madeleine Bureau Roincé, Cecília Bolognani, Maria Aparecida Rezende e Floripes do Prado.

Após terminar seu curso de pilotagem, seu noivo, Leonardo de Freitas Valle, não quer que ela continue na aviação, fazendo-a retornar ao sítio Rosenhausen, em Campinho, para que preparasse o enxoval de casamento. Trabalha, ali, por poucos meses, no Grupo Escolar Teófilo Paulino, quando, em Agosto de 1940 recebe do então presidente do Aero-Clube do Brasil, Coronel Ivo Borges, e de seu ex-instrutor, Comandante Gratuliano Ximenes de Oliveira, também de colegas aviadoras, convite para participar das provas aéreas femininas, que seriam realizadas, pela primeira vez no Brasil, durante os festejos da Semana da Asa.

Em 12 de Setembro de 1940, Rosa Helena segue, novamente, via marítima, para o Rio, como representante do Aero-Clube do Espírito Santo. Leva consigo um memorial a ser entregue ao Presidente da República, o que fez, solicitando um avião para o mesmo clube.

Durante os treinamentos antecipados para as provas que seriam realizadas naquela semana (era seu instrutor o então Comandante Rui da Costa Gama, genro do Presidente Getúlio Vargas), encontra-se com o noivo que a põe em prova, a escolha do avião ou dele. Rosa opta pelo avião.

Em 26 de Outubro do mesmo ano, participa com mais seis concorrentes das provas aéreas femininas ‘Cruzeiro do Sul’, conquistando o primeiro lugar. Recebe, então, a taça Rosa Trophy pela Women’s International Association of Aeronautics, um cronômetro de ouro, horas de voo, além de outros prêmios valiosos.

No programa das provas da Semana da Asa, estabeleceu-se que haveria salto de pára-quedas para voluntários. Rosa logo se inscreve à demonstração livre e espontânea, prova que realiza com êxito absoluto, no dia 8 de Novembro de 1940 (Semana do Estado Novo). Esse primeiro salto de pára-quedas por mulher brasileira ela o fez de uma altura de mil metros, na Baía de Guanabara, de um avião Belanca (asa alta). O pára-quedas usado era de fabricação Switlich, 24 pés, de assento (U.S.A.). Assistiram à essa demonstração milhares de pessoas, altas autoridades civis, militares e eclesiásticos, dentre as quais o Comandante Isaac Cunha, chefe da Casa Militar da Presidência da República, e seu pai, de quem obtivera a indispensável autorização para realizar tal proeza. A imprensa de todo o país lhe tece os maiores louvores, com amplas reportagens ilustradas, seu retrato estampado em capas de nossas principais revistas.

Areobaldo Lellis, então dos mais acatados jornalistas espírito-santenses, enaltecendo, assim como fizeram outros conterrâneos, o pioneirismo de seu salto, conclui longo artigo com estas palavras: “...Rosa Helena, vencedora dos ares, que desceste lentamente dos céus brasileiros como fúlgida estrela que se desprendesse da constelação do Cruzeiro do Sul, para surgires nas águas bravias do oceano à semelhança das nereidas dominadoras dos mares, eu te exalto e te saúdo na grandeza e no resplendor de teu feito heroico, em que, cobrindo-te de glória, cobriste de glória o teu Espírito Santo e o teu povo”. (A Gazeta, edição de 15 de Novembro de 1940).

Em 1949, isto é, nove anos após seu pioneiro salto de pára-quedas, era fundada a Escola de Pára-quedistas do Exército – Núcleo Aero-Terrestre, em Deodoro, no Rio de Janeiro. Rosa Helena, logo inscrita nesse Núcleo, depois de oito meses de treinamentos intensivos (teorias e práticas) com militares, preenchidas todas as formalidades então exigidas, recebe seu brevê de pára-quedista em 29 de Outubro de 1950.

Durante o tempo em que esteve naquela Escola, realizou cento e trinta e seis saltos de treinamento, das mais diversas modalidades, incluindo saltos noturnos, com demonstrações, inclusive, nas praias do Flamengo e Copacabana, e, já brevetada, em solenidades cívicas, em vários Estados, também no Paraguai.

Em 29 de Junho de 1951, efetuou espetacular salto em Cachoeiro de Itapemirim (ES), quando da inauguração do campo de aviação local, ali presentes o Governador do Estado, Dr. Jones dos Santos Neves, e Dr. Danton Bastos, presidente do Tribunal de Justiça, entre demais autoridades.

Em 15 de Janeiro de 1955, data da morte de seu pai, assassinado em Campinho (João Ricardo era pessoa boníssima, culta, mesmo artista, engenheiro, relojoeiro e notável perito em montagem e conserto de armas), Rosa Helena retorna, definitivamente, para o Sítio Rosenhausen, ficando aí, já que filha única, junto de sua genitora. Nesse mesmo ano, recomeçou a lecionar no Grupo Escolar Teófilo Paulino, ocupando, a partir de 19 de Fevereiro de 1963, por um período de quatro anos, o cargo de diretora do citado educandário. Mais tarde, foi nomeada delegada de ensino.

Casou-se em 12 de Junho de 1960 com o tenente reformado do Exército, Raymundo Mendes Albuquerque, de quem teve um filho (João Raymundo), falecido em 6 de Janeiro de 1962, com apenas cinco meses de idade. A senhora Rosa Wlasak Schorling, sua mãe, faleceu, aos oitenta e seis anos, em 24 de Janeiro de 1978.

Atualmente, só, completamente só, sem parentes e ninguém, a aviadora “revive com saudade os bons momentos de sua vida, revendo fotografias, relendo recortes de jornais e revistas, dos quais possui centenas, entre as grossas paredes do casarão secular, que transformou em museu privativo, no Sítio Rosenhausen”.

Rosa Helena Schorling Albuquerque, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, é nome de merecida projeção nos meios desportistas e culturais de seu Estado.

 

Novembro/1981.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 35, ano 1984
Autor: Por: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2013 

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